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Mostrando postagens de fevereiro 20, 2011

Uma imagem para animar o fim de semana

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Vinda diretamente do Ha-Ha Stop . Especialmente relevante para quem passou a infância sendo arrastado para a missa e para o catecismo, e que teve algumas discussões tensas para escapar do crisma... E reflitamos que esta é uma liberdade de que nossos candidatos a cargo eletivo ainda não desfrutam, infelizmente (embora desfrutem de tantas outras que talvez não sintam falta dela.)

Que tal trazer um pedaço de asteroide para a Terra?

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A Agência Espacial Europeia anunciou nesta sexta-feira quarto candidatos para uma missão que será lançada no período de 2020 a 2022. Essas quatro são as finalistas de uma lista original de 47, e apenas uma será efetivamente implantada. Há algum tempo, vinha sendo feito um lobby em defesa de uma missão para os gigantes gelados do sistema solar (Netuno e Urano), mas nenhuma das quatro tem esse perfil. Parafraseando Newton, como espécie ainda somos crianças colecionando conchinhas nas praias do Desconhecido. O problema é que agora temos uma boa ideia de onde as melhores conchas devem estar – mas não temos dinheiro para ir buscá-las todas. As missões finalistas são: Observatório de Caracterização de Exoplanetas : projeto dedicado a caracterizar a atmosfera de planetas localizados fora do sistema solar, incluindo a determinação de sua capacidade de suportar vida. Esse observatório ficaria no ponto L2, uma zona de estabilidade gravitacional localizada a 1,5 milhão de quilômetros da T

And so it ends...

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O ônibus espacial Discovery decola em sua última missão. Já tratei do fiasco geral que foi o programa  de ônibus espaciais da Nasa em outra postagem , então aqui deixo apenas uma  questão: por que a humanidade tem uma relação tão ambígua com os voos espaciais tripulados? Por um lado, as principais lideranças mundiais não parecem realmente ser capazes de levar a empreitada a sério. Por outro, também não parecem dispostas a simplesmente tirar a coisa da tomada de vez. Isso me lembra um dos paradoxos de Mr. Pond, um dos vários detetives-filósofos criados por G.K. Chesterton: "Uma coisa que vale a pena fazer merece ser malfeita". É o paradoxo que define a exploração do espaço.

AAAS premia Elizabeth Loftus, pioneira da 'falsa memória'

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Esta informação é quentinha: a psicóloga Elizabeth Loftus foi agraciada com o Prêmio Liberdade e Responsabilidade Científica da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS). Eu geralmente prefiro espaçar as postagens no blog ao longo do dia, mas o prêmio da Dra. Loftus é uma notícia boa demais para esperar. Primeiro, um pouco de background: nas décadas de 80 e 90, os Estados Unidos viveram uma epidemia de "recuperação de memória" de abusos sofridos na infância, com pacientes de psicólogos e de psicoterapeutas  subitamente recordando terem sido vítimas de violência -- geralmente, sexual -- por parte de pais, professores ou outros adultos. Inúmeros processos judiciais foram abertos, e famílias se viram destruídas pelas "lembranças" ressurgidas. O que Elizabeth Loftus fez foi demonstrar que era perfeitamente possível que as memórias fossem falsas e estivessem sendo criadas e implantadas na mente dos pacientes pelos próprios terapeutas . (Nota: é curio

Big Pharma e os testes clínicos

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A melhor forma de uma proposta de tratamento de saúde ganhar alguma respeitabilidade científica é por meio de um teste clínico randomizado controlado. O nome pode parecer complexo, mas o procedimento é fácil de descrever: "Controlado" significa que o tratamento em estudo precisa ser comparado a alguma outra coisa -- a outro tratamento, por exemplo, ou a simplesmente não fazer nada (já que muitas doenças acabam desaparecendo por conta própria). Já "randomizado" implica que as pessoas que tomam parte no teste são distribuídas ao acaso entre o grupo que receberá o tratamento e o grupo de controle. Isso é feito para evitar que a comparação final dos resultados dos dois grupos seja injusta -- por exemplo, com apenas doentes terminais no grupo de teste e apenas jovens nos estágios iniciais da enfermidade no grupo de controle. Esse procedimento é ditado por nada além de simples bom-senso e, como tudo que se baseia em bom-senso,  foi descoberto, aplicado, esquecido e

Poder da oração. Poder?

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Rezar pode ter uma grande utilidade subjetiva -- ajuda a acalmar as emoções, focalizar a mente, reduzir o estresse. Mas, até aí, cantarolar, contar devagar até dez, meditar, ou ler as tirinhas do jornal ou respirar fundo também têm o mesmo efeito.  Mas não é esse efeito prosaico (ainda que importante) o mais fervorosamente anunciado pela indústria da fé. Os verdadeiros efeitos da oração dever iam ser muito mais dramáticos. Como disse Jesus: "Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto". Mas será que o produto corresponde à propaganda? A primeira tentativa científica de avaliar o poder da prece foi empreendida pelo britânico Francis Galton e publicada em 1872. Em seu artigo Statistical Inquiries into the Efficacy of Prayer   (“Investigações Estatísticas da Eficácia da Prece”), ele oferece uma série de sugestões sobre como validar a ideia de que orações são úteis. O plano geral, adotado até hoje em vários campos da pesquisa científica, é comparar a po

E se a lei da inércia estiver errada?

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O importante periódico científico Physical Review Letters deve publicar em breve um artigo que apresenta dados experimentais que militam a favor de uma teoria hoje em dia pouco favorecida pela comunidade, a Dinâmica Newtoniana Modificada, ou "Mond" (pela sigla em inglês). Basicamente, essa teoria postula que, em escalas muito específicas, a equação newtoniana F = m*a não corresponde exatamente aos fatos, e precisa receber um fator de correção. Proposta como uma alternativa à teoria da matéria escura, a Mond (assim como a matéria escura) tenta explicar como as galáxias se mantêm coesas girando com a velocidade que giram, já que a massa visível que contêm não deveria ser suficiente para impedir que se despedaçassem. Os propositores da Mond (seu principal defensor é o israelense Moti Milgrom) destacam o fato de que não é absolutamente necessário apontar para uma falta de massa: talvez as leis que usamos para calcular as forças envolvidas estejam erradas! Trata-se de uma

Livro proibido de Galileu faz aniversário

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Via Twitter, o @PhysicsNews informa que hoje é aniversário da publicação de Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo , de Galileu Galilei. Lançado em  fevereiro de1632 (ou seja, há 379 anos), o livro teve sua distribuição sustada pelo papa Urbano VIII alguns meses mais tarde, e foi posto no índice de obras proibidas da Igreja Católica em 1633, da onde só foi removido em 1835. É nesse livro que Galileu apresenta seus argumentos a favor do sistema heliocêntrico, num diálogo entre Salviati (filósofo seguidor de Copérnico), Simplicio (filósofo seguidor de Aristóteles e Ptolomeu) e Sagredo (um espectador neutro). Por conta desse livro, Galileu foi condenado por heresia e mantido em prisão domiciliar até o fim da vida. Algumas tentativas de fazer a Igreja parecer um pouco menos obscurantista no episódio tentam jogar a culpa do desenlace sobre Galileu, que teria sido pouco político ao construir o personagem de Simplicio -- nessa ótica, a condenação do livro e do autor não seria u

Por que deveria haver nada em lugar de alguma coisa?

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Se um dia eu fosse criar um teste de personalidade baseado em perguntas filosóficas de múltipla escolha, o primeiro item provavelmente seria: Você acha que a questão "por que existe alguma coisa em vez de nada?" é: (A) Um intrigante problema,  para o qual talvez não haja resposta; (B)  Um sinal da existência de um criador necessário, isto é, Deus; (C) Fruto de de um raciocínio circular, e que não requer resposta; (D) Algo que as pesquisas sobre Física teórica resolverão um dia. Minha resposta particular seria "c" (com uma certa simpatia por "d"), mas imagino que isso me põe num grupo francamente minoritário, então me explico. A questão, da forma como foi articulada por Leibniz em seu argumento da razão suficiente , me parece circular porque ela pressupõe (sem demonstrar) a premissa de que o "nada" é um estado possível, uma alternativa válida a "alguma coisa". Por exemplo, a questão "por que a chuva cai em vez de subir" p

108 meses ou sete anos? Enganados pelas unidades

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O que é mais vantajoso: uma ampliação da garantia de sua máquina de lavar de 84 para 108 meses ou de sete para nove anos? Parando para fazer a conta, dá para ver que se trata da mesmíssima coisa: uma ampliação de 24 meses, ou dois anos. (Incidentalmente, 84 meses equivalem a sete anos, e 108, a nove). No entanto, de acordo com estudo publicado do site do Journal of Consumer Research -- e chamado How to Make a 39% Increase Look Bigger ("Como Fazer um Aumento de 39% Parecer Maior") -- a maioria das pessoas vê mais vantagem quando a ampliação de garantia é expressa em meses, não em anos. Os autores do trabalho, de instituições belgas e holandesas, encontraram ainda outros exemplos do mesmo efeito: as pessoas tendem a achar que uma nota de 95 numa escala de 0 a 100 é maior que uma nota de 9,5 de 0 a 10, e a evitar chocolates quando o conteúdo energético (e, por tabela, o poder engordativo) é expresso em quilojoules (1.029 numa barra de Twix) do que na familiar escala de c

Kafka e eu: a saga do seguro desemprego

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Hoje, cerca de 90 dias após ter sido demitido, recebi a primeira parcela do meu seguro-desemprego. A trajetória entre o bilhete azul (que, estranhamente, não era azul, mas uma folha de sulfite comum) e este momento é tão engraçada -- numa perspectiva, digamos, filosófica -- que tomo a liberdade de oferecer uma pequena crônica a respeito. Enfim: meu último dia "oficial" como assalariado foi 7 de dezembro. O fato de o seguro-desemprego estar saindo em 21 de fevereiro traz consigo a pergunta, e se eu realmente estivesse precisando do dinheiro? Com escola dos filhos para pagar e dívidas no banco? Passando fome? A saga tem início no RH (ou "DP", como preferem as telefonistas não-escoladas em novilíngua corporativa). Para solicitar o seguro, é preciso um documento emitido pela empresa, o termo de rescisão -- um papel  que diz que você não trabalha mais lá. Curiosamente, o bilhete azul/sulfite comum não serve. Oh, não senhor. É preciso um papel oficial. Este só se rec

Voo final do Discovery marcado. De novo.

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A Nasa decidiu marcar para a próxima quinta-feira o lançamento derradeiro do ônibus espacial Discovery. Dá para acompanhar a contagem regressiva online neste link . Para quem não se lembra, diretriz dada pelo então presidente George W. Bush em 2004 determinava que a frota de ônibus espaciais dos EUA iria parar de voar em 2010. O Endeavour já fez sua última missão oficial, mas ainda falta aposentar o Discovery e o Atlantis (Challenger e Columbia foram destruídos). O voo final do Atlantis acabou adiado de 2010 para junho deste ano por conta de mudanças no equipamento científico que a nave terá de levar à Estação Espacial Internacional (ISS), mas o atraso na aposentadoria do Discovery tem uma causa mais embaraçosa: problemas na segurança do tanque de combustível da nave. De fato, a sucessão de adiamentos na partida derradeira do Discovery é uma espécie de resumo do fracasso do programa de ônibus espaciais. Vendidos como os veículos que tornariam o acesso à órbita terrestre fácil