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Mostrando postagens de fevereiro 12, 2012

Dilma, mariologia e o antropólogo de Marte

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Só uma breve nota pré-carnavalesca: no rastro da gritaria histérica contra a ministra Eleonora Menicucci (detalhes na postagem, abaixo), alguns comentaristas "neocons" resolveram tirar umas casquinhas da presidente Dilma, que num programa do Datena, ainda quando candidata, referiu-se a Nossa Senhora como "deusa" e se declarou devota de Nossa Senhora "de uma forma geral". Que a presidente merece ser trollada por isso, não tenho a menor dúvida. Primeiro, por condescender em jogar para  a galera desse jeito; segundo, por fazê-lo tão mal. Curiosamente, no entanto, a mariologia dilmística tem uma alta plausibilidade intuitiva e, mais do que isso, importantes precedentes históricos. A questão de até que ponto o catolicismo pode ser considerado um sistema monoteísta, por exemplo, não é tão clara quanto os próprios católicos gostam de acreditar. A crítica de que a devoção praticada pelos fiéis da Igreja Católica seria politeísta de facto (embora se declare

Alô, alô, Estado laico, câmbio, tem alguém aí?

Faz alguns anos, vi um carro com placa oficial -- de alguma Casa Legislativa, fosse Assembleia estadual ou Câmara de vereadores -- na Marginal Tietê com um adesivo do peixe cristão no para-choque traseiro. Comecei a esbravejar: o carro era oficial, pago com dinheiro público, não podia ser usado para propaganda religiosa! Minha mulher me olhou de soslaio e disse: "Poxa, larga a mão de ser chato". Estava eu sendo chato? Suponho que sim. Principalmente com as pessoas que estavam perto de mim, que certamente preferiam ouvir o rádio ou conversar sobre o escândalo político da vez a engolir minha diatribe. Se eu realmente quisesse fazer algo a respeito, poderia simplesmente anotar placa, modelo, etc., e fazer uma denúncia formal à ouvidoria competente, ou ao Ministério Público. Mas agora, em meio ao furor histérico dos religiosos em torno da nomeação de Eleonora Menicucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, eu me lembro de quando, como e por qual motivo fiquei ch

Brincando de Wolfram Pro: aquecimento global

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O serviço Wolfram Alpha abriu um período de 40 dias de testes grátis de sua versão "Pro", que traz ferramentas de análise de dados -- dá para subir fotos, textos, arquivos XLS, etc., e mandar as ferramentas do Wolfram virar seus conteúdos de um lado para o outro e de cabeça para baixo. Brincando um pouco com o sistema, confesso que fiquei meio decepcionado quando vi que, ao analisar um arquivo .doc ou .pdf, por exemplo, o sistema traz uma série de dados sobre o código -- qual o hexadecimal mais usado, por exemplo -- mas não uma análise do texto (palavra mais frequente, número de parágrafos, grupos de palavras mais usados, etc.). O uso de arquivos Excel também é meio ranzinza. Mas se você tiver um conjunto de dados brutos -- isto é, um arquivo txt com uma longa série de números, por exemplo -- o negócio funciona, e funciona bem. Para bem orgulho, consegui criar uma sequência de dez dígitos que, segundo o Wolfram Pro, correspondia a uma distribuição normal com 95% de cert

As marcas do apocalipse, de ontem e de hoje

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"Literatura apocalíptica" é um gênero que se tornou bastante popular nos escritos hebraicos a partir do exílio na Babilônia, iniciado em 587 AEC, depois que o Reino de Judá foi a pique. Trata-se de uma forma literária, ao menos do ponto de vista moral e psicológico, especialmente desprezível, na medida em que cumpre a função mesquinha de satisfazer, por meio da fantasia, o sadismo dos ressentidos. O texto apocalíptico é, em geral, o produto de um oprimido que sonha em rasgar a jugular e beber o sangue do opressor, mas não vê oportunidade para tanto. Logo, espera que Deus se enfeze e acabe com a palhaçada de uma vez por todas, de preferência com muito choro, ranger de dentes e requintes diversos de crueldade. Parafraseando as categorias nietzschenianas de moral do senhor e moral do escravo , o apocalipse é uma manifestação desenfreada do id do escravo. A paixão por esse tipo de vendetta escatológica passou dos judeus oprimidos para os cristãos perseguidos, e exempl