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Mostrando postagens de novembro 11, 2012

'Deus seja louvado', a FAQ

Já escrevi, mais longamente, sobre a questão da laicidade do Estado e por que considero que a retirada de símbolos religiosos de repartições públicas, e da frase esdrúxula "Deus seja louvado" do papel-moeda, deveria ser um gesto tão óbvio quanto abrir um guarda-chuva quando começa a chover. Quem quiser conhecer minhas razões, em detalhe, pode encontrá-las aqui . No entanto, desde que o MPF decidiu, há alguns dias, se mexer para que o óbvio se concretize, uma série de argumentos pré-fabricados começou a circular contra a iniciativa, então resolvi deixar, para quem quiser uma fonte de consulta rápida, algumas respostas prontas para o mar de clichês falaciosos em que o debate ameaça soçobrar. Vamos lá: Tirar a frase do dinheiro? É falta do que fazer! Essa objeção é, de fato, a minha favorita, basicamente porque embute uma admissão de culpa: quem a usa sabe que, num Estado laico, documentos oficiais e produtos criados com recursos públicos não poderiam conter frases de e

50.000 acessos em 24 horas

A postagem de segunda-feira, que usa um artigo publicado na Veja para ilustrar um ponto de (falta de) lógica na construção de texto opinativo, obteve, até o início da noite desta terça, mais de 50.000 acessos, muitos vindos de links publicados no KibeLoco, na revista Galileu e, também, das redes sociais -- principalmente Facebook e Twitter. Dada que a média mensal de acessos ao blog girava, até o início desta semana, em 10.000, o salto está longe de ser trivial. Não tenho, claro, ilusões quanto à sustentabilidade desse pico de popularidade. Semana que vem, provavelmente, estarei de volta aos 300/500 leitores diários -- ou menos, por causa do feriado. Só espero que parte da multidão súbita e fugidia que anda passando por aqui tenha se sentido estimulada a comprar alguma das obras anunciadas na seção "livros que escrevi". Se 0,1% dos visitantes tiver feito isso, terei vendido 50 exemplares, o que, para mim, é um colosso. Numa toada menos mercenária, é impressionante ter t

Dinamarca desiste de imposto sobre gordura saturada

Certa vez perguntei a um grupo de ganhadores do Nobel de Economia, todos especialistas em Teoria dos Jogos, qual a base de sua ciência -- a resposta que obtive foi: "o ser humano responde a incentivos". É uma constatação um tanto quanto óbvia, mas  que dá margem a resultados muitas vezes surpreendentes -- entre outros motivos porque, não raro, é difícil saber quais são, e onde estão, os incentivos relevantes: por exemplo, a criminalização da venda da maconha por um lado desincentiva o tráfico (já que embute uma ameaça de punição), mas por outro o incentiva (já que eleva preços e lucros). Uma das consequências dessa lei dos incentivos é o uso de dinheiro para controlar comportamentos. Muita gente trabalha em empregos que detesta por causa do salário; restaurantes e casas de eventos esnobes usam os preços para "selecionar" o público. E governos usam a política de impostos para estimular ou reprimir certos tipos de consumo (por exemplo, cortando o IPI do carros ou el

A falácia da falsa discriminação

Muita coisa já foi escrita sobre o artigo de JR Guzzo , publicado na edição desta semana da revista Veja , argumentando, em linhas gerais, que as estratégias e demandas do movimento gay acabam atraindo sobre os homossexuais exatamente o mesmo opróbio e a mesma antipatia do público que o movimento deveria lutar para destruir. Não há nada de obviamente errado (ou certo) nessa proposição. Supondo que Guzzo esteja correto, não seria a primeira vez que, no afã de combater uma injustiça, um grupo acaba perpetrando outras. Mas a proposição, em si, deve cair ou se sustentar com base em evidências (que o artigo não apresenta, exceto por um dois casos em que o adjetivo "homofóbico" parece ter sido usado de modo injusto) e argumentos, e é na parte argumentativa que eu gostaria de me concentrar, porque tenho a impressão de que o preclaro articulista inventou um novo tipo de falácia. Quem acompanha o blog sabe que ciência, lógica e retórica são temas caros por aqui, então, antes de en