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Mostrando postagens de maio 7, 2017

Centenário de Fátima: considerações

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Este sábado, 13 de maio, além de ser véspera do Dia das Mães, marca o centenário da primeira suposta aparição de Maria em Fátima. Embora essa aparição inicial tenha tido pouca repercussão pública na época (o famoso "milagre do Sol" só correria meses mais tarde, em outubro) foi ela que desencadeou o que depois viria a ser uma comoção popular em Portugal. Espera-se que dois dos três visionários sejam canonizados, como parte das celebrações deste centenário.A imprensa brasileira está batendo bumbo com o fato de que um dos "milagres" que tornou a canonização possível envolveu compatriotas, mas já escrevi sobre como "milagres" que levam à canonização de figuras populares são quase que estatisticamente inevitáveis . Em meio ao fervor religioso que deve cercar a festa, é improvável que a mídia tradicional abra espaço para a discussão antropológica, política e científica do fenômeno. Então, tomo a liberdade de fazê-lo aqui. A primeira coisa importante é pôr

Olha eu no Pint of Science!

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A escritora Ursula K. Le Guin certa vez disse que, para o autor de ficção científica, "o futuro é uma metáfora". Já para o inventor da expressão "ficção científica", o escritor e editor Hugo Gernsback, uma das principais funções do gênero era inspirar engenheiros e cientistas, dando-lhes ideias para serem executadas no futuro. Esse foco no desenvolvimento técnico talvez ajude a explicar por que tantas aventuras passadas milhares de anos no futuro reproduzem estruturas sociais dos anos 30. Ao longo do século 20, milhares de contos, novelas e romances previram coisas a colonização do Sistema Solar, o Holocausto Nuclear ou a conquista da Terra por alienígenas -- mas apenas uma história, publicada em 1946 e hoje quase esquecida, previu não só a internet como os serviços de streaming, e também os dilemas éticos envolvendo privacidade e liberdade de informação que enfrentamos hoje. Afinal, qual a relação entre a ficção científica e o futuro? Na noite da próxima t

Design Inteligente é propaganda, não ciência

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Bom, a esta altura acho que todo mundo já viu ou ouviu falar da notícia, publicada na Folha de S. Paulo , de que a Universidade Presbiteriana Mackenzie formou uma parceria com Discovery Institute dos Estados Unidos, famoso (ou infame) por desenvolver propaganda religiosa disfarçada de ciência, a fim de trabalhar na promoção da "teoria" do Design Inteligente. A parceria tem um site, que pode ser acessado aqui . O texto de abertura -- "(...) promove estudos científicos focados em complexidade e informação na busca de evidências que apontem para a ação de processos naturais ou design inteligente na natureza (...)" -- sugere que a coisa toda trata de ciência, mas isso é mera cortina de fumaça: trata-se, estritamente, de uma questão de política e relações públicas. Porque o Discovery Institute é uma instituição de relações públicas. Se não acredita em mim, leia esta  declaração de missão no site dos caras. Cito: "A missão do Centro para Ciência e Cultura

Vacina anti-besteira

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Há um ditado no meio da divulgação científica que alega que uma bobagem dita em dez palavras requer pelo menos 100 para ser desmentida . Depois de minhas experiências recentes com as questões da fosfoetanolamina e da Terra plana , temo que essa avaliação seja otimista demais. A questão não é apenas que argumentos intelectualmente honestos requerem espaço para se desenvolver, e a correção de erros conceituais muitas vezes demanda longas explicações passo-a-passo para que se encontre o ponto exato em que o raciocínio caiu no acostamento: há ainda barreiras psicológicas a vencer, muitas das quais só começaram a ser identificadas recentemente. Há, por exemplo, o efeito rebote, em que bombardear uma pessoa com evidências de que ela está errada gera uma reação defensiva que reforça sua crença inicial -- aquela história de que a fé se fortalece nas adversidades tem lá sua razão de ser. Esse efeito provavelmente está ligado à estrutura em rede das crenças humanas , a constatação de que c

Os dançarinos de Conan Doyle

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Acho que ainda não comentei aqui no blog sobre a magnífica coleção de fac-símiles dos manuscritos de Sir Arthur Cona Doyle publicada pelos Baker Street Irregulars. Então, começo a reparar essa omissão logo pelo mais recente, o volume Dancing to Death , que reproduz as páginas manuscritas originais do conto "The Adventure of the Dancing Men", geralmente traduzida como "A Aventura dos Dançarinos": Este foi o quarto conto produzido por Conan Doyle para a série do Retorno de Sherlock Holmes , que ele foi basicamente subornado a escrever depois de ter dado Holmes como morto e sepultado nas cataratas de Reichenbach, na aventura do Problema Final, publicada em 1893. Dez anos mais tarde, uma oferta feita por um editor americano, de US$ 4 mil por conto (obscenos US$ 100 mil em dinheiro de hoje!), para uma série de oito a doze histórias, produziu a desejada ressurreição de Sherlock Holmes. Tendo sido a quarta história escrita, Dancing Men foi a terceira a ser public