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Mostrando postagens de setembro 18, 2011

Ciência, asteroide assassino e memória da internet

Como todo leitor deste blog sabe (ou deveria saber) a ciência é uma atividade sui-generis porque, entre outras coisas, avança e evolui em meio à crítica e à contestação. Cientistas detonam as ideias de outros cientistas. Cientistas buscam provas de que seus colegas estão errados. Cientistas duvidam de cientistas. E, eis aqui a maravilha da coisa, nada disso é considerado disruptivo, ou falta de educação, ou maus modos: é o processo normal da empreitada. Como jornalista de ciência, eu me vi pego nesse turbilhão algumas vezes, mas nenhuma tão marcante quanto a que envolveu a questão da família de asteroides Baptistina e a extinção dos dinossauros. Você provavelmente encontrou pela internet a notícia de que a sonda Wise, da Nasa, eliminou a possibilidade de o asteroide que caiu no México no fim do período Cretáceo -- aniquilando os dinossauros -- ter sido um dos fragmentos da grande rocha que originou a família Baptistina . Bom. A ideia de que o asteroide que acabou com os dinos te

Igreja Universal Mundial de Willy E. Coyote

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Sei que muitas pessoas já passaram por experiências de conversão mística ao encontrar imagens de Jesus ou Maria criadas miraculosamente em paredes, janelas, pisos, etc. Em alguns casos, essas imagens até se tornam focos de peregrinação Pois bem, nesta semana eu passei por algo semelhante. Estava caminhando na rua quando me deparei com a imagem abaixo, fixada na calçada: Óquei. Se esta não é uma representação fiel da figura de Willy E. Coyote prestes a abrir uma nova caixa de produtos Acme, eu não sei o que é. Trata-se, evidentemente, de um sinal. É difícil deduzir o que Willy deseja de nós apenas com esse ícone, criado não por mãos humanas; talvez seja apenas mais uma instância de uma revelação incremental, iniciada com o Evangelho do Coiote de Grant Morrison: O que significa que teremos de nos manter atentos, à espera de novos sinais. Aguardemos. (Óquei: a postagem toda é uma ironia. A foto do "coiote" é real, mas se trata apenas de uma mancha de água formada

Medicina no mundo das fadas

Finalmente li a matéria da Veja sobre o "tratamento espiritual" do ator Reynaldo Gianecchini. O texto tem o mérito de ser um pouco menos sensacionalista que as usuais incursões da concorrente IstoÉ no mundo das fadas (o que, de certa forma, frustra as expectativas geradas pela capa). Mas, ainda assim, não deixa de misturar alhos com bugalhos, pondo no mesmo saco, por exemplo, as recomendações estritamente pragmáticas da chamada "medicina integrativa" e um estudo sobre o poder da imposição das mãos sobre a saúde dos camundongos. Indo por partes: "medicina integrativa", como fica bem claro na entrevista que a revista faz com um especialista americano, é a ideia de que, se o paciente tem uma superstição que pode ajudá-lo a se sentir mais feliz e tranquilo, o melhor é deixar que ele a pratique de forma controlada, sob supervisão médica e sem atrapalhar o tratamento de verdade. (Esta não é a definição oficial da prática, claro; mas, por baixo de toda a terg

Mágica!

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Sábado passado, como parte da celebração do aniversário da Mais Bela e Paciente de Todas as Esposas, fui ao show do ilusionista Franklin Albuquerque , no Teatro Juca Chaves, em São Paulo. Albuquerque constrói suas rotinas em torno do mentalismo -- truques em que o artista parece adivinhar ou antecipar pensamentos da plateia.  Ele também faz objetos se moverem "com o poder da mente" e realiza truques de psicometria, quando o mágico finge captar "vibrações" de objetos para obter informações relevantes. O ponto alto do espetáculo, a meu ver, foi um desses números "psicométricos", uma variação dramática do velho "three card monte", em que é preciso adivinhar sob qual copo está uma ervilha. Não se trata, no entanto, de um espetáculo de mentalismo puro. Não há nenhum número de leitura a frio, nem de leitura muscular: por exemplo, a rotina clássica em que o mágico sai do palco enquanto um comitê de membros da plateia esconde o dinheiro da bilh