Bactéria da Peste Negra não era tão má assim

Parece a sinopse de um filme estrelado por Vincent Price, mas é um artigo publicado na Nature: cientistas conseguiram reconstituir o genoma da cepa original da bactéria Yersinia pestis, responsável pela Peste Negra do século XIV, a partir de quatro esqueletos de vítimas da epidemia desenterrados em Londres.

Se algum vilão maluco resolver usar esse genoma para criar bactérias letais e se vingar que um mundo que não o compreende e o despreza, no entanto, seu sucesso será, na melhor das hipóteses, limitado: a comparação do genoma da bactéria medieval com o da versão atual indica que "o aumento de virulência percebido durante a peste negra" não parece relacionado à conformação genética do micróbio: outros fatores, como o ambiente e a suscetibilidade das vítimas, foram mais importantes.

Agora, vamos dar uma olhada no que isso significa: uma praga que, ao longo de apenas cinco anos, eliminou de 30% a 50% da população da Europa não foi causada por um supermicróbio. A Yersinia pestis da hecatombe de 1347–1351 não é pior que a Y. pestis de hoje, ao menos até onde os autores do estudo na Nature foram capazes de deduzir. Dado o fato de que não temos carroças de cadáveres purulentos sendo arrastadas pelas ruas hoje em dia, fica a pergunta: como assim?

Os pesquisadores não vão fundo na questão em seu paper, limitando-se a enumerar outros fatores que, além da virulência do agente patogênico, podem influenciar a severidade de uma epidemia: genética da população afetada, interação com outras doenças, condições sanitárias e sociais, dinâmica da população de vetores (ratos, no caso da peste) e condições climáticas.

Resumindo, a ideia é que epidemias não só acontecem (de repente aparece um micróbio violento, ou uma população desenvolve uma vulnerabilidade genética específica) como também são feitas (pela falta de esgotos, aglomeração urbana, hábitos, cultura, mudança climática). 

Trata-se de uma constatação meio óbvia, quando paramos para pensar no assunto, mas este é um óbvio que deveríamos ter o cuidado de não perder de vista.




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