Homeopatia, acupuntura, Torresmo e Pururuca

Os leitores daqui talvez já estejam familiarizados com a tempestade surgida em torno da publicação de nota, na edição mais recente da revista Scientific American Brasil, defendendo o uso da homeopatia como uma espécie de panaceia para os males ecológicos do planeta. A reação da comunidade brasileira de leitores levou a questão a fóruns internacionais de debate sobre ciência e pseudociência, a uma manifestação pública da editora da edição original da revista, desautorizando a publicação de textos pró-homeopáticos e, por fim, a um pedido de desculpas do editor-chefe da SciAm Brasil (que, no entanto, não menciona o puxão de orelha vindo da matriz).

Se a história serve de guia, é provável que um terceiro ato desta comédia, ainda em andamento (surgiram algumas questões pertinentes, por exemplo, quanto à seriedade e sinceridade das desculpas oferecidas pelo editor Ulisses Capozzoli) venha de homeopatas queixando-se do "fascismo metodológico" e do "clima de linchamento" engendrados pela nota. Insinuações de interesses escusos alimentados pela sede de lucro da indústria farmacêutica e da Monsanto não devem demorar muito a surgir.

(Sempre que vejo "alternativos" denunciando a fome maldita de lucro do "establishment" na tentativa de desautorizar críticas, me pergunto: homeopatas e farmácias homeopáticas vivem sob voto de pobreza, doando tudo o que ganham para caridade, por acaso?)

Mas, enfim, qual o problema com a homeopatia? e por que a blogosfera cientificamente alfabetizada se levantou contra a insinuação de reconhecimento, pela SciAm Brasil, da prática como ciência legítima? Existe um artigo recente publicado no jornal britânico The Guardian que cuida bem do assunto, mas faço um resumo aqui:

Os princípios da homeopatia foram desmentidos pela ciência: a física e a química dos últimos 200 anos negam a possibilidade de que os medicamentos se tornam mais potentes a partir de sucessivas diluições, como propõe a teoria homeopática.

A homeopatia não funciona: óquei, a teoria pode estar furada, mas isso não quer dizer que a coisa não pode funcionar. A teoria da gravidade de Aristóteles era uma bobagem, mas as pedras continuavam caindo do mesmo jeito, certo?

Bem: em se tratando de respostas terapêuticas, há uma série de cuidados que precisam ser tomados antes de afirmar qual o fator responsável por um determinado resultado: afinal, o paciente sarou por causa do remédio? ou será porque a bactéria já ia morrer, mesmo, de qualquer jeito? ou, talvez, por causa de um fungo misterioso, que estava crescendo na casca da maçã que ele comeu no almoço? Enfim, sempre que a homeopatia é estudada com o cuidado necessário para isolar o poder do tratamento, em si, dos efeitos de eventos incidentais e paralelos, o resultado é: Zero. Niente. Nada.

Essa questão da metodologia dos testes é especialmente importante porque a história está repleta de exemplos de tratamentos que os médicos juravam que funcionavam, e que os pacientes juravam que funcionavam, mas que, na verdade, eram inócuos ou, pior ainda, homicidas.

Um caso especialmente bem documentado é o de Benjamin Rush, (retrato ao lado) médico americano, um dos signatários da Declaração de Independência dos EUA -- e, segundo a Wikipedia, provável descobridor da dengue -- que, durante uma epidemia de febre amarela no final do século 18, dedicou-se heroicamente ao tratamento de seus concidadãos, atendendo mais de 100 pessoas ao dia... Só que usando sangrias e remédios à base de mercúrio, um metal tóxico.

Rush não era um maníaco, nem um sádico. Ele acreditava que estava salvando seus pacientes, e os pacientes que sobreviviam acreditavam ter sido salvos por ele. Hoje, no entanto, sabemos que muitos dos que morreram "de febre amarela" sob seus cuidados provavelmente sucumbiram ao tratamento, e que os que sararam, sararam a despeito do médico, e não graças a ele.

O mesmo tipo de fracasso metodológico que atinge a homeopatia afeta outra prática bastante popular, a acupuntura. Inúmeros estudos e revisões sistemáticas de estudos -- onde muitos trabalhos são comparados -- concluíram que a acupuntura é, na melhor das hipóteses, idêntica a um placebo. Isso significa que, cientificamente falando, para cuidar de -- por exemplo -- uma dor nas costas, tanto faz você desembolsar uma grana para ser tratado por um acupunturista qualificado quanto pedir para o(a) seu(a) namorado(a) lhe fazer uma massagem, que além de ser de graça ainda pode levar a resultados muito mais agradáveis. Também há provas de que a prática é inútil como apoio para se parar de fumar.

Isso nos traz à curiosa questão de por que, no Brasil, órgãos representativos da classe médica não só reconhecem a homeopatia como prática legítima como ainda se digladiam na Justiça para monopolizar a acupuntura.

A explicação caridosa é a de que ambas as práticas têm grande penetração cultural, as pessoas não vão parar de usá-las só porque a ciência diz que não prestam e, portanto, é melhor que fiquem nas mãos de médicos (que podem deixar o misticismo de lado e partir para um tratamento sério, caso surja a necessidade) do que na de leigos despreparados. A explicação cínica é de que modismos de saúde dão muito dinheiro, as decisões dos órgãos de classe são mais políticas do que técnicas, o brasileiro é um conciliador por natureza e, bem, já mencionei que essas coisas dão realmente muito dinheiro?

Críticas metodológicas a práticas alternativas muitas vezes atraem, como resposta, listas, apresentadas com ar ora petulante, ora condescendente, de casos em que a ciência estabelecida de uma determinada época se recusou a aceitar avanços que, no fim, mostraram-se corretos.

Um caso clássico é o da importância da assepsia: Ignaz Semmelweis, o primeiro médico a sugerir que seria melhor que os doutores lavassem as mãos ao sair de uma dissecção de cadáveres -- principalmente, se o próximo compromisso fosse um parto -- foi cruelmente ridicularizado, em sua época. Curiosamente, a opinião médica prevalente na época de Semmelweis encarava as doenças como o efeito de desequilíbrios de humores e miasmas malignos, algo muito próximo do que pensa a "medicina alternativa" de hoje.

Injustiças como a sofrida por Semmelweis podem muito bem voltar a ocorrer, claro. O ser humano é o "animal inviável", nas sábias palavras de Millôr Fernandes. Mas também é sempre bom lembrar esta frase de Carl Sagan, que cito em paráfrase: "Eles riram de Copérnico. Eles riram de Pasteur. Mas eles também riram de Torresmo e Pururuca".

Comentários

  1. E autora da nota é pós-graduada... E o curso está sendo dado em uma instituição federal... e o CNPq está financiando... Tudo errado, tudo errado.

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  2. Fico chocada quando leio um texto que em poucos parágrafos propõe "verdades" sobre técnicas que estão em estudo.
    Para começar por "Os princípios da homeopatia foram desmentidos pela ciência": dê uma olhada em pesquisas atuais realizadas, inclusive, pelo instituto de física da USP, que comprova variações físicas entre os diferentes medicamentos homeopáticos, num estudo de espectros de luz.
    É fácil criticar técnicas acusando-as de não funcionarem, baseadas em revistas científicas que recusam, e muita vezes sofrem represálias quando publicam notas ou artigos favoráveis a técnicas alternativas, como foi observado no caso da Sci Am.
    Fora o importante detalhe: a maioria dos experimentos sobre homeopatia não respeitam os princípios da técnica, o que acaba gerando um resultado falso negativo com frequência. Afinal, se administrarmos um antibiótico na dose errada, durante o período errado, não teremos um resultado adequado, e seria louco quem culpasse a técnica pelo problema e não o técnico.
    Só ressalto, acusar profissionais sérios de charlatanismo (o que você faz ao dizer que a técnica que eles utilizam e pregam como cura é placebo) é sério. E fazer isso com base em artigos científicos de uma amostra parcial (afinal são os artigos selecionados para publicação em revistas alopáticas) é prematuro e irresponsável.

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    1. Oi, Natália! Desculpe, mas não vejo como "prematuro" repetir uma conclusão científica -- homeopatia não é melhor que placebo -- confirmada e reconfirmada em todos os estudos de boa qualidade já realizados a respeito da técnica. Você provavelmente não desconhece os trabalhos publicados na Lancet em 2005 e as conclusões das revisões da Colaboração Cochrane.

      Ao dizer que os estudos não apresentam resultados positivos porque "não respeitam os princípios da técnica", você deixa em aberto uma questão importante: e quem valida os princípios da técnica? Isso soa muito parecido com os supostos "paranormais" que exigem manipular o baralho antes de serem testados para ver se conseguem adivinhar a ordem das cartas.

      No caso dos medicamentos tradicionais ("alopáticos"), as doses, horários de uso, etc., nascem da informação levantada nos estudos. E na homeopatia?

      Teorias aparentemente até mais absurdas que a homeopatia, como o caráter estatístico da mecânica quântica ou a relatividade do tempo, foram devidamente comprovadas por meios científicos independentes e hoje são aceitas e ensinadas em todas as escolas, e servem de base para tecnologias importantes, do GPS à ressonância magnética.

      Já a homeopatia, que teve a mesma chance, está em franco desaparecimento em todo o mundo: a partir deste ano, por exemplo, não existirão mais cursos a respeito nas universidades inglesas. E aposto que ninguém vai sentir falta.

      Por fim: não acuso ninguém de charlatanismo, simplesmente porque charlatanismo implica má-fé. Não acuso ninguém de praticar engodo deliberadamente.

      Mas repito o fato de que o consenso científico, estabelecido por estudos de boa qualidade e referendados pelas principais publicações internacionais, mostra que homeopatia é placebo.

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    2. Natália,

      Vc tem referências desses estudos do IFUSP?

      []s,

      Roberto Takata

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    3. Essa referência existe, mas precisamos encontrar para passar.

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    4. Caprara,

      Fico no aguardo.

      Grato.

      Roberto Takata

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    5. Olá, Roberto, só vi agora seu pedido.
      O trabalho que eu cito é: Estudo comparativo de soluções ultra diluídas de LiCl: espectroscopia de impedância no intervalo de
      frequência entre 1kHz e 13MHz. Tese de doutorado de Adriana Ramos de Miranda pelo Instituto de Física.
      Creio que homeopatia carece de mais estudos como esse, de ciências básicas, caracterizando melhor os processos envolvidos.
      Eu encontrei o pdf disponível por internet, mas caso não encontre é só voltar a falar comigo e posso enviar por e-mail.
      Abraços
      Natália

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    6. Noto o desconhecimento do artigo na nature que mostra que a suposta "memória da água" não dura mais que 50 femtosegundos.
      COWAN M. L., et al.; Ultrafast Memory Loss and Energy Redistribution in the Hydrogen Bond Network of Liquid H2O, Nature, 434(7030), p. 199-202, 2005
      http://www.nature.com/nature/journal/v434/n7030/pdf/nature03383.pdf

      Mesmo que você diga que há modificação da estrutura do líquido (o que já é bizarro por si só), essa mudança direcionada não dura nada e não não foi descrito o processo e mecanismo de tal suposição.

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    7. Segundo o trabalhoque indiquei, foram detectadas alterações físicas entre a solução diluída e água. E por mais de 50 femtosegundos. Infelizmente, só há acesso ao abstract do trabalho da Nature, mas por ele, aparentemente os parâmetros observados foram diferentes e não vi menção a uma solução ultradiluída.
      Ou seja, é um trabalho bem diferente, para mostrar outra característica da água.
      Se você leu o trabalho do IFUSP, há sugestão da modificação da água, o próprio autor dizendo que precisa de mais estudos. Mas a diferença entre a água e a solução ultradiluída foi observada, provando que água e solução ultradiluida são diferentes.
      Afinal, não seria possível diferenciar duas coisas iguais.

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    8. Eu li o trabalho e fiquei HORRORIZADO com o nível do que deveria ser uma tese de doutorado. Não mostra a base teórica do que foi feito, não explica a metodologia, não mostra os dados medidos, só gráficos já "processados", não dá explicação para nada. Parte do nada e chega a lugar nenhum. O capítulo das conclusões só tem "precisa mais estudos", "faltam novas observações"... Pô, uma tese de doutorado dizendo que o assunto precisa ser mais estudado? (Talvez quando a Exma. Ilma. Doutora faça seu pós-doutorado :-/)

      Se este é o nível dos doutores da maior universidade do país, estamos mal, MUITO MAL...

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  3. REalmente Orsi, a "omeopatia" como está sendo feita e vendida por ái deve mesmo ser interditada, afinal de contas estão usando do nome da Arte Médica desenvolvida por um médico sério, por ele provada e experimentada, para terapias que já nem chegam mais perto da sua origem. De fato, a homeopatia é, digamos 1% de tudo que se faz hoje em nome dela. De repente essa limpa culmine em algo realmente bom.
    Quanto ao ser ou não científico, considero que quando consigo prever resultados benéficos com precisão, algo de científico existe. Infelizmente ainda não desenvolveram uma técnica acurada para mensurar o tratamento homeopático uma vez que ele é individualizado.
    Como a Natália disse, não dá pra usar as ferramentas da ciência moderna e mecanicista para mensurar uma ciência vitalista da mesma forma que não é possível aferir a temperatura do seu corpo com um barômetro.
    Assim que alguém disposto desenvolver tal ferramenta, talvez faça uma parte do mundo muito feliz, apensar de não mudar em nada os resultados que obtemos com o tratamento. Agora, se trato um indivíduo e ele de fato melhora (tendo colhido informações laboratoriais, por exemplo, que indiquem tal melhora, além dos fatores externos) e isso é por conta do efeito placebo, então o que faz a ciência moderna desenvolvendo tantas substâncias medicamentosas? Vamos aderir ao placebo que, minha experiência mostra, tem feito muito mesmo pela saúde dos indivíduos.
    Obrigada pela colaboração crítica, pena que sobre algo que não expressa aquilo que você desejaria.

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    1. Oi, Alessandra! Eu que agradeço a resposta ponderada.

      Mas, só a título de curiosidade: como você sabe que os resultados positivos da sua prática são causados pelo tratamento recomendado e não, por exemplo, pelo carinho e dedicação que você mostra ao paciente, pela tranquilidade que vem do fato de o paciente "sentir-se tratado", ou apenas pela simples passagem do tempo?

      O artigo do "Guardian" linkado na minha postagem é muito bom, a esse respeito. Realmente recomendo a leitura, se não por outro motivo, para estimular a reflexão.

      Os meios de legitimação da "ciência mecanicista" não são arbitrários ou ideológicos, mas construções elaboradas, exatamente, para responder a questões como essa.

      Eles podem não ser perfeitos, e estão em constante aperfeiçoamento, mas funcionam bem o suficiente para nos terem permitido concluir, entre inúmeras outras coisas, que é a falta de vitamina C que causa escorbuto.

      Mesmo aceitando, em tese, a ideia de que os tratamentos homeopáticos são altamente individualizados e, por isso, não se encaixam bem em testes duplo-cego randomizados, os princípios por trás dos tratamentos têm de ser, de algum modo, gerais, e portanto passíveis de estudo em larga escala.

      E esses princípios -- cura pelo semelhante, diluição, "provas" subjetivas de substâncias -- são incompatíveis com o que sabemos hoje sobre física, química e, até, psicologia.

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    2. Bom, toda a matéria médica descrita foi baseada em experimentos. Esses experimentos nos forneceram dados suficientes para conseguirmos replicar os efeitos dos medicamentos e vê-los agir de formas diferentes.
      Eu trato um animal (sou veterinária) dando, por exemplo, 2 substâncias diferentes. Primeiro uma, que julgo (aplicando os princípios da homeopatia) adequado no momento e observo, além de uma certa melhora, o aparecimento de outros sintomas que antes não existiam. Então tenho aí claramente uma demonstração de patogenesia (intoxicação) que segue o que foi descrito na tal matéria médica da mesma substância. Então, devido à minha avaliação médica, percebo que a primeira escolha não foi a mais adequada e mudo o medicamento. O segundo medicamento então promove a cura completa do quadro. O que teria então mudado de um momento para o outro em mim ou no animal ou ainda em seu tutor, já que na maioria das vezes é ele, leigo, que administra o medicamento?
      Quando, em tratamento, a cura se dá num tempo parecido com o da cura natural de doenças agudas, eu considero sim ter errado a terapia e, por isso, não ter aliviado em menos tempo o sofrimento do paciente. Se não se dá o medicamento correto, segundo o princípio da similitude, não é possível proceder com a cura homeopática (os outros usos que são feitos dos medicamentos dinamizados, não dizem respeito à homeopatia).
      E obrigada pelo "ponderado". Não acho necessário lançar mão de paixão, uma vez que sou cética, por isso homeopata.

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    3. Caprara,

      Por isso é preciso adotar o protocolo duplo cego. Quem aplica também é sugestionável - especialmente se é parte interessada.

      A melhor metodologia é haver dois conjuntos de tratamentos: o tratamento teste e o placebo. Quem aplica não sabe se está fornecendo o tratamento ou o placebo. Essa informação fica com outra pessoa q não se envolve diretamente.

      []s,

      Roberto Takata

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    4. Roberto Takata, não é possível tal teste, pois em homeopatia não existe um medicamento (casos crônicos e muitos dos agudos) para cada quadro doentil... o tratamento é individualizado.
      Se alguém resolver esse probleminha, sem problemas aplicar o teste...
      Dizendo de outra forma: não tem como forjar uma doença e depois tratá-la para verificar a eficácia do medicamento, pois só importa o conjunto.
      Mesmo em alopatia a infecção artificial para teste de medicamentos é questionada, pois na infecção natural já se notou um comportamento diferente da moléstia.

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    5. Caprara,

      O teste é perfeitamente possível, não importa se o tratamento é individualizado. Os medicamentos existem e são comercializados. E são aplicados pelos homeopatas.

      []s,

      Roberto Takata

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  4. O mago mal escolado continua precizando ou precisando, sei lá, alguma ocupaçao. Se pra toda febre que aparecer nos recitarem doses cavalares de cerveja bem gelada os impacientes aqui acabarão por adquirir uma tolerância injustificável ao alcool.Eu mesmo estou duvidando também um pouco da eficiência da industria farmo química, tomei tres latas de baygon pensando que era anestésico e quase não morri!A anomalia ou animalia de falta tecnica tambem pode ser dissociada do rebaixamento inutil dos candidatos tal qual tambem se pode diminuir a fila de pretendentes ao cargo de degustadores de sopa de hospital.Pra quem me acusar de mau de pontaria eu ofereço meu boné. Alguém se habilita?

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  5. Então você também deve estar familiarizado com a técnica homeopática, sua criação e obras que envolvem sua aplicação.
    Hahnemann, o criador da técnica, estabeleceu uma série de diretrizes em sua obra, determinando de modo cuidadoso como os medicamentos devem ser preparados e administrados.
    Como eu disse, conheço diversos pesquisadores que não tiveram seus trabalhos aceitos em revistas, quando a temática era a homeopatia e sua eficiência.
    Quanto às técnicas aparentemente "absurdas" foram anos para comprovar seu funcionamento e mais tempo para a aplicação. Entretanto, estudos com viés físico mais que químico, como o que eu citei, são recentes. Por isso, digo que é prematuro acusar uma técnica ampla e diversos profissionais envolvidos com poucos estudos. Sim, revistas de renome publicaram, mas quantos foram os trabalhos realizados?

    Afinal, qual é o pesquisador que toma base nas suas decisões em poucos estudos? Se fosse assim, não haveria o hábito de uma pesquisa bibliográfica ampla para discutir trabalhos científicos. Bastaria buscar dois ou três artigos que corroborassem sua hipótese em revistas de renome.

    A literatura científica deve ser sempre avaliada com cuidado, pois determina uso e aplicações em condições muito bem estabelecidas. Tal técnica não funciona sob tais circunstâncias, aplicada de maneira específica. Sabemos que ao alterar as variáveis, os resultados podem ser diferentes.

    Isso não tira a validade do estudo anterior, apenas mostra que sob um outro olhar, verdades podem ser parciais.
    É papel do pesquisador avaliar cuidadosamente antes de afirmar que algo funciona ou deixa de funcionar. Por isso temos o hábito de dizer que um determinado estudo, segundo um autor, relatou aquilo. E não afirmar categoricamente que algo é ou não é verdade absoluta.
    Realizei um estudo com uma técnica que há um tempo atrás era mal vista pela comunidade científica, e que atualmente está sendo estudada e com eficiência comprovada para determinadas situações em diversos estudos, como o meu por exemplo (premiado, além de patrocinado e elogiado pela Fapesp).
    Qual é o sentido da ciência num mundo onde temas em dúvida são estabelecidos como verdades? A ciência é questionar. E verdades não precisariam ser questionadas.

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    1. Natália, concordo que, em princípio, sim, "ciência é questionar" -- mas, por outro lado, precisamos de balizas para agir. Precisamos de métodos e critérios que produzam verdades "boas o suficiente", verdades que (ainda que provisórias e passíveis de revisão) nos permitam, por exemplo, dizer que vitamina C cura escorbuto, e que o mercúrio é tóxico. Que o coquetel antirretroviral prolonga a vida dos pacientes de aids.

      E são esses mesmos critérios que mostram que o "sucesso" da homeopatia é um fenômeno social e psicológico, não médico. Que um tratamento homeopático feito com água de torneira -- se o médico for tão gentil, atencioso e amigável quanto é quando receita o preparado "legítimo" -- funcionará tão bem quanto o tratamento para valer.

      A Colaboração Cochrane, que realiza revisões sistemáticas da literatura, tem mais de uma dezena de relatórios sobre homeopatia, todos com resultados do duvidoso ao negativo; e o estudo de 2005 da Lancet também foi baseado numa revisão da literatura, assim como o relatório do Parlamento Britânico que pediu o fim do uso da homeopatia no sistema público de saúde do país -- porque era jogar dinheiro fora numa técnica inútil.

      Se meu veredicto na postagem soou abrupto, lembro que incluí uma remissão para um artigo do Guardian onde as mesmas objeções são expostas de modo mais detalhado. É um ótimo texto, de um médico que decidiu abandonar a homeopatia e expõe seus motivos. O link é este:

      http://www.guardian.co.uk/science/blog/2012/apr/03/homeopathy-why-i-changed-my-mind

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    2. Orsi, ainda é necessário saber se todos esses estudos e considerações são feitas sobre a homeopatia ou sobre a omeopatia que, como disse anteriormente, é muito mais amplamente (permito-me o exagero) divulgada e distribuída que a real homeopatia, desenvolvida e experimentada por Hahnemann. Se toda essa crítica é sobre a omeopatia, convido você a saber mais sobre Homeopatia.

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    3. Oi, Alessandra! Tento me aprofundar na maioria dos temas que trato aqui -- mas é claro que jamais serei um especialista em todos (ou mesmo na maioria) deles. Minha postura é a de um leigo curioso e que busca se manter bem informado. Se você puder me indicar referências, ficarei agradecido.

      Mas, nessa condição de leigo (mas com acesso à opinião de especialistas variados, de médicos a biólogos), o que posso dizer é que a (h)omeopatia perdeu a batalha pela respeitabilidade médico-científica.

      É evidente que a batalha pode voltar a ser travada, e as conclusões atuais podem se mostrar erradas, como já aconteceu em outros casos da história da ciência, só que é difícil ver como e, como escrevi para a Natália, temos de fazer julgamentos com base no que está disponível no momento.

      De qualquer forma, faço também um convite a você, para que pesquise um pouco sobre vieses cognitivos -- os "bugs" psicológicos que nos fazem, às vezes, criar convicções falsas. Há uma lista enorme aqui:

      http://rationalwiki.org/wiki/List_of_cognitive_biases

      Mas a melhor fonte que conheço é o livro "How We Know What Isn'T So", do psicólogo Thomas Gilovich. Aposto que você deve ter muita coisa legal na fila de leitura, mas se, e quando, der tempo, essa é uma obra ótima, escrita num estilo bem leve e que pode ser muito útil.

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    4. Pra eu me empenhar em algo, preciso verificar sua importância em cima do meu trabalho ou da minha vida (no caso). Eu tenho pacientes, eu trato os pacientes, os pacientes ficam curados.
      Antes eu via alopatia, eu vivi a alopatia e tratava os pacientes e os pacientes voltavam com outras queixas piores... Que funciona é fato, só não inventaram ferramenta para quantificar. MAs na minha experiência essas ferramentas pouco importam. Mais me importa é ver um quadro - tratar o quadro - poder prever o que pode acontecer - ver que de fato acontece - ver meu paciente melhorar.
      Não só em doenças agudas que, concordo com você, têm curso conhecido com o fim em solução (cura ou morte), mas também nas crônicas...
      Compreendo que a ciência é algo importante, mas de fato não influencia minha vida e a vida dos meus pacientes... afinal de contas a ideia é observar a natureza, respeitar suas leis, aprender com suas leis e se esforçar para aplicá-las e não criar leis para encaixar a natureza dentro.
      Há muito tempo deixei de fazer esforço para convencer pessoas que o que faço funciona, isso já é discussão passada. A discussão hoje reside em: você sabe o que é homeopatia? Então por que se auto-denomina homeopata? É mais uma questão de limpeza interna mesmo... e não de provar.
      Se alguém quiser desenvolver uma ferramenta boa para mensurar a homeopatia de fato, pode falar comigo. Enquanto bradarem que duplo cego, placebo e blablá, preciso me retirar, pois tenho muito o que estudar.
      Ah! A pessoa que se enfiar a desenvolver tal ferramenta, precisará certamente estudar a fundo a homeopatia, pois credulidade não leva seres a lugar algum.
      Caso você queira saber mais sobre homeopatia vá às obras de filosofia vitalista, então caminhe pelo Organon e pelo livro Doenças Crônicas. Não se esqueça de buscar uma tradução decente, pois você deve saber o número infinito de problemas que uma tradução pode carregar. Vá sempre à fonte.
      E também, caso façamos uma busca sobre: problemas com a metodologia científica, encontraremos inúmeros ilustres cientistas (não-homeopatas) demonstrando erros terríveis da ciencia moderna que dita padrões de pensamento que pessoas como você e outros leigos, tomam como verdade absoluta.
      Da mesma forma que é perigoso entrar numa religião sem poder argumentativo e com muita credulidade (crer que a palavra de um outro alguém seja a verdade absoluta) é perigoso olhar assim a ciência moderna.
      Se você soubesse o que determina este ou aquele cientista ser ou não renomado, pararia para pensar antes de basear qualquer pensamento em suas proposições.
      Mais ou menos isso.
      Como sou curiosa, talvez eu leia isso aí sim. Obrigada pela sugestão.

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    5. Seria interessante também verificar esse autores. Foi isso que tentei dizer no texto anterior: "Professor of Sociology Stanley Aronowitz scrutinizes science for operating with the presumption that the only acceptable criticisms of science are those conducted within the methodological framework that science has set up for itself. That science insists that only those who have been inducted into its community, through means of training and credentials, are qualified to make these criticisms.[5] Aronowitz also alleges that while scientists consider it absurd that Fundamentalist Christianity uses biblical references to bolster their claim that the Bible is true, scientists pull the same tactic by using the tools of science to settle disputes concerning its own validity.[6]"
      http://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_science
      Fui à wikipedia, pq lá fica mais fácil ver mais autores juntos.
      Enfim, tomar uma ferramenta tão pobre como base para mensurar o mundo inteiro e encerrar nela toda a verdade é no mínimo subestimar a variedade apenas do nosso planeta.

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    6. Caprara: "Se alguém quiser desenvolver uma ferramenta boa para mensurar a homeopatia de fato, pode falar comigo."

      Mas já tem. Você recebe o paciente, faz a anamnese, vê o quadro e o diagnóstico individualizado e elabora o tratamento individualizado - que vai incluir o medicamento homeopático.

      Metade dos pacientes receberá os medicamentos homeopáticos conforme prescritos. Metade dos pacientes receberá água pura - sem passar pelos processos de dinamização. Você não sabe quem recebeu o quê.

      Se os medicamentos homeopáticos tiverem efeito, a metade dos pacientes que tiverem recebido os medicamentos deverão ter índices de cura e/ou melhora do que a metade dos pacientes que receberam água no lugar do medicamento.

      Não tem mistério.

      []s,

      Roberto Takata

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  6. Excelente texto! Muito esclarecedor.. Chega de pseudociencia no Brasil

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  7. Tenho que nasceu em novembro de 2003. A partir de 2004, sempre que chegava o inverno e ele pegava um resfriado, vinham crises de tosse que duravam semanas. Só paravam quando a primavera se aproximava. Muita gente me recomendou a homeopatia, inclusive minha irmã que teria curado a asma do meu sobrinho com um homeopata. No entanto, eu não o levei em nenhum médico homeopata. Já faz uns dois anos que ele não tem mais as crises.Acredito que tenha melhorado, de maneira espontânea, conforme crescia. Se eu o tivesse levado a um homeopata, certamente estaria atribuindo a cura à homeopatia, assim como minha irmã atribui a cura do meu sobrinho.

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  8. Acho que está se criando um vácuo na medicina científica que termina justamente por ser preenchido pelas "terapias alternativas". É o vácuo da atenção e da dedicação ao paciente, que infelizmente cada vez menos existem no atendimento médico, por várias razões, das quais a principal certamente é a financeira. Duas anedotas: minha esposa, com pressão alta, tinha uma médica que a acompanhou durante a gestação de minha filha. Foi muito atenciosa e próxima, o parto foi perfeito e assim ela decidiu continuar sendo atendida por ela. Dois anos depois, ela desistiu, pois a médica aos poucos limitou-se a dar consultas de 10 ou 15 minutos (triplicando o numero de atendimentos diários) e pedir exames, sem sequer tocar nas pacientes. No outro sentido: minha sobrinha começou a ter dores constantes de estomago, indisposição e outros sintomas relacionados. Nós a encaminhamos ao gastro da família, um médico já de idade (agora, infelizmente para nós, aposentado), experiente e muito sensível, de uma capacidade de diagnóstico rara. Após uma boa conversa e a descrição de todos os sintomas, e antes mesmo do exame clínico, ele ponderou e perguntou calmamente a ela: minha filha, como está seu casamento? A reação dela foi irromper em choro, e os sintomas todos despareceram com um calmante fraco e aconselhamento. Mas ainda há médicos que têm consciência da importância das necessidades emocionais e psicológicas dos pacientes e que, se não podem na prática lhes dedicar mais tempo, nunca deixam que saiam do consultório sem uma receita, o velho e bom (para esses casos) placebo. É preciso lembrar que muitas - talvez a maioria - das pessoas que procuram atendimento não têm meios para diferenciar o placebo de um tratamento efetivo, nem a "medicina alternativa" da científica.

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  9. "Compreendo que a ciência é algo importante, mas de fato não influencia minha vida e a vida dos meus pacientes... "
    A grande ironia reside no fato de que li isto num blog aqui na web.

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    1. Essa é uma daquelas para se colecionar!

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  10. Assim como a homeopatia, a ciência também não explica a incrível eficiência da dança da chuva. Alega que não deveria funcionar, explica por que deveria não funcionar e demonstra que ao ser testada com sua metodologia não funciona mesmo. Mas ao abrir a mente, deixando de lado a ciência e seu método com todas as suas limitações, percebemos por observação direta que toda vez que alguém executa a dança chamando a chuva, mais cedo ou mais tarde ela inváriavelmente chega!

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    1. mesmo que seja mais tarde, o importante é que ela chega, nao é mesmo?

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    2. De fato! E melhor ainda, não é preciso se preocupar com causa e efeito, basta um pouco de correlação!

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  11. Bem, o dia que a turminha que acredita nesta idiotice ficar doente de um câncer bem brabo ou tiver uma infecção generalizada, que sejam coerentes. Se tratem com isto. Simples. Para mim, não; passo longe. Fui...

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  12. Eu sei que a matéria é de 2012, mas assim mesmo eu gostaria de deixar meu comentário: Se a homeopatia, da forma como apresentam, com suas "leis" e "diretrizes", estiver correta, todo nosso conhecimento de química,física, e até biologia tem que ser revistos, pois estão todos errados...(acho que não é o caso)
    Marcelo!

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  13. Peço desculpas por comentar em um post antigo, mas vale deixar o registro da matéria jornalística mais absurda e ignorante que tive o desprazer de ler em muito tempo:

    http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2014/09/22/interna_ciencia_saude,448137/estudo-avalia-potencial-da-abordagem-terapeutica-no-combate-a-obesidade.shtml

    Completa com "explicação" e infográfico sobre os princípios de "funcionamento" da homeopatia. Informações eletromagnéticas!

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