Quem escreveu "Um Escândalo na Boêmia"?
Depois de Holmes, Watson e, apenas talvez, do Professor Moriarty, a atriz, cantora e "aventureira" Irene Adler -- a única mulher a derrotar Sherlock Holmes -- é a personagem da saga criada por Sir Arthur Conan Doyle mais famosa no cânone sherlockiano. Das adaptações audiovisuais atualmente em andamento, Irene aparece tanto na série de BBC quanto na sequência cinematográfica estrelada por Robert Downey Junior.
Descrita como "a coisinha mais fofa debaixo de um chapéu neste planeta", Irene conta uma longa bibliografia dedicada à sua pessoa, incluindo várias séries de aventuras próprias, e a honra de ser considerada, por alguns autores, como a mãe de Nero Wolfe.
A tantas honras, soma-se o fato de ela ter sido antagonista escolhida para a "segunda gênese" de Sherlock Holmes. O Grande Detetive havia sido criado para protagonizar o romance Um Estudo em Vermelho, publicado em 1886, e trazido de volta à luz para a novela O Signo dos Quatro, lançada em 1890, mas foi apenas com o início da série de contos publicada na Strand Magazine, a partir de 1891,que Holmes se tornou um fenômeno mundial. E é na primeira história dessa série, Um Escândalo na Boêmia, que Irene Adler aparece.
Muito já foi escrito sobre Irene Adler. Comentaristas dos mais eruditos já vasculharam o texto de Conan Doyle em busca de insinuações de que ela seria, de fato, uma das infames grandes horizontales, ou prostitutas de luxo, da Era Vitoriana, e também chamaram a atenção para o fato de que seu endereço, no distrito de St. John's Wood, era famoso por abrigar as residências de amantes de homens poderosos: aparentemente, o londrino abastado das décadas de 1860 a 1880 mantinha a "matriz" na mansão da família e a "filial" em St. John's. Conan Doyle pode ter escolhido o endereço para enviar uma mensagem cifrada aos leitores. Ou seria mera coincidência?
O mistério da verdadeira profissão de Irene empalidece, no entanto, diante de um de ainda maior importância: quem escreveu, afinal, a seção central de Um Escândalo na Boêmia?
Uma edição facsimilar do manuscrito original foi publicada, em 2011, pelos Baker Street Irregulars, acompanhada de uma série de ensaios explicativos. O que o fac-símile revela é que, da página 13 à 19, o texto está escrito em uma letra que não é a de Sir Arthur Conan Doyle!
O problema é conhecido há décadas, o que torna ainda mais surpreendente o fato de nenhuma solução satisfatória jamais ter sido encontrada. O autor da primeira biografia autorizada de Conan Doyle, John Dickson Carr, escreveu que a caligrafia dessa seção corresponde à "letra de descanso" de Conan Doyle, uma caligrafia mais relaxada que ele usaria para descansar o pulso.
O fato de essa "letra de descanso" apresentar outras discrepâncias -- como no uso de minúsculas e maiúsculas -- em relação aos hábitos de escrita do autor, e de não aparecer em nenhum outro manuscrito, no entanto, milita contra a hipótese, assim como o fato de o filho mais novo de Sir Arthur, Adrian Conan Doyle, ter dito que a letra era de uma de suas tias -- Lottie, irmã de Sir Arthur, que teria anotado um ditado do irmão.
Lottie, no entanto, estava morando em Portugal na época em que o conto foi escrito; e a caligrafia usada na seção central do conto não se parece em nada com as amostras remanescentes da letra de Lottie Doyle.
Uma hipótese que resta, depois de o impossível ter sido descartado, é o de que a letra seja da própria Irene Adler. Esta era, afinal, sua história; por que ela não poderia ter sido consultada, e convidada a apresentar emendas ao relato, até mesmo apensando sua versão pessoal dos fatos?
Claro, admitir que Irene Adler poderia ter emendado o manuscrito de Um Escândalo na Boêmia levaria à admissão de outras ideias polêmicas -- como a de que John H. Watson era, de fato, o autor das narrativas, e que Conan Doyle apenas atuava como agente e editor. O que nos põe em contato direto com o Grande Jogo, de que trato em mais detalhes no prefácio do volume Sherlock Holmes - AventurasSecretas.
(Nota do autor: o ensaio acima é um pseudofactual. Inclui verdades incontestáveis e mentiras deslavadas. Separar o joio do trigo pode ser uma grande dor de cabeça ou uma bela diversão, dependendo da disposição de cada um).
Descrita como "a coisinha mais fofa debaixo de um chapéu neste planeta", Irene conta uma longa bibliografia dedicada à sua pessoa, incluindo várias séries de aventuras próprias, e a honra de ser considerada, por alguns autores, como a mãe de Nero Wolfe.
A tantas honras, soma-se o fato de ela ter sido antagonista escolhida para a "segunda gênese" de Sherlock Holmes. O Grande Detetive havia sido criado para protagonizar o romance Um Estudo em Vermelho, publicado em 1886, e trazido de volta à luz para a novela O Signo dos Quatro, lançada em 1890, mas foi apenas com o início da série de contos publicada na Strand Magazine, a partir de 1891,que Holmes se tornou um fenômeno mundial. E é na primeira história dessa série, Um Escândalo na Boêmia, que Irene Adler aparece.
Muito já foi escrito sobre Irene Adler. Comentaristas dos mais eruditos já vasculharam o texto de Conan Doyle em busca de insinuações de que ela seria, de fato, uma das infames grandes horizontales, ou prostitutas de luxo, da Era Vitoriana, e também chamaram a atenção para o fato de que seu endereço, no distrito de St. John's Wood, era famoso por abrigar as residências de amantes de homens poderosos: aparentemente, o londrino abastado das décadas de 1860 a 1880 mantinha a "matriz" na mansão da família e a "filial" em St. John's. Conan Doyle pode ter escolhido o endereço para enviar uma mensagem cifrada aos leitores. Ou seria mera coincidência?
O mistério da verdadeira profissão de Irene empalidece, no entanto, diante de um de ainda maior importância: quem escreveu, afinal, a seção central de Um Escândalo na Boêmia?
Uma edição facsimilar do manuscrito original foi publicada, em 2011, pelos Baker Street Irregulars, acompanhada de uma série de ensaios explicativos. O que o fac-símile revela é que, da página 13 à 19, o texto está escrito em uma letra que não é a de Sir Arthur Conan Doyle!
O problema é conhecido há décadas, o que torna ainda mais surpreendente o fato de nenhuma solução satisfatória jamais ter sido encontrada. O autor da primeira biografia autorizada de Conan Doyle, John Dickson Carr, escreveu que a caligrafia dessa seção corresponde à "letra de descanso" de Conan Doyle, uma caligrafia mais relaxada que ele usaria para descansar o pulso.
O fato de essa "letra de descanso" apresentar outras discrepâncias -- como no uso de minúsculas e maiúsculas -- em relação aos hábitos de escrita do autor, e de não aparecer em nenhum outro manuscrito, no entanto, milita contra a hipótese, assim como o fato de o filho mais novo de Sir Arthur, Adrian Conan Doyle, ter dito que a letra era de uma de suas tias -- Lottie, irmã de Sir Arthur, que teria anotado um ditado do irmão.
Lottie, no entanto, estava morando em Portugal na época em que o conto foi escrito; e a caligrafia usada na seção central do conto não se parece em nada com as amostras remanescentes da letra de Lottie Doyle.
Uma hipótese que resta, depois de o impossível ter sido descartado, é o de que a letra seja da própria Irene Adler. Esta era, afinal, sua história; por que ela não poderia ter sido consultada, e convidada a apresentar emendas ao relato, até mesmo apensando sua versão pessoal dos fatos?
Claro, admitir que Irene Adler poderia ter emendado o manuscrito de Um Escândalo na Boêmia levaria à admissão de outras ideias polêmicas -- como a de que John H. Watson era, de fato, o autor das narrativas, e que Conan Doyle apenas atuava como agente e editor. O que nos põe em contato direto com o Grande Jogo, de que trato em mais detalhes no prefácio do volume Sherlock Holmes - AventurasSecretas.
(Nota do autor: o ensaio acima é um pseudofactual. Inclui verdades incontestáveis e mentiras deslavadas. Separar o joio do trigo pode ser uma grande dor de cabeça ou uma bela diversão, dependendo da disposição de cada um).
*** se você esperar um pouco talves eu entre nesse jogo. estou preste a poder pegar livros de novo na biblioteca,ai eu saberei um pouco mais,poissempre fui mas fã de aghata,nero owfe,andréa camieri essa turma,lapim**** azul 2013
ResponderExcluirFaltam informações, por exemplo, se seria grafia de homem ou de mulher. No entanto, isso não importa. Moriarty trocou os originais.
ResponderExcluirAliás, meus parabéns pela sua participação no Aventuras Secretas.