"Pura Picaretagem" no IFSP

Na manhã desta quarta-feira, fiz uma palestra, seguida de animado bate-papo, para alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Estive lá a convite do professor de Física Marcelo Porto Allen, um amigo dos velhos tempos da USP.

O, digamos, pontapé inicial da conversa com os estudantes, de turmas de ensino médio e de licenciatura em Física e Química, foi o livro Pura Picaretagem, mas o papo logo derivou para temas correlatos, como medicina alternativa (acupuntura e homeopatia, especificamente), as implicações do materialismo para o livre arbítrio e a responsabilidade de jornalistas e educadores em manter as pessoas bem informadas.

Desta vez não tenho um texto da palestra para publicar aqui -- eu só havia preparado algumas notas, um roteiro sinóptico. Em linhas gerais, aproveitei para entrar um pouco numa história que ficou de fora do livro, a da evolução do moderno movimento de "autoajuda", que nasce e evolui mais ou menos junto com a Física moderna -- o livro Self-Help foi publicado em 1859, um ano depois no nascimento de Max Planck e numa época em que Faraday e Maxwell estavam em atividade; além disso, a obra arquetípica do gênero, As a Man Tinketh, é publicada em 1902, durante os salvos iniciais da revolução quântica -- e sobre como os princípios dessa "escola de pensamento" acabaram sequestrando a linguagem da ciência (e, depois, a do misticismo oriental) para legitimar-se.

Mas a melhor parte não foi o que eu disse nos meus vinte minutos de solilóquio, e sim a conversa com os jovens, depois (olha eu aqui, chamando os outros de "jovens"... tempus fugit). Acho que respondi mal à questão sobre livre arbítrio ("se os pensamentos são apenas reações químicas, como podemos ser responsabilizados pelo que fazemos, já que as reações seguem leis determinísticas?").

Enrolei-me um pouco, falando sobre processos inconscientes e que a pessoa é o cérebro inteiro, não apenas a consciência. Se pudesse responder de novo, diria que a ideia de que há, em cada um de nós, um "piloto" espiritual capaz de abstrair todas as circunstâncias e decidir com absoluta liberdade é inconsistente: esse tipo de liberdade elimina até mesmo a necessidade de tomar decisões. Decidimos porque somos limitados por nossas circunstâncias, e a bioquímica do sistema nervoso é apenas mais uma circunstância, que pode ou não reduzir nossa responsabilidade, dependendo do caso analisado.

Pude contar também alguns casos curiosos, como o mito do Centésimo Macaco (quem quiser uma versão mais completa da história, há esta aqui, em inglês) e a investigação de James Randi sobre a memória da água. E mencionei que venho tratando de temas do tipo em uma nova coluna da Galileu.

Enfim, foi uma manhã fantástica. Gostaria de agradecer ao Marcelo, que ainda teve a gentileza de me pagar o almoço, à professora Paloma a todos os que assistiram e, especialmente, a todos os que participaram. Nunca me vi como um orador público, mas posso acabar pegando gosto pela coisa -- ao menos, com plateias assim, dinâmicas e interessadas.

Comentários

  1. E aquela platéia nem foi uma das mais interessadas que já vi... Estamos sempre em busca de palestrantes com temas legais para apresentar. Agradeço muito por sua participação. Não foi possível te apresentar, mas o Coordenador da Licenciatura em Física estava lá, também.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A maldição de Noé, a África e os negros

O zodíaco de 14 constelações e a Era de Aquário

Fenda dupla, consciência, mente, matéria... que papo é esse?