Ciência marcha em legítima defesa

Às vezes, um grupo de estudantes universitários me convida para falar sobre divulgação científica. Sempre que posso, compareço, e faço alguma versão da minha apresentação "evangélica" sobre a necessidade de os cientistas se envolverem coma  população em geral, comunicando suas descobertas e tendo o máximo possível de paciência com a mídia. As razões que apresento dividem-se em três grupos: prestação de contas (a pesquisa é financiada com dinheiro público), manutenção da democracia (sem acesso a conhecimento confiável, cidadãos e governos tendem a fazer merda) e a última, que cito enquanto apresento o impressionante slide abaixo...

Morihei Ueshiba, fundador do aikidô, arremessa um discípulo
... é defesa pessoal. Basicamente, numa sociedade onde as pessoas responsáveis por definir o orçamento público são eleitas pelo voto popular, a distribuição das verbas tende a refletir as pressões vindas do eleitorado (ou dos financiadores de campanha, mas essa é outra história). Se o eleitorado está cagando e andando para a pesquisa científica, a probabilidade é alta de que, no médio prazo, os políticos também estarão. É por isso que temos um estádio de futebol gigantesco em Manaus, mas não um foguete para lançar satélites.

Por conta disso, iniciativas como a Marcha pela Ciência do último sábado são mais que bem-vindas. Estive no vão livre do Masp por cerca de uma hora, um pouco antes de a caminhada em direção ao prédio da Presidência da República na Avenida Paulista ter início, e senti o espírito de urgência que animava a todos.

Minha humilde sugestão é que esse espírito, e essa marcha, animem novas e maiores iniciativas de interação entre a comunidade científica e a população em geral. Sei que alcançar os periódicos de alto impacto já é difícil, que se dirá a opinião pública -- mas sem o apoio e o respaldo da opinião pública, a ciência brasileira dificilmente verá dias melhores.

Não se trata, aqui, de fazer uma defesa do populismo barato, da publicação irresponsável de press releases sobre  o poder curativo da casca do besouro do Cerrado, mas de um incentivo a um engajamento responsável, numa linguagem franca e clara, com as curiosidades e interesses do cidadão. Se o tema da sua pesquisa é interessante para você, ele provavelmente também é para muitas outras pessoas.

Curiosidade e a capacidade de intrigar-se e maravilhar-se, afinal, estão uma das características mais marcantes do Homo sapiens. Alcançar e sensibilizar essas pessoas, no entanto, muitas vezes requer um esforço que não cabe nos formulários de agências de fomento, nem nos espaços do Lattes. Mas é um esforço que hoje, mais do que nunca, precisa ser feito.
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Comentários

  1. Não existe divulgação científica.Existe sim divulgação cientificista.Nunca pesquisaram o que a sociedade realmente precisa.Depois reclamam da ascensão das medicinas alternativas.

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