Divulgação científica: agenda cheia em maio



"Divulgação científica" é uma daquelas expressões -- como "democracia" ou "justiça" -- que todo mundo concorda que se refere a algo essencial, mas cuja natureza exata tende a ser alvo de intensa disputa.

Há que se distinguir divulgação de educação, há que se decidir se a prioridade é divulgar conteúdos ou modos de pensar, há que se tomar cuidado para que a divulgação "WOW!" (pássaros lindos, estrelas fantásticas, gênios excêntricos) não sufoque a divulgação "de combate" (crítica a charlatanismos e raciocínios tortos, denúncia de fraudes, esclarecimentos sobre saúde ou meio ambiente).

Há que se pensar no público: na academia e no microcosmo das bolhas online, principalmente, é muito fácil cair na ilusão de que se está fazendo divulgação científica quando, na verdade, seu público é sempre aquela meia dúzia de fãs de Carl Sagan que são as pessoas que menos precisam ouvir o que você está dizendo (não é improvável que a carapuça sirva para este blog, inclusive). Na outra ponta, a da mídia de massa, é muito fácil usar a desculpa do "necessário apelo popular" para vender vacuidades, simplificações imbecilizantes e estereótipos fáceis.

A despeito dessas e de outras mazelas e sutilezas, no entanto, o mês de maio terá uma agenda cheia de iniciativas que visam a aproximar a ciência dos não-cientistas. No fim da primeira semana haverá, no Museu do Amanhã do Rio de Janeiro, a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências,  com o tema "Imaginando o Futuro" e o objetivo de "abordar os avanços tecnológicos em curso, as perspectivas da ciência para as diversas áreas e seus possíveis impactos na sociedade".

Logo em seguida, também no Rio, acontece a Maratona Piauí Serrapilheira, apresentada como "um encontro cujas pautas de conversas e discussões sejam pesquisas científicas brasileiras de destaque, que provocam otimismo e cujas possibilidade de aplicação dos resultados são de médio e curto prazo". Cinco cientistas brasileiros conversarão com jornalistas e com o público sobre seus trabalhos.

E imediatamente após a maratona, em mais de 50 cidades do Brasil teremos o Pint of Science 2018, em que cientistas e agregados (como eu, que estarei na programação de Campinas) irão a bares para conversar com as pessoas sobre temas científicos e de relevância social -- minha palestra será sobre o fenômeno das "fake news", assunto de que já tratei, por exemplo, aqui, aqui e aqui. Logo após o Pint -- na mesma semana, de fato -- haverá a celebração do Dia Mundial da Luz da Unesco, com eventos no Brasil.

ÚLTIMA HORA: Mais para o fim do mês, o Weizmann Brasil promove o evento Scientists of Tomorrow, em que três jovens pesquisadores apresentarão seus trabalhos para o público.

Existe uma velha piada sobre meteorologia que diz assim: "Todo mundo fala o tempo todo sobre o clima, mas ninguém faz nada para que ele melhore". Até algum tempo atrás, uma alma cínica poderia adaptar o chiste, substituindo "clima" por "divulgação científica", e tornar a frase menos engraçada, mas não menos verdadeira, principalmente no que diz respeito à academia e ao mundo das grandes empresas. Isso parece estar mudando. Vamos esperar que mude mais.

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