Medindo o poder da mídia com ciência
A exposição de um assunto na mídia, mesmo que apenas através de veículos de pequeno ou médio porte, é capaz de modificar a opinião pública -- e se não chega a mudar as opiniões individuais dos membros do público, ao menos afeta o tom e o conteúdo da " grande conversação" da sociedade. Esse fenômeno, que até agora só havia sido captado indiretamente, foi quantificado num estudo ambicioso publicado na revista Science desta semana.
Os autores, da Universidade Harvard e do MIT, inspirados nos protocolos usados para testar tratamentos médicos, desenvolveram um método para aplicar a "droga" de sua escolha (no caso, conteúdos jornalísticos específicos), de forma controlada e randomizada, à "população de tratamento" -- no caso, o público dos Estados Unidos.
Os autores firmaram parceria com mais de 40 veículos de pequeno ou médio porte, que concordaram em produzir conteúdo a partir de um cardápio de 11 questões de política pública -- raça, imigração, emprego, aborto, clima, alimentação, água, educação, refugiados e política energética. Grupos de dois a cinco veículos dedicaram-se a cada tema, e cada grupo comprometeu-se a publicar o material produzido numa semana aleatória, definida pelos cientistas. Assim, a cada semana, o público americano foi submetido a um "tratamento" -- isto é, a uma exposição controlada de mídia -- diferente.
"Estimamos o efeito causal em medidas proximais, como visualizações de página em websites e discussões no Twitter do assunto específico dos artigos, e distais, como a conversação nacional, via Twitter, em áreas amplas de política pública", escrevem os autores.
"Nossa intervenção aumentou a discussão em cada área ampla de política pública por 62,7%, aproximadamente (relativo ao volume do dia), respondendo por 13.166 postagens adicionais ao longo da semana de tratamento, com efeitos similares nos subgrupos da população". Mais adiante, acrescentam: "Nosso tratamento experimental fez com que o número de postagens aparecendo em mídias sociais, a respeito da discussão da área ampla de política pública, aumentasse em 19,4% no primeiro dia após a publicação".
Os autores insistem que seu trabalho avaliou apenas o impacto da mídia na conformação do debate público, e não no conteúdo desse debate, ou nas atitudes individuais das pessoas -- algo que, apontam, ainda precisa ser estudado em novos trabalhos randomizados.
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