Semana cheia: utopia e lançamento!
Esta semana transcorrerá, como costumavam dizer antigamente, em ritmo febril. Na terça-feira, tem a Jornada de Estudos sobre Utopia e Ficção Científica, na Unicamp, que vai tratar de temas que vão da obra de Octavia E. Butler a Berilo Neves, e na qual terei uma modestíssima participação, num diálogo com o pesquisador Alfredo Suppia sobre como é fazer ficção científica no Brasil.
Imediatamente depois, na quarta-feira, acontece o esperadíssimo (ao menos, para mim) lançamento de O Livro dos Milagres, obra que escrevi em ritmo frenético no início deste ano e que a Vieira & Lent, num esforço heroico, conseguiu pôr no mercado em menos de nove meses.
Já escrevi sobre o livro neste blog anteriormente, mas talvez alguns dos meus leitores não saibam que uma espécie de "capítulo-trailer" está disponível no Amálgama.
Blogagem autobiográfico/confessional sempre me pareceu uma coisa meio babaca -- uma das minhas implicâncias com a literatura contemporânea é a de que, se eu quiser saber das angústias e agruras de um brasileiro de classe média, desajeitado, meio tímido e com pretensões intelectuais, não preciso ler 300 páginas de prosa pretensiosa, é só prestar atenção na minha própria vida -- mas, enfim, o fato é que Milagres tem um significado especial para mim.
Claro, todo livro tem um significado especial para o próprio autor, mas este é realmente mais especial que os demais. Não só porque é minha primeira obra de não ficção, mas também porque marca o fim de um ciclo na vida e, espero, o início de outro.
Concebi o livro numa noite de insônia, mais ou menos uma semana depois de perder o emprego. O clichê de estar subitamente desempregado na virada dos 39 para os 40 anos deu uma certa gravidade ao momento, mas não só: já fazia algum tempo que eu vinha reclamando (comigo mesmo e, crucialmente, com minha infinitamente paciente esposa) que eu me sentia velho (ou sábio, ou rabugento) demais para continuar a escrever sobre os outros achavam importante -- que é, basicamente, o que o jornalista assalariado faz: alguém, o pauteiro, o editor, o dono, decide que "X" é relevante, interessante, vai vender jornal, etc., e o jornalista se desincumbe da tarefa de produzir conteúdo sobre "X".
Para ser perfeitamente justo, em geral há um amplo espaço para negociação aí, e as sugestões do jornalista quase sempre são levadas em consideração. Mas, ainda assim: o repórter nunca tem a prerrogativa da última palavra. A liberdade de perseguir os próprios interesses é sempre condicional. Resumindo: depois de 20 anos de carreira, e mesmo gozando de ampla liberdade, essa, digamos, letra miúda do contrato me incomodava, e cada vez mais.
Nesse aspecto, a noite que, desempregado, passei em claro concebendo O Livro dos Milagres foi meu momento de, como dizem os americanos, "put my money where my mouth is", ou, bancar minhas pretensões: eu não iria procurar outro emprego. Eu iria usar o tempo que tinha para escrever o que queria, do jeito que queria, e pronto. Iria apostar meus recursos numa tentativa de comprar o direito pleno de ser um quarentão rabugento.
O resultado desta aposta começa a sair agora, nesta quarta-feira. Vamos ver no que dá.
Imediatamente depois, na quarta-feira, acontece o esperadíssimo (ao menos, para mim) lançamento de O Livro dos Milagres, obra que escrevi em ritmo frenético no início deste ano e que a Vieira & Lent, num esforço heroico, conseguiu pôr no mercado em menos de nove meses.
Já escrevi sobre o livro neste blog anteriormente, mas talvez alguns dos meus leitores não saibam que uma espécie de "capítulo-trailer" está disponível no Amálgama.
Blogagem autobiográfico/confessional sempre me pareceu uma coisa meio babaca -- uma das minhas implicâncias com a literatura contemporânea é a de que, se eu quiser saber das angústias e agruras de um brasileiro de classe média, desajeitado, meio tímido e com pretensões intelectuais, não preciso ler 300 páginas de prosa pretensiosa, é só prestar atenção na minha própria vida -- mas, enfim, o fato é que Milagres tem um significado especial para mim.
Claro, todo livro tem um significado especial para o próprio autor, mas este é realmente mais especial que os demais. Não só porque é minha primeira obra de não ficção, mas também porque marca o fim de um ciclo na vida e, espero, o início de outro.
Concebi o livro numa noite de insônia, mais ou menos uma semana depois de perder o emprego. O clichê de estar subitamente desempregado na virada dos 39 para os 40 anos deu uma certa gravidade ao momento, mas não só: já fazia algum tempo que eu vinha reclamando (comigo mesmo e, crucialmente, com minha infinitamente paciente esposa) que eu me sentia velho (ou sábio, ou rabugento) demais para continuar a escrever sobre os outros achavam importante -- que é, basicamente, o que o jornalista assalariado faz: alguém, o pauteiro, o editor, o dono, decide que "X" é relevante, interessante, vai vender jornal, etc., e o jornalista se desincumbe da tarefa de produzir conteúdo sobre "X".
Para ser perfeitamente justo, em geral há um amplo espaço para negociação aí, e as sugestões do jornalista quase sempre são levadas em consideração. Mas, ainda assim: o repórter nunca tem a prerrogativa da última palavra. A liberdade de perseguir os próprios interesses é sempre condicional. Resumindo: depois de 20 anos de carreira, e mesmo gozando de ampla liberdade, essa, digamos, letra miúda do contrato me incomodava, e cada vez mais.
Nesse aspecto, a noite que, desempregado, passei em claro concebendo O Livro dos Milagres foi meu momento de, como dizem os americanos, "put my money where my mouth is", ou, bancar minhas pretensões: eu não iria procurar outro emprego. Eu iria usar o tempo que tinha para escrever o que queria, do jeito que queria, e pronto. Iria apostar meus recursos numa tentativa de comprar o direito pleno de ser um quarentão rabugento.
O resultado desta aposta começa a sair agora, nesta quarta-feira. Vamos ver no que dá.
Talvez isto não importe, mas eu acho que será seu livro que terá mais exemplares vendidos
ResponderExcluirGostei do que li no "capítulo-trailer"
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