Corinthians e Ed Witten
Nas últimas 24 horas, passei por duas experiências diametralmente opostas: assisti, no estádio Dr. Jayme Cintra, à partida entre Paulista de Jundiaí e Corinthians (0 x 0) e, no auditório da Unesp, em São Paulo, à palestra sobre Teoria das Cordas proferida por Edward Witten, um dos principais teóricos da área e o único físico a já ter recebido a Medalha Fields, concedida por avanços no campo na matemática (e que, compreensivelmente, costuma ser dada apenas a matemáticos).
Além do óbvio contraste entre os dois espetáculos, há o fato de que, no jogo de futebol, eu entendi praticamente tudo, mas não gostei de nada. Na palestra de Witten, não entendi quase nada, mas gostei de praticamente tudo.
Falando sério: fui a São Paulo com o espírito preparadíssimo para boiar em 90% do que era dito. Creio ter boiado, na verdade, em apenas 70%, e isso graças ao fato de ter concluído há pouco a leitura de The Hidden Reality: Parallel Universes and the Deep Laws of the Cosmos, de Brian Greene, que cobre boa parte do material tratado na palestra, mas num nível bem menos técnico.
(Para quem não leu nada sobre ciências nos últimos 30 anos, um rapidíssimo resumo: a Teoria das Cordas propõe que os constituintes fundamentais da matéria não são pontos dotados de massa, carga elétrica, etc., mas "cordas" -- coisas que possuem forma e comprimento. As cordas ajudam a eliminar alguns problemas matemáticos graves que aparecem quando se tenta calcular o que acontece em escalas extremamente pequenas, quando fenômenos quânticos e gravitacionais são ambos muito importantes.)
Além de apresentar um interessante resumo histórico (Witten contou que a primeira versão da teoria das cordas era uma tentativa de explicar o comportamento dos quarks, e não uma ambiciosa proposta de gravidade quântica), o físico foi muito claro ao afirmar que a teoria ainda tem muito o que avançar.
Ele insistiu que a Teorioa das Cordas tem uma espécie de "vontade própria", revelando novas conexões possíveis entre fenômenos e propondo modelos matemáticos inesperados. Na sessão de perguntas e respostas que se seguiu à palestra, Witten foi confrontado com a perene questão que inferna os teóricos das cordas: Como a teoria pode ser testada? Que previsões faz? Como poderia ser refutada?
A maioria dos críticos da Teoria das Cordas sustenta que, embora ela faça um bom trabalho em descrever o que já sabemos, não permite prever, de forma clara, resultados observáveis que estejam além da ciência atual.
(De novo, encurtando uma discussão que poderia ser bem longa: em ciência, geralmente considera-se que uma teoria só merece ser levada a sério se houver um meio concebível de provar que ela é falsa -- por exemplo, a afirmação "Deus é bom mas escreve certo por linhas tortas" não é científica porque nada que aconteça no mundo jamais poderá ser apresentado como prova de que Deus não é bom, já que Ele prefere usar "linhas tortas".)
Witten citou como exemplos de testes práticos da Teoria das Cordas a possível existência de partículas supersimétricas (que talvez venham a ser criadas no LHC), previstas na teoria, e o fato de alguns resultados do acelerador de partículas RHIC serem muito bem modelados com cordas.
Mas ele enfatizou que a verdadeira Teoria das Cordas ainda é desconhecida -- o que temos hoje são um punhado de teorias que parecem ser todas casos-limite de uma teoria mais profunda. No fim, disse: "A Teoria das Cordas continuará conosco até que uma teoria melhor apareça".
(Ah, sim: a foto lá em cima no canto sou eu em Jayme Cintra, usando um chapéu meio ridículo que comprei na exposição Dinos na Oca, anos e anos atrás)
Além do óbvio contraste entre os dois espetáculos, há o fato de que, no jogo de futebol, eu entendi praticamente tudo, mas não gostei de nada. Na palestra de Witten, não entendi quase nada, mas gostei de praticamente tudo.
Falando sério: fui a São Paulo com o espírito preparadíssimo para boiar em 90% do que era dito. Creio ter boiado, na verdade, em apenas 70%, e isso graças ao fato de ter concluído há pouco a leitura de The Hidden Reality: Parallel Universes and the Deep Laws of the Cosmos, de Brian Greene, que cobre boa parte do material tratado na palestra, mas num nível bem menos técnico.
(Para quem não leu nada sobre ciências nos últimos 30 anos, um rapidíssimo resumo: a Teoria das Cordas propõe que os constituintes fundamentais da matéria não são pontos dotados de massa, carga elétrica, etc., mas "cordas" -- coisas que possuem forma e comprimento. As cordas ajudam a eliminar alguns problemas matemáticos graves que aparecem quando se tenta calcular o que acontece em escalas extremamente pequenas, quando fenômenos quânticos e gravitacionais são ambos muito importantes.)
Além de apresentar um interessante resumo histórico (Witten contou que a primeira versão da teoria das cordas era uma tentativa de explicar o comportamento dos quarks, e não uma ambiciosa proposta de gravidade quântica), o físico foi muito claro ao afirmar que a teoria ainda tem muito o que avançar.
Ele insistiu que a Teorioa das Cordas tem uma espécie de "vontade própria", revelando novas conexões possíveis entre fenômenos e propondo modelos matemáticos inesperados. Na sessão de perguntas e respostas que se seguiu à palestra, Witten foi confrontado com a perene questão que inferna os teóricos das cordas: Como a teoria pode ser testada? Que previsões faz? Como poderia ser refutada?
A maioria dos críticos da Teoria das Cordas sustenta que, embora ela faça um bom trabalho em descrever o que já sabemos, não permite prever, de forma clara, resultados observáveis que estejam além da ciência atual.
(De novo, encurtando uma discussão que poderia ser bem longa: em ciência, geralmente considera-se que uma teoria só merece ser levada a sério se houver um meio concebível de provar que ela é falsa -- por exemplo, a afirmação "Deus é bom mas escreve certo por linhas tortas" não é científica porque nada que aconteça no mundo jamais poderá ser apresentado como prova de que Deus não é bom, já que Ele prefere usar "linhas tortas".)
Witten citou como exemplos de testes práticos da Teoria das Cordas a possível existência de partículas supersimétricas (que talvez venham a ser criadas no LHC), previstas na teoria, e o fato de alguns resultados do acelerador de partículas RHIC serem muito bem modelados com cordas.
Mas ele enfatizou que a verdadeira Teoria das Cordas ainda é desconhecida -- o que temos hoje são um punhado de teorias que parecem ser todas casos-limite de uma teoria mais profunda. No fim, disse: "A Teoria das Cordas continuará conosco até que uma teoria melhor apareça".
(Ah, sim: a foto lá em cima no canto sou eu em Jayme Cintra, usando um chapéu meio ridículo que comprei na exposição Dinos na Oca, anos e anos atrás)
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