Pessimismo neutraliza até analgésico

O pessimista tem a vantagem de nunca receber surpresas desagradáveis, diz o clichê. Mas ele pode também estar se privando de algumas coisas que, se não exatamente surpreendentes, certamente são agradáveis. Alívio da dor, por exemplo.

De acordo com experimenmto descrito na edição mais recente da revista Science Translational Medicine (STM), voluntários submetidos a uma dor controlada -- com uma fonte de calor encostada na panturrilha -- receberam um fluxo de solução salina que poderia conter ou não o analgésico remifentanil. Em alguns casos, os cientistas disseram aos voluntários que a solução já estava "dopada" com o analgésico; em alguns casos, deixaram o analgésico correr sem avisar ninguém; e ainda em outros casos, disseram que seria administrada uma droga que aumentaria a dor. Pediu-se aos voluntários, ainda, que dessem uma "nota" para a intensidade da dor que sentiam, de 0 a 100.

Resultado: os pacientes que tinham sido informados de que estavam recebendo o analgésico tiveram uma redução da intensidade média de dor de 66 para 35. Os que receberam o analgésico sem serem informados viram a dor cair de 66 para 55. Já os que foram avisados para esperar uma intensificação da dor viram a taxa média cair de 66 para 64.

(Esse último resultado é um lembrete de que o poder das expectativas também tem limites: o pessimismo virtualmente neutralizou a analgesia, mas não foi capaz de invertê-la. Fãs de O Segredo, tomem nota.)

Esse tipo de efeito já havia sido documentado em estudos anteriores, principalmente envolvendo comparação entre placebos. O médico e jornalista britânico Ben Goldacre conta o caso de um estudo realizado com estudantes que receberam pílulas -- azuis ou rosadas -- antes do início de uma palestra especialmente chata, sendo informados de que estariam tomando um sedativo ou um estimulante, mas sem saber qual pílula era o quê. De fato, ambas eram de açúcar. No fim, demonstrou-se que a rosada teve efeito estimulante e a azul, sedativo.

Outro estudo, com a substância oxazepram, mostrou que ela funcionava melhor como ansiolítico quando embalada numa cápsula verde, e como antidepressivo numa cápsula amarela.

O estudo na STM traz a novidade de ter sido feito com a tomada concomitante de imagens do cérebro dos voluntários, o que permitiu aos cientistas ver a operação fisiológica da expectativa. No caso do grupo que havia recebido a previsão pessimista, houve ativação de áreas do cérebro relacionadas à ansiedade.

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