Pô, sacanearam o Besouro Verde...

Às vezes (mais do que gostaria, para ser sincero) acabo dando à minha mulher motivo para me olhar como se eu fosse um marciano recém-caído na Terra. O mais recente foi no jantar de ontem, quando me queixei de que o filme do Besouro Verde tinha sido feito em tom de paródia.

-- O cara se chama Besouro Verde e você queria um filme sério? -- disse-me ela, estupefata, um misto de espanto e piedade em seus lindos olhos azuis arregalados.

Pois é. Eu queria. O personagem me intriga desde que assisti a episódios do seriado de TV com Bruce Leee e Van Williams. A ideia de um herói mascarado de sobretudo que se faz passar por gângster tem apelo, e me parecia cheia de potencial a ser realizado, à la Batman Begins, por exemplo.

Ah, sim: para que não achem (como minha mulher) que estou viajando na maionese, Matt Wagner escreveu uma bela minissérie, Green Hornet: Year One, nessa mesma premissa. E, nos anos 80 e 90, Ron Fortier produziu, para a NOW Comics, uma ambiciosa saga familiar envolvendo várias gerações de Besouros e Katos. Se a arte não era lá grande coisa e o roteiro às vezes sofria daquela mania da década de 80 de reduzir todos os heróis a fraudes ou psicopatas, o senso de potencial estava lá, de novo.

Talvez uma peça de época, algo entre Chandler e Spillane, com alguns toques do Sandman da Era de Ouro? O filme poderia ter saído por aí. Em vez disso...

Além do quê, o personagem tem pedigree. O Besouro Verde é parente do Lone "Zorro" Ranger. Ambos os personagens não só surgiram na mesma estação de rádio e sob os auspícios da mesma equipe criativa, como tinham diversos paralelos, incluindo o assistente "étnico" (Tonto, índio; Kato, japonês), como ainda mantêm uma relação de sangue: embora, por questões de direitos autorais, ela não seja explicitada atualmente, há insinuações, principalmente na série da NOW Comics, que o Besouro é sobrinho-neto do Ranger.

Mas de repente estou sendo chato e preconceituoso quanto às paródias em geral. A nova franquia cinematográfica da Múmia me deixou agoniado -- eu esperava algo com a atmosfera do filme de Boris Karloff e os caras vieram com uma imitação barata de Indiana Jones.

Minha impressão pessoal é a de que coisas como heróis mascarados e múmias ressuscitadas são tão intrinsecamente ridículas que parodiá-las é meio como bater em bêbado ou chutar cachorro morto...


Comentários

  1. Pois é, Orsi... Às vezes penso que viemos MESMO de outro planeta. Ainda não vi o Besouro Verde, mas a franquia da Múmia realmente é um desastre.

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  2. A franquia da Múmia diverte, é a isto que foi feita (e sinceramente acho que Indy IV foi feito pra competir com ela, se perdoam a heresia...). O problema é que ela, para divertir, impõe um padrão para a imersão, o de que nada pode ser feito efetivamente se não for na pilhéria. No momento em que soube que este filme seria com um dos expoentes do Moderno Cinema Retardado Americano, Seth Rogers, eu me desinteressei. Ora, se dá para fazer um filme tenso com um personagem chamado Batman (lembre à digníssima que, em Português, é Homem-Morcego, ao menos pra mim tão ridículo quanto Besouro Verde... estará a suspension of disbelief dependendo se um nome é ou não em inglês?), por que não com outro justiceiro da era do rádio, o Besouro Verde?

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  3. No momento em que a primeira "Múmia" trouxe Brendan Fraser no topo do cartaz, eu já sabia no que iria dar. Mas o plano de abertura de Tebas valeu meu ingresso. E, na minha opinião, a Múmia de Arnold Vosloo é bem assustadora; a cena do sepultamento que a "produz" realmente dá arrepio. O problema é que o filme como um todo é construído para ir noutra direção (aventura engraçadinha) e ganhar muito dinheiro com isso.

    Não falei de "Besouro Verde" porque sou um protetor das memórias de infância e o trailer do longa já me foi suficiente aviso. Seu post completou a sensação.

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