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Mostrando postagens de junho 4, 2017

Mulher-Maravilha e o Grande Desastre

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Esta postagem contém leves spoilers sobre o filme Muito se tem falado, e com, razão, da influência do trabalho do argumentista e desenhista George Pérez no título em quadrinhos da Mulher-Maravilha, principalmente no relançamento da personagem que ele promoveu na segunda metade da década de 80, sobre o filme em cartaz, estrelado por Gal Gadot. Assim como o filme, Pérez se preocupou em amarrar a personagem de modo mais consistente à mitologia grega e fez do deus da guerra, Ares, o principal antagonista. Mas, assistindo a Mulher-Maravilha no cinema, ocorreu-me que um outro canto, menos conhecido, do universo DC também teve papel importante, se não fundamental, na concepção do longa-metragem: a cronologia pós-apocalíptica do Grande Desastre. Dá para dizer que a primeira série vinculada ao Grande Desastre foi a de Kamandi, "o último rapaz da Terra", escrita e desenhada por Jack Kirby a partir de 1971. Mas a ideia de um universo completo vinculado ao Desastre -- uma tercei

Sorte ou mérito?

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O anúncio de que a Unicamp realizará estudos para implantar um sistema de cotas em seu vestibular reacendeu não só o debate em torno desse tipo específico de medida (sobre o qual já me manifestei aqui ), mas também uma discussão de fundo sobre a origem do sucesso (social, econômico, etc.): sorte ou mérito? Quando uma pessoa se destaca das demais, ela deve isso a suas qualidades e esforço, ou a oportunidades que o acaso jogou em seu caminho? A resposta óbvia seria "um pouco dos dois", mas daí surge uma nova questão: é meio a meio? um dos fatores predomina? Embora o bom senso sugira que cada caso é um caso, a polarização ideológica da sociedade atual levou à criação de campos distintos, com a direita batendo na tecla do mérito e a esquerda, na da sorte (ou "privilégio"). Para complicar ainda mais a situação, vieses cognitivos turvam a questão, com muita gente que "se deu bem" achando que conseguiu tudo sozinho, na marra; e com muita gente que enfrenta

Entusiasmo natural

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Uma das narrativas mais cativantes da ciência contemporânea é a do produto natural validado em laboratório: a história do(a) pesquisador(a) que se embrenha na mata, estuda aos pés de velhas benzedeiras e sábios pajés, leva a flor, a lagarta, a folha ou a raiz de volta para a civilização e, dali, obtém a molécula que vai combater a hipertensão, o câncer, as rugas e os pés-de-galinha. Há muito a admirar nesse tipo de conto. Entre outras coisas, ele sublinha o valor da biodiversidade e o fato de que a sabedoria tradicional e o conhecimento científico podem coexistir num clima de respeito mútuo e maior benefício para a humanidade. Seria difícil encontrar algo mais alinhado ao zeitgeist -- ou, ao menos, àquilo que as pessoas bem-pensantes gostariam que fosse o zeitgeist . O problema é que o entusiasmo com uma ideia que parece boa demais por motivos emocionais, morais ou políticos pode acabar escondendo evidências de que ela talvez não seja cientificamente tão sólida assim. Por ex