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Mostrando postagens de 2011

Aos homens e mulheres de boa vontade

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Resolvi aproveitar a postagem final do ano para tentar responder a uma pergunta que, sob várias formas, costuma aparecer nas caixas de comentários sempre que escrevo algo "desmistificador", como este texto sobre a natividade , minha pequena introdução ao estudo da Bíblia  ou, mesmo, que ouço de viva voz, quando discuto o meu recente Livro dos Milagres . A questão, como disse, vem em diversas roupagens, mas sua formulação mais geral é: "A quem você se dirige com isso?" Implícita por trás da pergunta está a premissa de que apontar o que há de mundano, contraditório e mitológico por trás das narrativas sagradas do cristianismo é inútil porque, (a) se o leitor já concorda comigo a priori , eu estou apenas chovendo no molhado; (b) se o leitor é um cristão fundamentalista, ele certamente tem um amplo arcabouço de justificativas e tergiversações à disposição capaz de neutralizar o impacto, se impacto houver, do que escrevo; (c) se o leitor for um cristão "liberal

E por falar em estrela de Natal...

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A Nasa divulgou a imagem abaixo, feita no dia 22 a bordo da Estação Espacial Internacional, mostrando cometa Lovejoy (descoberto no início do mês por um astrônomo amador australiano, Tom Lovejoy) passando por trás do horizonte terrestre. Originalmente, supunha-se que o Lovejoy teria sido destruído durante sua passagem pelo Sol, em 16 de dezembro. No fim, ele não só sobreviveu como ainda ofereceu o espetáculo abaixo. Via o blog DotEarth , do New York Times:

Feliz N(ew)atal a todos!

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Com este cartão do genial Terry Gilliam (via Broadsheet ): E um clipe de Natal do mesmo autor:

Planetas, planetas à mancheia...

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Ontem me perguntaram no Twitter qual a principal descoberta científica de 2011 e eu, para fugir das biomédicas (que geralmente são as que chamam mais atenção) respondi: a enxurrada de novos planetas descobertos. E, como se para confirmar minha impressão, algumas horas mais tarde saiu a notícia de que cientistas haviam confirmado a existência de dois planetas do tamanho aproximado da Terra, os tórridos Kepler 20e  e  Kepler 20f . Esta não é a primeira descoberta importante do Kepler anunciada neste mês: no início de dezembro, tinha sido apresentada a confirmação do primeiro planeta dentro da zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol, o Kepler 22b , com quase 3 vezes o raio da Terra. Esses anúncios esporádicos de certa forma mascaram a caudalosa produção científica que a sonda Kepler, um satélite capaz de medir a luz das estrelas com uma precisão tal que consegue notar quando um planeta passa diante de uma delas (imagine, em comparação, um fotômetro que avisa quando um grão

Estrela de Belém: da astronomia à literatura

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Chegando o Natal, o tema da "identificação" da Estrela de Belém tende a ressurgir na mídia. Para os infiéis mais desligados: essa estrela teria sido um fenômeno astronômico, ainda hoje não adequadamente identificado, que mostrou aos Reis Magos o caminho de sua pátria oriental até a casa de José em Belém, onde se encontrava o Jesus recém-nascido. (Um aparte: a ideia de que os visitantes eram "reis", cada um deles representando uma das raças não-semíticas predominantes do Velho Mundo -- um amarelo oriental, um branco europeu, um negro africano -- não tem apoio bíblico: o texto fala em magi , palavra usualmente traduzida como "magos", mas também usada em referência a sacerdotes do culto zoroastrista da Pérsia e, por extensão, a sábios e doutos em geral. Em inglês, eles são chamados apenas de wise men , "sábios". O texto do Evangelho de Mateus, único a mencionar esses magi , também não diz quantos eram eles. O número de três é deduzido a partir d

Os legados de Christopher Hitchens

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One of the joys of living in a world filled with stupidity and hypocrisy was to see Hitch respond. That pleasure is now denied us .  (Sam Harris) Eu devia ter escrito algo sobre a morte de Hitchens já há alguns dias, mas passei o fim de semana no Rio de Janeiro sem acesso decente à internet, então não deu para lançar nada no blog. Daí é que, com atraso, sai esta postagem. O principal legado de Christopher Hitchens é, obviamente, sua obra. Mal recebi a notícia de que ele havia morrido, baixei no kindle seu mais recente livro de ensaios, o Arguably . Lá estão a prosa ao mesmo tempo elegante e contundente, a descocertante combinação do eufemismo irônico com a honestidade bruta, um equilíbrio que Hitchens sabia manter como ninguém, manobrando com eficiência entre os abismos da afetação irritante, de um lado, e o da mera grosseria, do outro. Mas esta postagem será sobre outro tipo de legado deixado por Hitchens, o legado oferecido por sua ruptura com o que ele mesmo chamava de &qu

Tá, mas para quê serve esse tal de Higgs?

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Imagino que todo jornalista de ciência que está -- ou que já esteve -- ligado à grande mídia conhece a sensação: você começa a explicar ao editor por que é importante publicar algo sobre a descoberta X ou o experimento Y e, de repente, os olhos dele ficam vidrados, o cara abre a boca uma, duas vezes e, por fim, balbucia: "Tá, mas o que isso tem a ver com o mundo real? " Essa parte sobre "mundo real" é complicada, principalmente para quem trabalha com jornal ou TV, onde os recursos são altamente limitados (papel e tempo, respectivamente), mas também, cada vez mais, com produtos online -- já que a exposição na home-page (finita) do portal influencia a audiência de modo dramático, e a contagem de cliques é a medida suprema de relevância.  Dadas essas limitações, veículos de interesse geral -- grandes jornais, revistas, sites noticiosos -- tendem a, compreensivelmente, priorizar o chamado "hard news" (escândalos políticos, índices de inflação, estupr

Quem legislou as leis da Natureza?

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Muita coisa seria bem mais simples neste mundo se um número maior de pessoas tivesse uma noção mais firme dos limites da analogia e da metáfora. Imagino, por exemplo, que todo mundo entende que o fato de o amor ser como uma roseira, pois é belo mas tem espinhos, não significa que ele também precise de esterco curtido e torta de mamona para prosperar. Às vezes, no entanto, esse tipo de limite é difícil de achar. O caso da expressão lei da natureza é um clássico do tipo de confusão que surge nessas circunstâncias. Resumindo a postagem toda numa só frase, as "leis" naturais são descritivas , enquanto que as leis propriamente ditas, as leis das sociedades humanas, são prescritivas . A diferença entre os adjetivos é de apenas uma sílaba, mas compreende todo um universo de maus-entendidos, quando não de pura malícia. Expandindo: quando um órgão político produz uma lei, o que ele está fazendo, falando de modo bem generalizado, é restringindo comportamentos: dada a possibili

Física e jazz

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O que você acha que acontece quando a baqueta do baterista acerta o prato? O metal é mesmo sólido? Confira neste vídeo, que registra o impacto a 1.000 quadros por segundo:

A Natividade, uma obra de ficção

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Aqui no prédio em que vivo há um morador profundamente cristão, que adora adornar o quadro de avisos do elevador social com mensagens edificantes sobre "nós, cristãos" ou sobre como podemos "praticar melhor o nosso cristianismo". Aproveitando o impulso do artigo de ontem de Daniel Sottomaior na Folha , fiquei imaginando como seria colocar, no mesmo quadro, uma pensata sobre o quanto é deselegante e presunçosa essa premissa de que todos os moradores do prédio são cristãos e, portanto, têm algum interesse nesse tipo de baboseira. Ou apenas rabiscar, "Nós quem, cara-pálida?" Mas, em nome da paz dos condomínios, me contenho, me contenho. De qualquer modo: o cartaz mais recente é sobre o que o presépio revela sobre, adivinhe só, o melhor modo de viver uma vida cristã e, claro, prestar o devido respeito à figura de Jesus. Pessoalmente, considero presépios criações bem interessantes. Não sei o bastante sobre história da arte para afirmar algo, mas tal

Ciência, saúde e a maldição do "personagem"

Acho que já fiz, no passado, um longo "rant" contra um vício particular que vem tomando conta do jornalismo na área de saúde, a saber, o de que toda matéria tem de girar em torno de um "personagem". Partindo do pressuposto de que o leitor médio de jornais e revistas é incapaz de, ou está indisposto a, prestar atenção em qualquer narrativa um pouco mais complexa que um roteiro de telenovela, os editores passaram a exigir que virtualmente qualquer reportagem sobre doenças ou tratamentos tenha "personagem", e.g., uma pessoa que sofre da moléstia/passa pelo procedimento.  (Isso ajuda a explicar, entre outras coisas, a superpopulação de jovens mães na casa dos 30, estudantes universitárias, empresárias, jornalistas, publicitárias que infesta as narrativas midiáticas: o jornalismo é cada vez mais uma profissão feminina, e a busca insana por personagens acaba levando as autoras a "caçar" fontes em seu próprio extrato demográfico.)  Não estou dize

O poder de prever o futuro

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A edição de dezembro da edição americana da Scientific American (e talvez a brasileira também; aliás, parabéns à SciAm Brasil por publicar um artigo de Michael Shermer ! espero que vire hábito) traz um artigo sobre o Projeto FuturITC, que pretende criar um computador capaz de modelar o mundo -- integrando os zilhões de bits produzidos diariamente sobre clima, economia, política, etc., para "prever o futuro". Ou, mais precisamente, criar cenários que possam informar as decisões de líderes políticos, agências internacionais, etc, etc. Usando um exemplo da própria revista, a máquina poderia calcular quais as consequências mais prováveis de a Grécia abandonar o euro. Ou, para ficar mais perto, quais seriam as consequências de longo prazo da aprovação do novo Código Florestal brasileiro. Uma possibilidade especialmente instigante é a de o FuturITC gerar respostas francamente contraintuitivas -- por exemplo, que o aumento do desmatamento da Amazônia ajudaria a salvar o urso

A 'dívida' do Ocidente para com o cristianismo

Volta e meia esbarro por aí com alguém soltando a velha conversa fiada de que as grandes conquistas da Civilização Ocidental são uma dádiva do cristianismo para o mundo. Ela ressurge, de modo nada surpreendente, neste artigo de Ives Gandra, publicado na Folha de S. Paulo . Como eu pessoalmente partilho da opinião de Bertrand Russell -- para quem a única contribuição positiva do cristianismo foi o calendário, com seu sistema até que relativamente estável e racional de anos bissextos -- resolvi fazer aqui um rápido catálogo de desmentidos para, talvez, orientar os mais desavisados. Vamos lá: Sem o conceito de um deus único, responsável pela ordem natural, a ciência, como busca de regularidades e leis na natureza, teria sido filosoficamente impossível, e estaríamos até hoje imersos em superstições. Papo furado. A ideia de que eventos naturais são explicáveis por meio de causas naturais regulares remonta (pelo menos) a Tales de Mileto , uns 500 anos AEC. Foi o cristianismo que nos

Quem tem medo do materialismo?

Uma nota recente sobre a busca de uma espiritualidade laica pelo Partido Verde , somada a um artigo publicado no meio do ano na revista Free Inquiry , intitulado Repackaging Humanism as 'Spirituality' ("Reembalando o Humanismo como 'Espiritualidade' ") acabou chamando minha atenção para (mais uma) das armadilhas semânticas armadas pelo condicionamento cultural religioso: o tabu em torno da palavra "materialismo", e o senso de superioridade moral e estética umibilicalmente ligado a qualquer coisa "espiritual". A coisa é quase pavloviana: "espiritual" é bom, generoso, elevado, faz sorrir; "materialismo" é feio, grosseiro, superficial, traiçoeiro; dá um nó nas entranhas. Mas, como já dizia Carl Sagan, não deveríamos pensar com as entranhas. Daí: qual, exatamente,  o problema com o materialismo? Antes de mais nada, vamos limpar um pouco a atmosfera e distinguir entre o que poeríamos chamar de "materialismo moral&qu

Semana cheia: utopia e lançamento!

Esta semana transcorrerá, como costumavam dizer antigamente, em ritmo febril. Na terça-feira, tem a Jornada de Estudos sobre Utopia e Ficção Científica , na Unicamp, que vai tratar de temas que vão da obra de Octavia E. Butler a Berilo Neves , e na qual terei uma modestíssima participação, num diálogo com o pesquisador Alfredo Suppia sobre como é fazer ficção científica no Brasil. Imediatamente depois, na quarta-feira, acontece o esperadíssimo (ao menos, para mim) lançamento de O Livro dos Milagres , obra que escrevi em ritmo frenético no início deste ano e que a Vieira & Lent, num esforço heroico, conseguiu pôr no mercado em menos de nove meses.  Já escrevi sobre o livro neste blog anteriormente, mas talvez alguns dos meus leitores não saibam que uma espécie de "capítulo-trailer" está disponível no Amálgama . Blogagem autobiográfico/confessional sempre me pareceu uma coisa meio babaca -- uma das minhas implicâncias com a literatura contemporânea é a de que, se eu

A lição de Henfil para os rebeldes da USP

É provável que a sociedade em geral jamais venha a saber o que realmente aconteceu na desocupação da reitoria da Universidade de São Paulo, por exemplo, se as depredações foram feitas pelos estudantes ou pela PM, ou se coquetéis molotov já estavam lá ou foram plantados. Pessoalmente, acho plausível que a quebradeira tenha sido causada pelos policiais, já que barulho e destruição são táticas psicológicas clássicas  para produzir pânico e submissão (e de um ponto de vista puramente objetivo, é melhor paralisar as pessoas de medo, quebrando cadeiras, do que paralisá-las fisicamente, quebrando ossos), mas sou mais cético em relação aos coquetéis. De qualquer modo, o verossímil e o verdadeiro não necessariamente coincidem, e salvo aparecer um vídeo por aí mostrando quem quebrou o quê, o assunto passa a ser menos uma questão de fato e mais de paixão. E foi em meio à confusão retórico-passional que me lembrei de uma crônica escrita pelo grande cartunista Henfil, nos capítulos finais da di

Mr. Pond e a PM na USP

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The Paradoxes of Mr. Pond é um livrinho de contos de mistério escrito pelo britânico G.K. Chesterton e publicado originalmente há quase 100 anos. Hoje em dia, a figura de Chesterton -- um ateu convertido ao catolicismo que até criou um sacerdote-herói para uma série de contos policiais, o Padre Brown -- foi meio que sequestrada pela ala mais intelectualizada direita católica, que o usa como garoto-propaganda póstumo . Isso de certa forma é uma pena, já que joga uma sombra sobre sua obra literária, que embora resvale para o proselitismo aqui e ali, é muito mais rica, anárquica e divertida do que se poderia esperar de um sujeito que atualmente só é conhecido como o autor de uma apologia religiosa chamada Orthodoxy (Ortodoxia). Além do Padre Brown, Chesterton criou diversos outros detetives, como Horne Fisher, O Homem que Sabia Demais; ou Gabriel Gale, o poeta no asilo de lunáticos; e Mr. Pond, o homem que vê o mundo com clareza -- através de paradoxos. No primeiro conto de Mr. Po

Máquina a vapor feita de vidro

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Para todos aqueles que sempre acharam que física e engenharia são coisas sem graça ou poesia:

Falando em Marte: russos pedem ajuda!

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Além do robô americano Curiosity, outra missão audaciosa a Marte será lançada neste mês -- a russa Phobos-Grunt, que tentará trazer uma amostra do solo de Fobos, uma das luas marcianas, apar análise por cientistas aqui na Terra. O lançamento está previsto para o próximo dia 8.  O blog da missão publicou há pouco um pedido para que observadores na América do Sul tentem acompanhar duas ativações dos motores dos foguetes que levarão a sonda a Fobos. Uma dessas queimas vai acontecer diretamente sobre o Brasil, de Curitiba a Fortaleza, como se vê no mapa abaixo (a linha vermelha marca a trajetória): O momento previsto para o início da queima é às 20h55min48seg do dia 8, com o fim da operação às 21h05min18seg. Os detalhes completos de trajetória e horários podem ser acessados aqui .  Os russos pedem que, quem puder, tente observar o brilho da pluma de gases da queima de combustível com telescópios, já que a agência espacial russa não tem estações de rastreamento na América do

Mais um robô deve partir para Marte neste mês

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Eis uma coisa que me dá saudade de editar ciência num grande veículo de comunicação: estou perdendo a oportunidade de ter os recursos para produzir um material fantástico a respeito do lançamento do robô Curiosity a Marte. A janela para a partida da missão se abre neste mês . (Se bem que, dependendo do veículo, eu não ia ter tempo de elaborar nada porque a chefia ia querer fotos de piranhas hemafroditas ou galinhas de duas cabeças, além de uma "repercussão com especialistas" da mais recente fórmula maluca da BBC .) Para quem andou hibernando nos últimos anos: o Curiosity, também conhecido como Mars Science Laboratory, é um robô do tamanho aproximado de um jipe, dotado de um gerador nuclear de eletricidade (ele é pesado e complexo demais para rodar apenas com energia solar), tem uma arma laser   para vaporizar rochas (e depois analisar os gases produzidos) e, como se tudo isso já não fosse legal o bastante, vai pousar em Marte usando um guindaste voador -- ilustrado abaix

O robô-lagartixa

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O vídeo abaixo mostra um robô capaz de escalar paredes lisas: As lagartas do robô são revestidas com um adesivo biomimético -- isto é, que imita as propriedades adesivas de animais capazes de escalar paredes, como lagartos. O artigo que descreve a tecnologia está qui .

Halloween? Esta é a noite de Harry Houdini!

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Já que estamos importando várias das tradições da cultura americana para a noite de 31 de dezembro, que tal esta: tentar entrar em contato com a alma desencarnada de Harry Houdini ? Houdini, para quem talvez não esteja ligando o nome à pessoa, foi um dos maiores mágicos do início do século passado, e também um proeminente caçador de falsos médiuns. Onde outras pessoas viam comunicação com os mortos, Harry via truques de mágica sendo usados para manipular as emoções (e esvaziar as carteiras) de vítimas indefesas.  Ele se envolveu em vários casos, escreveu livros sobre detecção de fraude -- A Magician among the Spirits é um clássico -- e acabou perdendo a amizade de Sir Arthur Conan Doyle quando não acreditou que uma carta psicografada pela esposa do grande escritor tivesse mesmo vindo do além. E foi épico seu duelo com a médium e femme-fatale (de acordo com o biógarfo de Houdini Milbourne Christopher, ela teria seduzido pelo menos um dos investigadores encarregados de avali

Lendo gente de quem discordo

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Por conta de alguns projetos que, se Eris e Dysnomia quiserem, devem dar frutos no ano que vem -- e também por uma medida de arejamento mental -- ando metido, nos últimos tempos, na leitura de uma série de livros de autores com quem tenho discordâncias profundas. Nesta sexta, aproveitando o feriado do servidor público, peguei, de uma sentada só, o clássico Dynamics of Faith , de Paul Tillich. Tillich, já falecido, é considerado um dos principais teólogos cristãos do século passado, e um símbolo do tipo de teologia sofisticada e intelectualmente responsável que muita gente cita em oposição às "caricaturas grosseiras" supostamente construídas por Richard Dawkins e Christopher Hitchens em seus ataques à religião. Mas, afinal, o que é uma teologia sofisticada? Num dado momento, discutindo a existência de Deus, Tillich escreve: "Se 'existência' se refere a algo que possa ser encontrado dentro da totalidade da realidade, então nenhum ser divino existe" . Ora b