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Mostrando postagens de março 6, 2011

Mais um avanço médico para o Vaticano dar palpite...

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Sou só eu que acho a maioria das questões bioéticas envolvendo óvulos e embriões são, na verdade, não-questões, que só chamam atenção porque a mídia insiste em dar voz a uma intensa claque obscurantista, descendente ideológica do mesmo pessoal que, no século XIX, era contra o uso de anestesia no parto, porque no livro do Gênese fica claro que Deus faz questão  que as mulheres sofram ao dar à luz ( Gn 3:16 )? A dúvida me ocorre diante deste despacho da agência Reuters , dando conta de que médicos britânicos aperfeiçoaram uma técnica que permite transferir o núcleo de um óvulo humano fecundado para outro óvulo, do qual todo o material nuclear foi previamente extirpado. A técnica permite usar fertilização in vitro para evitar doenças transmitidas pelo DNA mitocondiral. Que, como o nome diz, existe fora do núcleo celular, nas mitocôndrias. Para além das questões éticas envolvidas em qualquer tipo de nova intervenção médica -- é seguro? os benefícios superam os riscos? -- o procedime

Buraco negro no Olho de Sauron

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Não, não se trata de um crossover entre Star Trek e Senhor dos Anéis, e sim de uma imagem gerada pelo Observatório Chandra de Raios X, a saber: Descendo aos detalhes picantes: esta é uma foto da região central da galáxia NGC 4151, apelidada de "Olho de Sauron" pelos astrônomos -- depois vem gente reclamar dos estereótipos em Big Bang Theory -- localizada a 43 milhões de anos-luz de nós. Sua principal atração turística é o buraco negro ativo no núcleo. A "pupila" azul do olho é formada pelos raios-X emitido pela matéria que cai no buraco. O contorno vermelho são emissões de ondas de rádio. Mais detalhes sobre a galáxia e o buraco negro (bem como outras versões da foto acima) podem ser obtidos aqui .

Como o pênis humano perdeu seus espinhos

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Não consigo deixar de imaginar que não é mera coincidência a Nature publicar este artigo na mesma semana do Dia Internacional da Mulher. Cientistas analisaram 510 sequências de DNA que são muito comuns em chimpanzés e outros mamíferos, mas que desapareceram do genoma humano. Esses trechos sumidos são regulatórios -- controlam a intensidade da expressão de outros genes. Um desses pedaços que faltam no genoma humano, por exemplo, tem a função de impedir o crescimento de certas partes do cérebro. Mas o que realmente chamou atenção foi o sumiço de uma sequência que administrava um gene ligado ao controle hormonal masculino. Aparentemente, sem esse fragmento específico, os homens não desenvolvem bigodes sensíveis -- como o dos gatos -- e espinhos no pênis. Diversas espécies de mamíferos têm machos equipados com isso: espinhos de queratina, que se fixam no interior da vagina durante o coito. De acordo com este artigo sobre o cio dos felinos , "é incerto se, no momento da remoçã

Nós realmente precisamos de raízes?

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A noção de "origens" ou "raízes" -- culturais, sociais, genéticas, etc. -- é um fetiche caro tanto ao discurso de esquerda quanto ao de direita, ainda que cada um dos lados do espectro político seja bastante seletivo quanto ao tipo de "raiz" que deve ser valorizado (as tradições dos "povos oprimidos" num caso, as "raízes cristãs da Europa", no outro, por exemplo). O apelo às raízes tem um poder retórico e emocional tão forte que muitas vezes surgem disputas sobre qual a "verdadeira raiz" disso ou daquilo: afinal, quem estava primeiro na Palestina, árabes ou judeus? A civilização evoluiu a partir de uma organização matriarcal ou patriarcal? O cinema (a literatura, a música, o teatro) que Fulano ou Beltrano faz é "nacional" ou "colonizado"? A figura do herói que "reencontra suas raízes" e, por meio delas, triunfa, é um dos clichês mais cansados de toda a ficção. (Há alguns anos, quando foi levan

Bactérias em meteoritos? Esperemos para ver

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O pesquisador Richard Hoover, da Nasa, acredita ter encontrado sinais de que  bactérias viveram no interior de pelo menos três meteoritos -- quando esses meteoritos ainda eram parte de asteroides girando pelo espaço. A hipótese e as evidências oferecidas em apoio não foram publicadas numa revista científica de grande prestígio, no entanto, e sim no Journal of Cosmology , uma publicação online conhecida por dar apoio a propostas altamente especulativas, quando não francamente visionárias, e talvez não num bom sentido (como esta tentativa de desprovar o Big Bang ). Em comparação, a possibilidade de o meteorito marciano ALH 84001 conter traços de vida extraterrestre foi apresentada, em 1996, na revista Science , um dos mais ortodoxos meios de divulgação de ideias e estudos científicos -- e a autenticidade da descoberta ainda é debatida até hoje, com novos argumentos em torno da questão tendo sido apresentados em 2009 . Assim como no caso de ALH 84001, a tese de Hoover depende de uma

Não, Virgínia, a ciência não encontrou provas de precognição

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Confesso que desde novembro do ano passado eu vinha esperando algum veículo da imprensa brasileira resolver divulgar, de forma sensacionalista, o artigo "Feeling the Future: Experimental Evidence for Anomalous Retroactive Influences on Cognition and Affect" , de autoria do pesquisador Daryl Bem e que relata nove experimentos que testaram a capacidade humana de prever o futuro -- alguns dos quais, segundo o autor, obtiveram resultados positivos. Com os meses passando e o relativo silêncio sepulcral na mídia tupiniquim -- entre as exceções, houve um artigo bem ponderado e nada sensacionalista de Hélio Schawrtsman -- eu já estava quase começando a me sentir culpado por esperar o pior. ( Adendo : o iG publicou uma extensa entrevista com Daryl Bem em janeiro; e agora em março a revista Mente e Cérebro  trouxe artigo a respeito. Isso é pra eu aprender a não fazer mais afirmações categóricas sobre o que saiu ou deixou de sair por aqui...)  Mas, confirmando o dito de H.L. M