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Mostrando postagens com o rótulo pensamento crítico

Homeopatia, espiritismo e o poder de uma hipótese

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Não sei como andam as coisas nas editorias de Ciência dos jornais hoje em dia, mas nos anos em que cuidei do assunto, no Estadão.com.br, era com uma certa frequência -- digamos, uma vez a cada trimestre -- que aparecia, na caixa de e-mail ou entre as sugestões trazidas por colegas de outras áreas, a notícia de um estudo "provando" a eficácia da homeopatia em animais (ou no combate de alguma aflição humana específica) ou de uma pesquisa a confirmando a existência de forças espirituais, e/ou a respeito do "poder de cura" de certas práticas mediúnicas. Exatamente uma única vez, chamaram-me a atenção para um trabalho realizado na UnB que teria provado a validade da astrologia. Estudos assim sempre me deixavam estupefato. Se tivessem sido realmente bem executados e suas conclusões fossem válidas, deveriam estar sendo publicados na Science ou na Nature -- sendo esta última, historicamente, uma publicação bastante aberta a conclusões polêmicas, tendo dado guarida, por...

Guia de sobrevivência para bruxas romenas

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Talvez você tenha lido a notícia segundo a qual as bruxas da Romênia estão preocupadas com um projeto de lei que poderá mandá-las para a cadeia caso façam previsões que não venham a se cumprir (o texto do G1.com está aqui ). Não sei exatamente que tipo de treinamento as místicas romenas recebem, mas elas não deveriam temer o novo projeto. Fazer previsões infalíveis é relativamente simples. Os truques são: 1. Soe confiante, mas humilde . Você deve ser firme no que diz, mas ao mesmo tempo resguardar-se com ressalvas do tipo "esse poder não funciona sempre" ou "tenho a impressão de que estou recebendo..." ou o clássico "isso faz sentido para você?" A mistura do tom de autoridade com as ressalvas faz com que o consulente se sinta culpado caso alguma parte da previsão pareça não funcionar: ele vai achar que não interpretou direito o que você disse. 2. Pesquise as estatísticas . Por exemplo, de acordo com dados de 2010 do Dieese, o tempo médio que uma pesso...

Power Balance quer ser homeopatia quando crescer

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O website americano do fabricante das pulseiras Power Balance -- aquelas faixas de borracha com um holograma de cartão de crédito em cima, que serviriam para "harmonizar as energias", seja lá o que isso for -- publicou uma nota  dizendo que "defende seus produtos". "Ao contrário de recentes alegações na imprensa australiana, a Power Balance não fez nenhuma alegação de que as pulseiras não funcionam. Isso é simplesmente falso", prossegue o texto, que diz que "aparentemente, algumas alegações em nossos anúncios australianos não atendiam aos padrões da ACCC", sigla do órgão de defesa do consumidor da Austrália. Esse "aparentemente" é intrigante. Se o autor da declaração no site americano tivesse se dado ao trabalho de consultar o website australiano das pulseiras milagrosas, teria encontrado (com alguma dificuldade, é preciso reconhecer) a seguinte nota : "Em nossa publicidade, afirmamos que as pulseiras Power Balance melhoram ...

'A quem isto serve?', ou o uso crítico do senso crítico

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Pegando carona nesta postagem do blog Rainha Vermelha, e também na avalanche de comentários que o Amálgama recebeu depois de reproduzir este meu texto sobre homeopatia , queria comentar algo sobre o triste estado em que se encontra o chamado "senso crítico" hoje em dia. Como Descartes já havia dito a respeito de "bom senso", "senso crítico" é um item extremamente raro, na medida em que é valioso e, ao mesmo tempo, todas as pessoas parecem satisfeitas com o tanto que têm. Ao contrário da maioria das coisas a que a humanidade dá valor -- dinheiro, fama, saúde ou beleza, por exemplo -- e das quais muito nunca parece chegar a suficiente , com o "senso crítico" tudo mundo está satisfeito. Infelizmente, a amostra disponível no mundo virtual sugere que quase todo mundo se contenta com muito pouco. As ocorrências do que passa por "senso crítico" nas caixas de comentário de blogs e reportagens me lembram do meu tempo de faculdade de Jorna...