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Sorte, riqueza e a ilusão do controle

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Sorte e acaso são termos que andam meio fora de moda. O ser humano sempre gostou de ter algum senso de controle sobre seu destino, e as atuais teologias da prosperidade, somadas à enxurrada de literatura de autoajuda, só fizeram agravar o processo, vendendo uma supersticiosa ilusão de controle às massas afoitas. Claro, não se trata de dizer que a sorte é tudo  -- preparação, empenho, senso de oportunidade, clareza de visão... tudo isso tem um papel, e um papel importante. Mas é preciso reconhecer como é forte a tentação de se cair no extremo oposto: achar que todas as coisas que ocorrem, acontecem por algum motivo. Que as pessoas sempre e inevitavelmente merecem o que acontece a elas, seja fortuna ou desgraça. Em termos teológicos, substitui-se a doutrina paulina da graça -- segundo a qual Deus distribui dores e recompensas de modo inescrutável -- por uma visão supersticiosa, quase mecanicista, do funcionamento dos céus: feitos tais e tais sacrifícios (seja um holocausto d...

Usando o cérebro para prever sucesso

Estúdios de cinema fazem exibições para plateias de teste; escritores, cada vez mais, apelam para "beta readers", amigos que leem as obras e dão opiniões -- espera-se -- sinceras, antes que os textos cheguem às mãos de um editor; editoras de livros têm uma reserva de "leitores profissionais" que tentam determinar as qualidades dos livros em perspectiva; editores de jornais, revistas e de websites apresentam suas propostas de reforma editorial a grupos de foco. Todos esses métodos têm como objetivo reduzir o risco envolvido no lançamento de uma obra, criando um modelo que permita prever a reação do mercado (e, eventualmente, matar um projeto destinado ao fracasso antes que ele vire um buraco negro de recursos). As falhas desse sistema são notórias: abundam casos de obras rejeitadas seguidas vezes que acabaram virando sucesso, bem como trabalhos aprovados com honra e distinção pelos grupos de teste e que acabaram fazendo tanto sucesso quanto um steak tartare numa...

Calote digital e a natureza humana

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Não sei quantas pessoas, aqui no Brasil, já ouviram falar num website chamado prosper.com, onde pessoas (na verdade, apenas residentes de cerca de 25 Estados norte-americanos) podem fechar negócios de empréstimo de dinheiro entre si, sem precisar recorrer a bancos ou financeiras. Funciona assim: um usuário - que faz login na categoria "quero tomar emprestado" - cadastra suas necessidades monetárias, que vão parar numa lista;  outro - que faz login na categoria "quero emprestar" - tem acesso à lista, decide quem parece mais merecedor de empréstimo. Uma taxa de juros é calculada pelo sistema, o tomador recebe o dinheiro e então faz pagamentos mensais ao emprestador. Pondo de lado o aspecto econômico do sistema e seus possíveis impactos no mercado financeiro tradicional (é curioso imaginar o que algo do tipo faria com os juros praticados, por exemplo, no Brasil), as interações no prosper.com chamaram a atenção por outro motivo: trata-se, afinal, de uma espécie de r...