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Mostrando postagens de junho 3, 2012

'Mais de um modo de queimar um livro', a lição de Bradbury

Morreu Ray Bradbury. Tinha 91 anos, quatro filhas, era viúvo de uma mulher com quem viveu por mais cinco décadas, ganhou a vida fazendo o que amava e era muito bom no que fazia. É o tipo de morte que se lamenta mais por nós mesmos, que continuamos vivos, mas radicalmente empobrecidos, do que pelo morto. Ao partir, Bradbury não "perdeu" a vida. A vida é que o perdeu. Exemplares de três de seus livros -- O País de Outubro , As Crônicas Marcianas , Os Frutos Dourados do Sol -- desmancharam-se em minhas mãos, de tão lidos, e isso há uns 20 anos. Confesso que, de meados da década de 90 para cá, a obra de Bradbury vem representando uma parcela cada vez menor de minha dieta literária. Muda-se de idade, mudam-se os gostos: a ingenuidade poética que tanto encanta seus leitores mais fiéis a mim passou a soar, cada vez mais, como uma espécie de despropósito. Passei a valorizar e a buscar em minhas leituras  uma prosa mais seca, um tipo de enredo mais enxuto, uma narrativa mais obje

Quem, afinal, cria tecnologia no Brasil?

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Semana passada, passei praticamente uma manhã inteira conversando com o professor Ennio Peres da Silva, responsável pelo Laboratório de Hidrogênio (ou "LH2", como também é conhecido) da Unicamp. Criado durante o choque do petróleo da década de 70, o laboratório nasceu como parte do esforço realizado pelo Brasil, na época, para se libertar da dependência do óleo importado. O raciocínio, explicou-me o professor, era o seguinte: o Brasil da época tinha escassez de petróleo, mas eletricidade abundante. Haveria, então, como transformar a eletricidade em combustível? Uma opção seria usar energia elétrica para separar o hidrogênio da água e, então, usá-lo para mover veículos. Os carros elétricos Vega, movidos a célula de combustível  de hidrogênio, são uma das criações do LH2. Não seria difícil olhar para o LH2 como uma espécie de relíquia dos anos de nacionalismo e estatismo megalomaníacos da ditadura, e aos carros Vega como uma espécie de elefante branco, mas o laboratório