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Mostrando postagens de setembro 3, 2017

Ciência das confissões e testemunhas

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Confissões e testemunhos oculares são, ao contrário do que a maioria das pessoas parece imaginar, os tipos mais fracos de evidência, e os que mais levam a condenações injustas. O trabalho da ONG americana Innocence Project mostra que 70% das condenações revertidas graças a exames de DNA tiveram, como principal causa, equívocos cometidos por testemunhas. O assunto foi tema de um estudo financiado pelo governo dos Estados Unidos e que acabou resumido num artigo publicado, neste ano , no periódico PNAS . Diz o paper que "as ciências da visão e da memória indicam que erros judiciários baseados em testemunhos oculares são prováveis, a priori , dadas as condições de incerteza, viés e excesso de confiança". Excesso de confiança é uma expressão-chave: pesquisa publicada em 2003 sobre memórias de eventos de forte apelo emocional (no caso, o ataque às Torres Gêmeas de Nova York), revela que o grau de confiança que uma pessoa diz ter em suas lembranças não se correlaciona com a

Judiciário americano e mudança climática

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A Justiça dos Estados Unidos vem sendo cada vez mais acionada em ações envolvendo mudança climática, e o Judiciário vem assumindo um papel importante na formulação da política climática, afirma artigo publicado na edição mais recente da revista Science . O trabalho, que pode ser acessado neste link , é de autoria de pesquisadores da Universidade George Washington. "Questões científicas associadas à mudança climática não são muito diferentes de grandes controvérsias anteriores que levaram à litigação, como as que envolveram o tabaco e a exposição a produtos químicos", escrevem os autores. "Esses casos podem oferecer insights sobre os possíveis desenvolvimentos na litigância climática, mas a mudança climática também poderá gerar respostas jurídicas únicas". Por meio de nota, uma das autoras do estudo, Sabrina McCormick, disse que "decisões judiciais que apoiam ou detêm a ação do governo na questão da mudança climática terão impactos nas emissões de gase

Em publicação científica, presas e predadores se confundem

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Países de origem dos autores responsáveis por artigos em periódicos predatórios.  Mohrer et. al .  O Brasil é o 13º país que mais inclui trabalhos científicos sobre biomedicina em periódicos internacionais considerados “predatórios”, que cobram para aceitar artigos e publicam-nos sem exigir qualidade mínima ou submetê-los a um processo adequado de revisão pelos pares. De um levantamento de mais de 1,9 mil artigos lançados em 2016, em mais de 200 desses periódicos, vinte e sete, ou 1,4%, tinham, como principal autor ou autor correspondente, um brasileiro. Os países que dominam esse “ranking negativo” da ciência são Índia (27%), EUA (15%), Nigéria (5%), Irã (4%) e Japão (4%). O levantamento, encabeçado pelo pesquisador canadense  David Mohrer,  do Ottawa Hospital e da Universidade de Ottawa, fundamenta  um duro artigo de opinião publicado na edição desta semana na revista Nature . Para os autores, o principal achado da pesquisa foi que, ao contrário do que a comunidade científi

Lição de jornalismo de Carl Kolchak

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Tem gente que diz que escolhas profissionais passam, muitas vezes, por protótipos da ficção: advogados que optaram pelo direito depois de assistir a  Perry Mason, ou médicos inspirados por, sei lá, M*A*S*H* ou Grey's Anatomy .  Há até quem diga que todo jornalista sonha em ser Clark Kent. No meu caso particular, no entanto, se há alguma inspiração em heróis ficcionais, é Carl Kolchak. O personagem foi criado pelo escritor americano Jeff Rice (1944-2015) para seu romance The Kolchak Papers . Antes mesmo que o livro viesse a ser lançado, a história teve seus direitos vendidos para televisão é foi adaptada por Richard Matheson -- mais conhecido pelo romance Eu Sou a Lenda e por ter roteirizado boa parte da série original Além da Imaginação e dos filmes de Roger Corman "baseados" em Edgar Allan Poe --  como o telefilme The Night Stalker . A história gira em torno de um repórter, o Kolchak do título, que descobre que um serial-killer que ataca em Las Vegas é, na

Ciência marcha em legítima defesa

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Às vezes, um grupo de estudantes universitários me convida para falar sobre divulgação científica. Sempre que posso, compareço, e faço alguma versão da minha apresentação "evangélica" sobre a necessidade de os cientistas se envolverem coma  população em geral, comunicando suas descobertas e tendo o máximo possível de paciência com a mídia. As razões que apresento dividem-se em três grupos: prestação de contas (a pesquisa é financiada com dinheiro público), manutenção da democracia (sem acesso a conhecimento confiável, cidadãos e governos tendem a fazer merda) e a última, que cito enquanto apresento o impressionante slide abaixo... Morihei Ueshiba, fundador do aikidô, arremessa um discípulo ... é defesa pessoal . Basicamente, numa sociedade onde as pessoas responsáveis por definir o orçamento público são eleitas pelo voto popular, a distribuição das verbas tende a refletir as pressões vindas do eleitorado (ou dos financiadores de campanha, mas essa é outra história). S