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Mostrando postagens de 2012

Mensagem natalina

"Tão inevitável quanto o próprio Natal são os excessos que o acompanham: de gastos, de comida, de bebida, de riso e de uma alegria que parece não ter outra fonte além da constatação de que, a despeito dos melhores esforços de nossos sábios e hábeis líderes, o país, a civilização e o mundo duraram mais um ano." Este é o início de meu artigo sobre a temporada de festas, que pode ser lido, na íntegra, na Folha de S. Paulo desta segunda-feira, 24 .

Bond, James Bond, 60 anos

As comemorações, em 2012, dos 50 anos da série cinematográfica de 007 parecem ter convencido muita gente de que o próprio personagem completava meio século de existência. Nada mais falso: o “verdadeiro” James Bond, criado por Ian Fleming para protagonizar o romance Cassino Royale , veio a público em 1953 – ou seja, completa 60 anos em 2013. O imenso sucesso dos filmes de James Bond, além da proliferação quase infinta de paródias e citações na cultura popular pelas últimas décadas, obscureceu a figura original, que aparece em mais de uma dezena de livros publicados entre 1953 e 1966. Se até hoje os créditos iniciais dos filmes apresentam o protagonista como “Ian Fleming’s 007”, o conteúdo de verdade presente nessa atribuição é bem discutível – principalmente na era dos filmes quase-pastelão protagonizados por Roger Moore, mas não só. O artigo, de minha humilde lavra, continua na revista virtual Amálgama .

Contos para animar o Natal e o Ano-Novo

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Meu primeiro livro de contos de ficção científica chamava-se Tempos de Fúria e foi lançado, se não me engano, em 2005. O leitor astuto há de ter notado que ele não aparece na seção "livros que escrevi", na coluna à direita, e por um motivo bem simples: por uma questão contratual (contrato que, diga-se de passagem, assinei com plena consciência e de livre e espontânea vontade) não recebo um tostão de direito autoral pelas vendas. Portanto, não vejo motivos para promovê-lo. Isto é, não via, até hoje. Porque, com os direitos do livro transferidos, finalmente, para a Editora Draco, eis que me vejo em posição de fazer uns cobres com o material contido ali: antes de relançar o volume em papel, a Draco optou por publicar alguns dos contos que compõem o livro em formato digital, e este material já está disponível na Amazon.com.br e, suponho, em outras livrarias online também (já há versões para Kobo ). O leitor masoquista pode, portanto,  conceder a si mesmo o presente natali

A galinha apocalíptica

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"Um terror pânico do fim do mundo tomou conta do bom povo de Leeds e da vizinhança no ano de 1806", escreve o jornalista escocês Charles Mckay em seu hoje clássico Extraordinary Popular Delusions and The Madness of Crowds , publicado em 1841. "O medo surgiu das seguintes circunstâncias. Uma galinha, numa vila próxima, estava a pôr ovos onde aparecia escrito: Cristo está chegando ." Prossegue Mckay: "Como marujos numa tempestade, esperando a cada instante ir a pique, os crentes repentinamente tornaram-se religiosos, rezavam violentamente, gabavam-se de terem se arrependido de seus maus caminhos". O fervor apocalíptico em torno da poedeira de Leeds desapareceu quando sua dona -- que, segundo algumas fontes, havia começado a vender "selos" que marcavam o possuidor como uma alma a ser salva -- foi flagrada forçando ovos, com a frase escrita à tinta, galinha adentro. A dona, por falar nisso, chamava-se Mary Bateman, era conhecida como "Bruxa

Gentileza gera... ?

Imagino que a maioria das pessoas gostaria de acreditar no ditado "gentileza gera gentileza". Mas também imagino que a maioria das pessoas já teve pelo menos uma oportunidade de sofrer na pele a confirmação da máxima oposta -- "gentileza gera gente folgada". Mais do que uma disputa entre otimismo e sarcasmo, no entanto, a tensão entre as duas frases, e os respectivos limites à aplicabilidade de cada uma delas, representa algo de profundo não só sobre a natureza humana, mas no campo da matemática conhecido como Teoria dos Jogos.  Um dos problemas fundamentais da Teoria dos Jogos é o chamado Dilema do Prisioneiro. O problema costuma ser formulado em termos de "cooperação" e "deserção". Se um dos parceiros coopera e o outro deserta, o desertor recebe um grande prêmio e o cooperador fica sem nada. Se ambos cooperam, os dois recebem uma recompensa modesta. Se ambos desertam, ninguém leva nada. Se o dilema é jogado apenas uma vez, a deserção -- qu

Já parou de bater na sua mãe?

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Ninguém está livre de encontrar uma pergunta capciosa de vez em quando. E quando a pergunta aparece num formulário impresso, onde respostas mais elaboradas -- como, por exemplo, "nunca bati em minha mãe, pelo menos não deste lado do útero" -- são meio difíceis de encaixar, o resultado pode ser bem embaraçoso. Ou enganoso. É por isso que a criação de questionários para pesquisas de opinião pública, ou para censos populacionais, é uma arte tão delicada. Um caso interessante é o do recente censo da Inglaterra e País de Gales, que revelou um aumento de mais de 60% na proporção de pessoas que se declaram sem religião . Parte deste salto se deve, provavelmente, à campanha lançada pela Associação Humanista Britânica, exortando as pessoas que não praticam a religiosidade a responder "nenhuma" à pergunta "qual sua religião". Com o provocativo título de " Se você não é religioso, pelo amor de Deus, diga isso ", a campanha pedia que os britânicos que

O mistério do Santo Prepúcio

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Circuncisão do Cristo, detalhe de pintura de Friedrich Herlin de Nördlingen, 1466 Esta é mais uma postagem  da minha série sazonal sobre a mitologia da natividade de Jesus, cujos capítulos anteriores, ambos do ano passado, podem ser lidos aqui e aqui . Desta vez, vou tratar de um tema especialmente delicado: o que terá acontecido com o prepúcio de Jesus? O filho de Maria e José era, acho que todo mundo se lembra, judeu. Daí, presume-se que tenha sido circuncidado, de acordo com a lei mosaica. O Evangelho de Lucas, na verdade, afirma que foi exatamente isso que aconteceu: "Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno." (Lc 2:21). A trama se complica quando levamos em consideração estes outros versos, do Evangelho de João: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. /  Pois a minha ca

É hora de aventura!

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Já está à venda o quinto volume da coleção Ficção de Polpa , da gaúcha Não Editora, e que tem como tema Aventura . Este é o terceiro volume da série a contar com uma colaboração minha. Os demais de que participo são o segundo, de histórias de ficção científica , e o quarto, Crime! . Não tomei parte no primeiro, de contos de terror, nem no terceiro, de obras de fantasia. Fico imaginando quais serão os temas dos próximos livros -- guerra? romance? western? suspense? espionagem? A aventura é, provavelmente, a mãe de todos os gêneros literários narrativos. O primeiro babilônio a pôr estilete na tabuinha não estava lá muito interessado em descrever as frustrações sexuais de um pobre jovem de Ur em busca de si mesmo nas movimentadas e cruéis ruas da Babilônia, mas sim a expedição do rei Gilgamesh em busca da imortalidade, incluindo a morte do dragão Humbaba e outras peripécias. Sendo um gênero que está, enfim, na raiz de todos os gêneros, a proposta de escrever "uma história de av

É oficial: a Antártida também está derretendo

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Variação da massa de gelo da Antártida, usando 2007 como base Saiu, na Science da semana passada, o mais completo estudo sobre as massas de gelo nas duas regiões polares da Terra, norte e sul. A evidência de degelo no norte já era bastante conclusiva, mas ainda havia dúvidas sobre o sul -- os dados do relatório do IPCC de 2007 indicavam que a massa de gelo na Antártida poderia, até, estar aumentando , para gáudio dos negacionistas da mudança climática. Agora, no entanto, a situação ficou bem clara: as duas zonas polares estão derretendo. A perda no norte é bem mais impressionante, com o degelo na Groenlândia tendo acelerado num fator de cinco -- isso é um aumento de 400% -- desde meados da década de 90, enquanto que, na Antártida, a perda cresceu "apenas" 50% na década passada. De acordo com a Nasa, as estimativas atuais são duas vezes mais precisas que as usadas pelo IPCC em 2007, por conta de um aumento no volume de dados disponível. O derretimento do gelo que flu

A AGU e os crucifixos em prédios públicos

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Os Estados Unidos foram, talvez, o primeiro país a adotar uma regra de separação clara entre Estado e religião. Os Pais Fundadores tinham o longo exemplo histórico europeu para contemplar, com suas sangrentas guerras de fé -- um fato pouco conhecido é o de que mais cristãos foram martirizados em nome da religião na Guerra dos 30 Anos, entre católicos e protestantes, do que nos 300 anos de perseguição pelos imperadores pagãos de Roma -- e sabiam que o melhor era evitar que as coisas se misturassem. James Madison, o autor da Carta de Direitos da Constituição dos EUA, cujo primeiro artigo proíbe a vinculação do governo à religião, disse muito bem: "Durante quase quinze séculos, o estabelecimento oficial do cristianismo tem estado em teste. Quais seus frutos? (...) Governantes que desejam subverter as liberdades públicas encontraram, no clero subvencionado, auxiliares convenientes." A separação, no entanto, é mais difícil de obter do que se imagina. Padres e bispos dei

Noite de lua cheia...

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Lon Chaney Jr. como o Lobisomem Se meu novo relógio digital (que, entre outras peculiaridades, fica piscando a palavra "FISH" em certas horas do dia, suponho que para me dizer que é uma boa hora para pescar) estiver correto, nesta semana temos lua cheia. Com isso, é bem possível que muita gente -- incluindo aí profissionais sérios, como policiais, médicos e enfermeiros -- esteja se preparando para um aumento no número de ocorrências como partos, crimes, crises psicóticas. Esse efeito lunar é largamente registrado, também, na ficção, e não só em histórias de lobisomem: no romance  Moscou contra 007 , o vilão, o impiedoso assassino anglo-soviético Red Grant, é um psicopata insensível cuja ânsia de matar acompanha o ciclo das fases da lua, tornando-se irresistível na lua cheia. É extremamente interessante notar, portanto, que o efeito é completamente falso . Anos e anos de estudos estatísticos nunca encontraram uma única correlação clara entre as fases da lua e eventos ou

Sobre 'Deus seja louvado', na Folha

Nota rápida, só para avisar que fui gentilmente convidado pela Folha de S. Paulo a escrever um breve artigo para a página 3, sobre a polêmica em torno da frase 'Deus seja louvado' que aparece nas notas de real. O link, para quem quiser ler a peça na íntegra, é este aqui .

Descoberto o planeta Mongo!

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Quando astrônomos anunciaram a descoberta de um planeta num sistema estelar binário, o ângulo que a mídia achou para promover a história (muito interessante em si mesma) foi fazer uma comparação entre o mundo recém-descoberto, Kepler-16(AB)-b, com Tatooine, o planeta natal da família Skywalker, na saga de Guerra nas Estrelas . Uma "interpretação artística" de como seria a vista a partir de uma posição em órbita do tal planeta aparece abaixo, cortesia da Nasa: Os cientistas responsáveis pela descoberta foram claros em dizer que o mundo que haviam encontrado era um gigante, semelhante a Saturno, e provavelmente inabitável, mas um funcionário da Industrial Light & Magic, empresa responsável pelos efeitos especiais nos filmes de George Lucas, não se fez de rogado ao ser convidado a dar um palpite sobre a descoberta:  "É possível que haja um verdadeiro Tatooine por aí". O que pouca gente sabe, ao menos fora da Nerdlândia, é que uma das principais fontes de in

'Deus seja louvado', a FAQ

Já escrevi, mais longamente, sobre a questão da laicidade do Estado e por que considero que a retirada de símbolos religiosos de repartições públicas, e da frase esdrúxula "Deus seja louvado" do papel-moeda, deveria ser um gesto tão óbvio quanto abrir um guarda-chuva quando começa a chover. Quem quiser conhecer minhas razões, em detalhe, pode encontrá-las aqui . No entanto, desde que o MPF decidiu, há alguns dias, se mexer para que o óbvio se concretize, uma série de argumentos pré-fabricados começou a circular contra a iniciativa, então resolvi deixar, para quem quiser uma fonte de consulta rápida, algumas respostas prontas para o mar de clichês falaciosos em que o debate ameaça soçobrar. Vamos lá: Tirar a frase do dinheiro? É falta do que fazer! Essa objeção é, de fato, a minha favorita, basicamente porque embute uma admissão de culpa: quem a usa sabe que, num Estado laico, documentos oficiais e produtos criados com recursos públicos não poderiam conter frases de e

50.000 acessos em 24 horas

A postagem de segunda-feira, que usa um artigo publicado na Veja para ilustrar um ponto de (falta de) lógica na construção de texto opinativo, obteve, até o início da noite desta terça, mais de 50.000 acessos, muitos vindos de links publicados no KibeLoco, na revista Galileu e, também, das redes sociais -- principalmente Facebook e Twitter. Dada que a média mensal de acessos ao blog girava, até o início desta semana, em 10.000, o salto está longe de ser trivial. Não tenho, claro, ilusões quanto à sustentabilidade desse pico de popularidade. Semana que vem, provavelmente, estarei de volta aos 300/500 leitores diários -- ou menos, por causa do feriado. Só espero que parte da multidão súbita e fugidia que anda passando por aqui tenha se sentido estimulada a comprar alguma das obras anunciadas na seção "livros que escrevi". Se 0,1% dos visitantes tiver feito isso, terei vendido 50 exemplares, o que, para mim, é um colosso. Numa toada menos mercenária, é impressionante ter t

Dinamarca desiste de imposto sobre gordura saturada

Certa vez perguntei a um grupo de ganhadores do Nobel de Economia, todos especialistas em Teoria dos Jogos, qual a base de sua ciência -- a resposta que obtive foi: "o ser humano responde a incentivos". É uma constatação um tanto quanto óbvia, mas  que dá margem a resultados muitas vezes surpreendentes -- entre outros motivos porque, não raro, é difícil saber quais são, e onde estão, os incentivos relevantes: por exemplo, a criminalização da venda da maconha por um lado desincentiva o tráfico (já que embute uma ameaça de punição), mas por outro o incentiva (já que eleva preços e lucros). Uma das consequências dessa lei dos incentivos é o uso de dinheiro para controlar comportamentos. Muita gente trabalha em empregos que detesta por causa do salário; restaurantes e casas de eventos esnobes usam os preços para "selecionar" o público. E governos usam a política de impostos para estimular ou reprimir certos tipos de consumo (por exemplo, cortando o IPI do carros ou el

A falácia da falsa discriminação

Muita coisa já foi escrita sobre o artigo de JR Guzzo , publicado na edição desta semana da revista Veja , argumentando, em linhas gerais, que as estratégias e demandas do movimento gay acabam atraindo sobre os homossexuais exatamente o mesmo opróbio e a mesma antipatia do público que o movimento deveria lutar para destruir. Não há nada de obviamente errado (ou certo) nessa proposição. Supondo que Guzzo esteja correto, não seria a primeira vez que, no afã de combater uma injustiça, um grupo acaba perpetrando outras. Mas a proposição, em si, deve cair ou se sustentar com base em evidências (que o artigo não apresenta, exceto por um dois casos em que o adjetivo "homofóbico" parece ter sido usado de modo injusto) e argumentos, e é na parte argumentativa que eu gostaria de me concentrar, porque tenho a impressão de que o preclaro articulista inventou um novo tipo de falácia. Quem acompanha o blog sabe que ciência, lógica e retórica são temas caros por aqui, então, antes de en

'Mãe de Deus'

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Interessante o padre Marcelo Rossi escolher a palavra grega Theotokos como nome "oficial" de sua megachurch . O nome popular é "Mãe de Deus", expressão geralmente tida como uma tradução razoável de theotokos , que é um termo técnico da teologia cristã, adotado oficialmente no Concílio de Éfeso, realizado em 431 sob os auspícios do imperador bizantino Teodósio II. Ao pé da letra, theotokos  pode querer dizer "portadora de Deus" ou "que dá à luz Deus". A expressão, aplicada à personagem Maria de Nazaré, do Novo Testamento, tem significado cristológico -- isto é, diz algo sobre a natureza de Cristo: se Jesus Cristo é filho de Maria, e Maria é Mãe de Deus, então Jesus é Deus. No século V, quando os bispos da Igreja se reuniram em Éfeso para discutir o assunto -- se Jesus era mais Deus que homem, mais homem que Deus, se as duas coisas ao mesmo tempo e em proporções iguais --, a questão não era meramente teológica ou acadêmica, mas tinha graves im