A galinha apocalíptica
"Um terror pânico do fim do mundo tomou conta do bom povo de Leeds e da vizinhança no ano de 1806", escreve o jornalista escocês Charles Mckay em seu hoje clássico Extraordinary Popular Delusions and The Madness of Crowds, publicado em 1841. "O medo surgiu das seguintes circunstâncias. Uma galinha, numa vila próxima, estava a pôr ovos onde aparecia escrito: Cristo está chegando." Prossegue Mckay: "Como marujos numa tempestade, esperando a cada instante ir a pique, os crentes repentinamente tornaram-se religiosos, rezavam violentamente, gabavam-se de terem se arrependido de seus maus caminhos".
O fervor apocalíptico em torno da poedeira de Leeds desapareceu quando sua dona -- que, segundo algumas fontes, havia começado a vender "selos" que marcavam o possuidor como uma alma a ser salva -- foi flagrada forçando ovos, com a frase escrita à tinta, galinha adentro. A dona, por falar nisso, chamava-se Mary Bateman, era conhecida como "Bruxa de Yorkshire" e, pelo que se sabe dela, era uma figura especialmente sinistra, que acabou executada por homicídio.
Antes de entrar no negócio de molestar aves, Mary já havia conquistado alguma fama lendo a sorte e aplicando pequenos golpes -- uma biografia diz que ela chegou a enganar o marido, fazendo-o partir numa viagem, sob falsos pretextos, a fim de vender os pertences que ele deixara para trás em casa. Mas, aparentemente, foi só depois do colapso do esquema da galinha profética que Mary passou para o ramo da "medicina tradicional popular", realizando abortos e vendendo remédios que, em muitos casos, continham veneno: há suspeita de que, após a morte dos pacientes, a curandeira tratava de se servir dos móveis e roupas da casa das vítimas.
Presa em 1809, depois de ser denunciada pelo marido de uma de suas vítimas -- que, espantosamente, continuara, por dois anos após enviuvar, a pagá-la por seus serviços medicinais esotéricos -- Mary foi julgada e condenada à morte na forca. Tentou escapar da pena de morte declarando-se grávida, mas estava mentindo, e foi executada.
Nem mesmo as provas apresentadas no julgamento, a condenação e a incapacidade da "bruxa" de escapar do cadafalso fizeram desaparecer a crença em seus poderes mágicos, no entanto: numa nota grotesca -- ou irônica -- a pele do cadáver de Mary foi curtida e retalhada, os fragmentos vendidos como amuletos de boa sorte.
O esqueleto de Mary Bateman (que ilustra esta postagem) faz parte do acervo do Museu Tackaray de Medicina, na cidade de Leeds.
O fervor apocalíptico em torno da poedeira de Leeds desapareceu quando sua dona -- que, segundo algumas fontes, havia começado a vender "selos" que marcavam o possuidor como uma alma a ser salva -- foi flagrada forçando ovos, com a frase escrita à tinta, galinha adentro. A dona, por falar nisso, chamava-se Mary Bateman, era conhecida como "Bruxa de Yorkshire" e, pelo que se sabe dela, era uma figura especialmente sinistra, que acabou executada por homicídio.
Antes de entrar no negócio de molestar aves, Mary já havia conquistado alguma fama lendo a sorte e aplicando pequenos golpes -- uma biografia diz que ela chegou a enganar o marido, fazendo-o partir numa viagem, sob falsos pretextos, a fim de vender os pertences que ele deixara para trás em casa. Mas, aparentemente, foi só depois do colapso do esquema da galinha profética que Mary passou para o ramo da "medicina tradicional popular", realizando abortos e vendendo remédios que, em muitos casos, continham veneno: há suspeita de que, após a morte dos pacientes, a curandeira tratava de se servir dos móveis e roupas da casa das vítimas.
Presa em 1809, depois de ser denunciada pelo marido de uma de suas vítimas -- que, espantosamente, continuara, por dois anos após enviuvar, a pagá-la por seus serviços medicinais esotéricos -- Mary foi julgada e condenada à morte na forca. Tentou escapar da pena de morte declarando-se grávida, mas estava mentindo, e foi executada.
Nem mesmo as provas apresentadas no julgamento, a condenação e a incapacidade da "bruxa" de escapar do cadafalso fizeram desaparecer a crença em seus poderes mágicos, no entanto: numa nota grotesca -- ou irônica -- a pele do cadáver de Mary foi curtida e retalhada, os fragmentos vendidos como amuletos de boa sorte.
O esqueleto de Mary Bateman (que ilustra esta postagem) faz parte do acervo do Museu Tackaray de Medicina, na cidade de Leeds.
Ou a história está mal contada, ou a diretoria desse museu sofre de esquizofrenia. Mary está para a medicina assim como Hitler para os judeus.
ResponderExcluirEi, e desde quando museu só coleciona bons exemplos? Curandeirismo também faz parte da história da medicina...
ExcluirSim, mas curandeirismo + charlatanismo é o problema.
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