Planetas, planetas à mancheia...
Ontem me perguntaram no Twitter qual a principal descoberta científica de 2011 e eu, para fugir das biomédicas (que geralmente são as que chamam mais atenção) respondi: a enxurrada de novos planetas descobertos. E, como se para confirmar minha impressão, algumas horas mais tarde saiu a notícia de que cientistas haviam confirmado a existência de dois planetas do tamanho aproximado da Terra, os tórridos Kepler 20e e Kepler 20f.
Esta não é a primeira descoberta importante do Kepler anunciada neste mês: no início de dezembro, tinha sido apresentada a confirmação do primeiro planeta dentro da zona habitável de uma estrela semelhante ao Sol, o Kepler 22b, com quase 3 vezes o raio da Terra.
Esses anúncios esporádicos de certa forma mascaram a caudalosa produção científica que a sonda Kepler, um satélite capaz de medir a luz das estrelas com uma precisão tal que consegue notar quando um planeta passa diante de uma delas (imagine, em comparação, um fotômetro que avisa quando um grão de poeira flutua diante de uma lâmpada), viabilizou. A lista de artigos pode ser encontrada aqui. Apenas sobre o tema de planetas extrassolares, foram 84 artigos em 2011.
O mundo da caça a planetas extrassolares é extremamente competitivo, e por isso é importante destacar que o Kepler não é o único bambambã da cidade: em setembro, o ESO, observatório mantido por um consórcio de países europeus no Chile -- e ao qual o Brasil parece estar prestes a se associar -- havia anunciado a descoberta de uma batelada de 50 novos planetas, e a sonda francesa CoRoT (que conta com participação brasileira) também tem, a seu crédito, mais de 20 descobertas registradas na Enciclopédia de Planetas Extrassolares.
Com tudo isso, o total de mundos encontrados além do nosso minúsculo Sistema Solar chega a mais de 700. Sistemas com múltiplos planetas -- como o nosso, composto por oito ou nove, dependendo de como você se sente a respeito de Plutão -- são cerca de uma centena.
A grande maioria desses planetas ainda é mais parecida com Júpiter do que com a Terra -- dos cerca de 200 planetas cujo raio é conhecido, metade tem o tamanho aproximado do maior mundo do Sistema Solar -- mas isso parece ser mais um desvio causado pelas limitações da nossa tecnologia (planetas gigantes são mais fáceis de achar) do que um fato da natureza. Os dois novos planetas do Kepler são importantes também porque sugerem que mundinhos mixurucas como a Terra podem, sim, ser comuns.
Neste exato momento, sabemos que há planetas que, em tese, seriam capazes de manter água em estado líquido em suas superfícies; e sabemos que há planetas de tamanho semelhante ao da Terra. Resta encontrar um planeta que reúna ambas as condições. E então ver se há vida por lá.
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