De papas e de números
Com o conclave vindo aí, o Pew Research Center publicou uma interessante análise sobre a demografia do catolicismo no mundo, comparando a situação em 1910 com a de 2010. O artigo pode ser lido por inteiro aqui, e os números brutos referentes a 2010 podem se acessados aqui. O dado que mais chama atenção é o desta tabela, abaixo.
Ela mostra a evolução do catolicismo em seis grandes regiões do mundo, no século de 1910 a 2010, em termos de fração da população que se declara católica. Como se vê, o lugar-comum de que a religião de Roma está se tornando uma religião de países periféricos merece, mesmo, ser um lugar-comum: o crescimento mais acentuado é o que ocorre na África subsaariana -- a ponto de a República Democrática do Congo (RDC) ter substituído a "República Checa" (o Pew usa esse nome; em 1910, provavelmente seria a região da Boêmia, então parte da Áustria) como o décimo maior país católico do mundo.
A situação do catolicismo nos dez países mais fiéis de 1910, comparada à de 2010, é a que se vê, abaixo.
Dos países listados, Alemanha e "República Checa" caíram fora, substituídos, em 2010, por Colômbia e RDC, respectivamente. A perda acentuada entre os checos talvez possa ser explicada pelos anos que o território passou, como parte da Checoslováquia, atrás da Cortina de Ferro -- assim como o crescimento na Polônia, pelo papel da religião na hora de pôr essa mesma cortina abaixo (e ao pontificado carismático de João Paulo II). É curioso notar que, se Karol Wojtyla animou a fé dos poloneses, Joseph Ratzinger, se teve algum impacto na dos alemães, parece ter sido, na melhor das hipóteses, o de evitar uma queda maior.
Há muita especulação sobre se haveria alguma relação entre o grau de "catolicidade" de um país e sua chance de "fazer" um papa. O período de 1910 a 2010 assistiu à passagem de nove pontífices, sendo sete italianos, um polonês e um alemão, todos países listados entre os dez mais católicos do mundo em 1910, embora a Alemanha tenha saído do ranking. O coeficiente de correlação entre proporção de católicos na população, no início da segunda década do século, e número de papas no mesmo século é, como seria de se esperar, positivo, mas fraco: +0,2.
No entanto, há um outro dado a ser levado em consideração: a proporção do total de católicos do mundo que vive no país.
Por exemplo, em 1910 a França abrigava 13,9% dos católicos do mundo, mas o último papa francês foi eleito lá pelo fim da Idade Média. Já a Itália, logo atrás, com 12,1% emplacou sete. Mesmo assim, o coeficiente de correlação entre fração da população mundial de católicos que vivia no país no fim da primeira década do século 20, e o número de papas naturais do país eleitos no século 20, é positivo e médioforte: +0,6 +0,5. O que isso quer dizer?
Bem, talvez nada. Mas, supondo que o passado seja um guia para o futuro (o que é sempre uma suposição arriscada, em se tratando de assuntos humanos), fica a sugestão de que égrande boa a probabilidade de que os papas que virão de 2013 a 2113 -- imaginando-se que ainda exista um papado até lá -- terão, todos, nascido em algum dos países da tabela acima. Se o futuro repetir exatamente o passado, teríamos uma sequência de sete pontífices mexicanos, depois um italiano e um francês. O que seria engraçado, mas que é também extremamente improvável.
Enfim, fica a tabelinha (sem trocadilho) para conferir ao fim do conclave. Que pode muito bem escolher um chinês, só para detonar as minhas contas.
Ela mostra a evolução do catolicismo em seis grandes regiões do mundo, no século de 1910 a 2010, em termos de fração da população que se declara católica. Como se vê, o lugar-comum de que a religião de Roma está se tornando uma religião de países periféricos merece, mesmo, ser um lugar-comum: o crescimento mais acentuado é o que ocorre na África subsaariana -- a ponto de a República Democrática do Congo (RDC) ter substituído a "República Checa" (o Pew usa esse nome; em 1910, provavelmente seria a região da Boêmia, então parte da Áustria) como o décimo maior país católico do mundo.
A situação do catolicismo nos dez países mais fiéis de 1910, comparada à de 2010, é a que se vê, abaixo.
Dos países listados, Alemanha e "República Checa" caíram fora, substituídos, em 2010, por Colômbia e RDC, respectivamente. A perda acentuada entre os checos talvez possa ser explicada pelos anos que o território passou, como parte da Checoslováquia, atrás da Cortina de Ferro -- assim como o crescimento na Polônia, pelo papel da religião na hora de pôr essa mesma cortina abaixo (e ao pontificado carismático de João Paulo II). É curioso notar que, se Karol Wojtyla animou a fé dos poloneses, Joseph Ratzinger, se teve algum impacto na dos alemães, parece ter sido, na melhor das hipóteses, o de evitar uma queda maior.
Há muita especulação sobre se haveria alguma relação entre o grau de "catolicidade" de um país e sua chance de "fazer" um papa. O período de 1910 a 2010 assistiu à passagem de nove pontífices, sendo sete italianos, um polonês e um alemão, todos países listados entre os dez mais católicos do mundo em 1910, embora a Alemanha tenha saído do ranking. O coeficiente de correlação entre proporção de católicos na população, no início da segunda década do século, e número de papas no mesmo século é, como seria de se esperar, positivo, mas fraco: +0,2.
No entanto, há um outro dado a ser levado em consideração: a proporção do total de católicos do mundo que vive no país.
Por exemplo, em 1910 a França abrigava 13,9% dos católicos do mundo, mas o último papa francês foi eleito lá pelo fim da Idade Média. Já a Itália, logo atrás, com 12,1% emplacou sete. Mesmo assim, o coeficiente de correlação entre fração da população mundial de católicos que vivia no país no fim da primeira década do século 20, e o número de papas naturais do país eleitos no século 20, é positivo e médio
Bem, talvez nada. Mas, supondo que o passado seja um guia para o futuro (o que é sempre uma suposição arriscada, em se tratando de assuntos humanos), fica a sugestão de que é
Enfim, fica a tabelinha (sem trocadilho) para conferir ao fim do conclave. Que pode muito bem escolher um chinês, só para detonar as minhas contas.
mas pelo gráfico atual de porcentagem mundial, com o Brasil (mesmo regredindo em termos unitários) assumindo a ponta em termos absolutos, a possibilidade de emplacarmos um sumo pontífice, considerando-se apenas em "termos técnicos", é bem acentuada.
ResponderExcluirÉ natural que com a aparição de outras denominações, esta estatísticas caíssem porém com o passar do tempo ela retornara, devido a necessidade do povo em limpar sua alma e sentir-se mais leve para a vida.
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