"Campo Total" chegou: até logo, FCB, valeu o peixe!
Acho que já bloguei, algumas vezes, sobre Campo Total, minha quarta, e muito possivelmente, última antologia pessoal, solo, de contos. Trata-se de um projeto que eu vinha, digamos, afagando já há uns bons anos, e que gostaria que tivesse saído no ano passado, para celebrar meu aniversário de duas décadas como ficcionista (marco o "nascimento" de minha carreira literária com a publicação da Isaac Asimov Magazine 24, em novembro de 1992). Não deu, mas está saindo agora, com toda a pompa. E, se não é meu adeus à literatura de ficção científica, certamente marca um "até logo" ou, pelo menos, um "tempo" na relação.
Explico: os contos de Campo Total não são exatamente novos, mas entre eles estão os últimos que realmente escrevi por inspiração -- isto é, sem ser em resposta a um convite ou encomenda. Histórias que escrevi, enfim, porque queria, de fato, escrevê-las. Para, com o perdão da palavra, me "expressar".
Muito autor por aí responde à pergunta "por que você escreve?" com frases como "para não ficar louco", ou "porque a história exige ser contada", e isso talvez tenha sido verdade para mim, da adolescência e até alguns anos atrás, mas deixou de ser: em algum momento, as encomendas, por um lado, e minhas atividades jornalísticas (e parajornalísticas, como os blogs), por outro, acabaram canalizando a energia criativa para outros destinos.
Coisas que antigamente me dariam um estalo para um novo conto hoje me sugerem um novo artigo, e muito da ficção de encomenda que escrevo canibaliza temas e ideias da minha não-ficção, quando antes o fluxo era inverso: eu brigava para conseguir pautas que coincidissem com meus interesses ficcionais do momento.
Tentei fazer a transição para o romance, mas os resultados são, além de dois livros publicados (Nômade e Guerra Justa que, sejam quais forem seus méritos ou defeitos, muitas vezes parecem mais sequências de narrativas encadeadas do que romances de jure), quatro arquivos -- um policial, um thriller,uma space-opera e uma fantasia -- inacabados, jogados num pendrive que está pegando poeira em algum lugar. Antes, eu me ressentia de ter de fazer jornalismo quando preferiria estar inventando uma história; hoje, meio que me ressinto do conto que tenho de terminar porque prometi ao editor, quando poderia estar pesquisando mais uma coluna para a Galileu, ou um novo livro de não-ficção.
Chamar isso de "amadurecimento" envolve um juízo de valor que não me parece correto. É, apenas, uma mudança de gosto. Talvez reflita, também, um certo cansaço com a eterna síndrome de murro-em-ponta-de-faca, a-recompensa-do-autor-é-ver-o-livro-publicado a que se resumem os frutos de escrever ficção "de gênero" (ficção científica, em particular) no Brasil. Digo, não que o pessoal do mainstream se dê muito melhor, mas eles pelo menos descolam umas bocas-livres em festivais literários, ganham cachê pra fazer palestra e são tratados como intelectuais pela imprensa.
Então, Campo Total: tudo que escrevi, depois dos contos desse livro, foi porque me pediram, e está publicado onde as pessoas que pediram, queriam. Dificilmente, portanto, virão, um dia, a compor uma antologia solo minha. Logo, Campo Total é a última. Como a expectativa de vida do brasileiro vem aumentando, talvez não seja a última-última mesmo, mas sinceramente não vejo outra no horizonte.
Só que o mundo editorial vive em dobras temporais, então a Editora Draco ainda tem algum material meu anterior a Campo Total para lançar, incluindo uma novela longa/romance curto de fantasia um tanto mais sofisticado que As Dez Torres de Sangue, além do combo MMM, que consolida minha participação no divertidíssimo Universo Intempol e uma reedição, revista a ampliada, de Tempos de Fúria, o Tempos de Fúria Redux.
Mas esses são livros que estão prontos, ou ao menos incubados, desde antes de Campo Total começar a ser escrito. Ando produzindo cada vez menos material novo -- e não creio que vá continuar a produzi-lo por muito mais tempo. Enfim, com a publicação de Campo Total, meu estágio no mundo dos produtores de ficção científica brasileira entra, como se diz por aí, em hiato. Ou é descontinuado, para usar outra palavra da moda.
Se voltará em nova temporada? A ver veremos, como se diz do outro lado do charco...
Explico: os contos de Campo Total não são exatamente novos, mas entre eles estão os últimos que realmente escrevi por inspiração -- isto é, sem ser em resposta a um convite ou encomenda. Histórias que escrevi, enfim, porque queria, de fato, escrevê-las. Para, com o perdão da palavra, me "expressar".
Muito autor por aí responde à pergunta "por que você escreve?" com frases como "para não ficar louco", ou "porque a história exige ser contada", e isso talvez tenha sido verdade para mim, da adolescência e até alguns anos atrás, mas deixou de ser: em algum momento, as encomendas, por um lado, e minhas atividades jornalísticas (e parajornalísticas, como os blogs), por outro, acabaram canalizando a energia criativa para outros destinos.
Coisas que antigamente me dariam um estalo para um novo conto hoje me sugerem um novo artigo, e muito da ficção de encomenda que escrevo canibaliza temas e ideias da minha não-ficção, quando antes o fluxo era inverso: eu brigava para conseguir pautas que coincidissem com meus interesses ficcionais do momento.
Tentei fazer a transição para o romance, mas os resultados são, além de dois livros publicados (Nômade e Guerra Justa que, sejam quais forem seus méritos ou defeitos, muitas vezes parecem mais sequências de narrativas encadeadas do que romances de jure), quatro arquivos -- um policial, um thriller,uma space-opera e uma fantasia -- inacabados, jogados num pendrive que está pegando poeira em algum lugar. Antes, eu me ressentia de ter de fazer jornalismo quando preferiria estar inventando uma história; hoje, meio que me ressinto do conto que tenho de terminar porque prometi ao editor, quando poderia estar pesquisando mais uma coluna para a Galileu, ou um novo livro de não-ficção.
Chamar isso de "amadurecimento" envolve um juízo de valor que não me parece correto. É, apenas, uma mudança de gosto. Talvez reflita, também, um certo cansaço com a eterna síndrome de murro-em-ponta-de-faca, a-recompensa-do-autor-é-ver-o-livro-publicado a que se resumem os frutos de escrever ficção "de gênero" (ficção científica, em particular) no Brasil. Digo, não que o pessoal do mainstream se dê muito melhor, mas eles pelo menos descolam umas bocas-livres em festivais literários, ganham cachê pra fazer palestra e são tratados como intelectuais pela imprensa.
Então, Campo Total: tudo que escrevi, depois dos contos desse livro, foi porque me pediram, e está publicado onde as pessoas que pediram, queriam. Dificilmente, portanto, virão, um dia, a compor uma antologia solo minha. Logo, Campo Total é a última. Como a expectativa de vida do brasileiro vem aumentando, talvez não seja a última-última mesmo, mas sinceramente não vejo outra no horizonte.
Só que o mundo editorial vive em dobras temporais, então a Editora Draco ainda tem algum material meu anterior a Campo Total para lançar, incluindo uma novela longa/romance curto de fantasia um tanto mais sofisticado que As Dez Torres de Sangue, além do combo MMM, que consolida minha participação no divertidíssimo Universo Intempol e uma reedição, revista a ampliada, de Tempos de Fúria, o Tempos de Fúria Redux.
Mas esses são livros que estão prontos, ou ao menos incubados, desde antes de Campo Total começar a ser escrito. Ando produzindo cada vez menos material novo -- e não creio que vá continuar a produzi-lo por muito mais tempo. Enfim, com a publicação de Campo Total, meu estágio no mundo dos produtores de ficção científica brasileira entra, como se diz por aí, em hiato. Ou é descontinuado, para usar outra palavra da moda.
Se voltará em nova temporada? A ver veremos, como se diz do outro lado do charco...
Nossa, que badtrip!
ResponderExcluirOi, Rauda. Não queria dar essa impressão, não... Mas, de repente, exagerei no desentusiasmo
ExcluirEspero que esse hiato seja bem mais curto do que o Grande Hiato do nosso amigo de Baker Street.
ResponderExcluir:)
Campo Total já está no topo da minha lista de desejos!
Porra nenhuma... deixa eu te contar a minha nova ideia para o Wold Newton Universe aqui... ;-)
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