O segundo Argos a gente nunca esquece!



Neste último fim de semana estive no Rio de Janeiro para a cerimônia de entrega dos Prêmios Argos -- concedidos aos melhores trabalhos de fantasia, ficção científica ou terror publicados em língua portuguesa no ano anterior à premiação. Essa escolha dos "melhores" é feita pelos sócios do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC). Tive a honra de ser premiado na categoria conto, por Clitoridectomia.

Esse foi um reconhecimento triplamente especial: primeiro, por se tratar de um conto publicado em formato digital; segundo, por ser uma história sobre mutilação genital feminina (o que não é o tipo de assunto que a maioria das pessoas associa à ficção científica); terceiro, porque este é o meu segundo Argos. O primeiro, de 2013, me foi concedido por No Vácuo, Você Pode Ouvir o Espaço Gritar, que de certa forma tinha uma temática mais "normal" dentro do gênero (contato com tecnologias alienígenas) e havia saído numa antologia de papel, a Space Opera 2.

Essa diferença entre minhas duas vitórias me pôs a pensar sobre como a chegada da Amazon ao Brasil parece ter afetado o perfil do leitor de contos: em três anos, o destaque passou dos volumes de antologia para a publicação virtual. Entre os sete contos finalistas do Argos neste ano, quatro eram edições digitais, e os outros três, embora tenha saído originalmente em papel, também têm versão online.

Sempre considerado um formato de segunda linha (e hoje em dia ainda mais, neste mundo onde todo mundo só parece querer saber de megalogias de trocentas páginas), o conto parece estar achando seu nicho entre os usuários de e-readers.

Digo isso não só pelo sucesso de Clitoridectomia, mas também pelas carreiras -- até agora modestas, mas não de todo frustrantes -- dos dois contos que publiquei online por conta própria, Diamante Truncado e O Lamento de Suas Mulheres. Nenhum deles vai me permitir trocar o jornalismo pela literatura, mas já me renderam o suficiente para eu considerar a hipótese de voltar a escrever ficção científica em português, algo de que havia desistido, anos atrás, por puro desespero de causa: não me incomodo em não ter lucro, mas o prejuízo estava desproporcional.

Queria agradecer aos votantes do Argos, à direção do CLFC e ao amigos que me receberam tão bem no Rio. E pedir às pessoas que ainda têm prevenção contra o livro eletrônico, mas que apreciam ficção curta, que pensem um pouco mais no assunto: o e-book, cada vez mais, está virando a casa do conto.

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