A fosfoetanolamina é segredo
Um acordo de confidencialidade, assinado entre autoridades paulistas e o professor aposentado Gilberto Chierice, proíbe que os cidadãos de São Paulo tenham acesso ao laudo que atesta o quê, afinal, está contido nas cápsulas de "fosfoetanolamina sintética" que vêm sendo usadas nos testes clínicos em andamento no Estado, testes estes generosamente financiados pelo contribuinte combalido. Foi esta a resposta que obtive após um pedido, baseado na Lei de Acesso à Informação, protocolado junto à Fundação para o Remédio Popular (FURP), encarregada de encapsular o pó produzido pela empresa PDT Pharma, de Cravinhos, sob supervisão do grupo de Chierice. Abaixo, a resposta da FURP a minha solicitação (clique para ampliar):
A questão de o quê, exatamente, está sendo encapsulado e distribuído aos voluntários é saliente porque as informações públicas a respeito são contraditórias. Por um lado, há o pedido de patente feito por Chierice e colegas, que afirma que o processo por eles desenvolvido produz sais de fosfoetanolamina com cálcio, magnésio e zinco. Por outro, há o laudo emitido por pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp que diz que as cápsulas que vinham sendo distribuídas irregularmente em São Carlos, por décadas, continham uma mistura variada de compostos, sendo apenas 30% de fosfoetanolamina e apresentando uma pequena dose de uma molécula tóxica, a monoetanolamina:
Além de analisar as cápsulas, o grupo da Unicamp também testou o processo descrito no pedido de patente de Chierice e obteve não os sais prometidos, mas uma mistura com características muito próximas das encontradas nas cápsulas. Nas palavras do pesquisador Luiz Carlos Dias, da Unicamp, o processo de Chierice apenas degrada os componentes que entram na reação, sem produzir nada de útil.
Diante desse aparente impasse -- Chierice diz ter um laudo, feito no exterior, que contesta os resultados da Unicamp, mas até onde sei não se deu ao trabalho de publicá-lo em lugar nenhum -- a divulgação do laudo obtido pela FURP (depois de uma série de atrasos inexplicados) poderia, finalmente, dirimir as dúvidas que pairam sobre a eficácia do processo que Chierice pretende patentear e que, supõe-se, foi utilizado pela PDT Pharma; além disso, permitiria que o público em geral e, mais importante, cientistas independentes e médicos oncologistas soubessem o que os pacientes estão, na verdade, tomando. Afinal, "fosfoetanolamina sintética" quer dizer o quê, ora bolas?
Pressupondo-se boa fé de todas as partes, a cláusula de confidencialidade é um tanto quanto inexplicável. Por que foi pedida? Por quem? Por que o governo a acatou? Em princípio, o produto final do processo de Chierice, aplicado pela PDT Pharma, não é nada confidencial: deve ser o mesmo produto descrito no pedido de patente, como se vê abaixo:
Agora, se o produto é diferente do que consta na patente (mais próximo, talvez, do encontrado pelo trabalho da Unicamp?), seria do interesse público que isso viesse à tona o quanto antes, para acabar com a onda de mistificações em torno da "fosfo".
O pedido de patente, por ser público, elimina até mesmo a questão de segredo industrial ou comercial: quem deseja preservar segredos desse tipo não patenteia seus processos. Do modo como as coisas estão, essa confidencialidade apenas alimenta as suspeitas, espero infundadas, de que o que se está a fazer é muito menos ciência com vistas à saúde pública, e muito mais uma pantomima demagógica com fins eleitoreiros, às custas de um erário já debilitado.
A questão de o quê, exatamente, está sendo encapsulado e distribuído aos voluntários é saliente porque as informações públicas a respeito são contraditórias. Por um lado, há o pedido de patente feito por Chierice e colegas, que afirma que o processo por eles desenvolvido produz sais de fosfoetanolamina com cálcio, magnésio e zinco. Por outro, há o laudo emitido por pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp que diz que as cápsulas que vinham sendo distribuídas irregularmente em São Carlos, por décadas, continham uma mistura variada de compostos, sendo apenas 30% de fosfoetanolamina e apresentando uma pequena dose de uma molécula tóxica, a monoetanolamina:
Além de analisar as cápsulas, o grupo da Unicamp também testou o processo descrito no pedido de patente de Chierice e obteve não os sais prometidos, mas uma mistura com características muito próximas das encontradas nas cápsulas. Nas palavras do pesquisador Luiz Carlos Dias, da Unicamp, o processo de Chierice apenas degrada os componentes que entram na reação, sem produzir nada de útil.
Diante desse aparente impasse -- Chierice diz ter um laudo, feito no exterior, que contesta os resultados da Unicamp, mas até onde sei não se deu ao trabalho de publicá-lo em lugar nenhum -- a divulgação do laudo obtido pela FURP (depois de uma série de atrasos inexplicados) poderia, finalmente, dirimir as dúvidas que pairam sobre a eficácia do processo que Chierice pretende patentear e que, supõe-se, foi utilizado pela PDT Pharma; além disso, permitiria que o público em geral e, mais importante, cientistas independentes e médicos oncologistas soubessem o que os pacientes estão, na verdade, tomando. Afinal, "fosfoetanolamina sintética" quer dizer o quê, ora bolas?
Pressupondo-se boa fé de todas as partes, a cláusula de confidencialidade é um tanto quanto inexplicável. Por que foi pedida? Por quem? Por que o governo a acatou? Em princípio, o produto final do processo de Chierice, aplicado pela PDT Pharma, não é nada confidencial: deve ser o mesmo produto descrito no pedido de patente, como se vê abaixo:
Agora, se o produto é diferente do que consta na patente (mais próximo, talvez, do encontrado pelo trabalho da Unicamp?), seria do interesse público que isso viesse à tona o quanto antes, para acabar com a onda de mistificações em torno da "fosfo".
O pedido de patente, por ser público, elimina até mesmo a questão de segredo industrial ou comercial: quem deseja preservar segredos desse tipo não patenteia seus processos. Do modo como as coisas estão, essa confidencialidade apenas alimenta as suspeitas, espero infundadas, de que o que se está a fazer é muito menos ciência com vistas à saúde pública, e muito mais uma pantomima demagógica com fins eleitoreiros, às custas de um erário já debilitado.
vai terminar por cair no esquecimento, isso parece o inicio do abafa, depois o projeto encerra e fica o misticismo na história.
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