Cratera, represa, pobreza e meio ambiente
O equipamento de perfuração, trabalhando na Cratera de Colônia |
A região de Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, abriga as represas Billings e Guarapiranga, cinco aldeias guarani (sete, se contadas as duas que ficam na mesma área geral, mas já no município de São Bernardo do Campo) e uma cratera de 3,6 quilômetros de diâmetro cuja origem á provavelmente meteorítica -- mas disso ninguém tem certeza. Foi percorrendo esse meio que passei os últimos dias, desde o fim de semana passado (notaram que dei uma sumida da internet?), acompanhado pelo guia Fernando Bike -- morador da comunidade de Vargem Grande, que ocupa parte da chamada Cratera de Colônia -- e acompanhando o fotógrafo Moises Saman, da Agência Magnum.
Saman veio ao Brasil como parte do investimento do banco francês BNP Paribas no estudo da cratera: uma missão franco-brasileira cientistas está, nesta semana, realizando uma perfuração ali para retirar sedimentos de uma coluna que, esperam os pesquisadores, cobrirá um período passado de 800 mil a 1 milhão de anos.
A operação, delicada, envolve a remoção de cilindros de material do subsolo que não podem sofrer nenhum tipo de contaminação da atmosfera atual e, idealmente, não devem sofrer nenhuma compressão enquanto são extraídos. O objetivo é usar esses vestígios do passado para reconstituir a evolução do clima e do bioma ao longo do período coberto. A reportagem completa fica pronta em breve, prometo!
Mas esta nota rápida é, principalmente, sobre outra coisa: além do local da perfuração, percorremos também vários pontos problemáticos -- em termos de meio ambiente -- da Zona Sul, com ênfase especial no aspecto humano do entorno da Billings. Aldeias guarani e comunidades carentes urbanas margeiam trechos da represa, afetam e são afetados por ela.
E se adensamentos urbanos labirínticos que lançam esgoto na represa, com vielas onde uma curva fechada por trás de um prédio de bloco aparente pode levar a uma boca de fumo, a crianças batendo bola ou a um pescador, de caniço nas costas, procurando minhoca, parecem não ter nada a ver com aldeias indígenas com suas casas afastadas, espaços amplos, criação de galinhas, pequenas plantações e paz em meio à mata, as aparências enganam: entre os índios crianças também batem bola, e há pesca na represa. A deterioração do meio ambiente, no fim, empobrece ainda mais a todos.
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