Anotando "O Rei de Amarelo"
A Editora Intrínseca apresenta, agora em abril, sua edição de O Rei de Amarelo. Lançada em 1895, essa obra é muitas vezes considerada a mais importante da literatura fantástica norte-americana a sair no período entre a morte de Edgar Allan Poe e o início da carreira de H.P. Lovecraft. O texto original em inglês já se encontra em domínio público, e o livro está saindo agora no Brasil por conta das referências a ele contidas na série de TV True Detetctive, da HBO. De fato, além da Intrínseca, já ouvi falar em pelo menos duas outras editoras que trabalham para pôr suas traduções de O Rei no mercado de língua portuguesa.
Então, alguém poderia perguntar, por que escolhi esta edição específica para destacar? Por um motivo simples: O Rei de Amarelo da Intrínseca conta com introdução, comentários e notas deste que vos escreve. De uma madrugada correndo atrás da etimologia de "Carcosa" a consultas enciclopédicas sobre o Yellow Book londrino dos anos 1890, passando por uma análise comparativa das cinco edições do Rubaiyat publicadas na Era Vitoriana, o trabalho em si foi uma viagem e tanto -- cujo resultado os curiosos podem encontrar no próprio livro, já anunciado no website da editora e em pré-venda em algumas livrarias online.
O mais interessante de tudo, ao menos para mim, foi ver como, ao longo da pesquisa, emergia um emaranhado de influências e de diálogos entre obras literárias, onde entrelaçavam-se Poe, Baudelaire, a vanguarda decadente francesa, Ambrose Bierce e Oscar Wilde, tudo concentrando-se em Robert W. Chambers -- o autor de O Rei de Amarelo -- e, a partir daí, abrindo-se novas vertentes, onde aparecem Lovecraft, Derleth, Raymond Chandler, os pós-modernos lisérgicos da década de 70, Stephen King e, claro, True Detective.
Para quem vive, como eu, imerso no que se convencionou chamar de "literatura de gênero" -- pulp, ficção científica, terror, etc. -- foi muito interessante constatar os movimentos de fluxo e refluxo que os ditos gêneros mantêm entre si e, também, com a chamada "literatura séria".
O próprio Chambers transitava livremente entre esses campos: a maior parte de sua obra, para além de O Rei de Amarelo, é composta de romances do tipo moça-pobre-e-pura-encontra-marido-sexy-rico, mas também traz incursões por gêneros tão díspares quanto espionagem (seu romance The Slayer of Souls é uma aventura em que o Serviço Secreto americano salva a Civilização Ocidental de uma perigosa sociedade secreta do Oriente) e a ficção científica, incluindo uma série de histórias sobre a descoberta de animais fantásticos, In Search of the Unknown.
Se o trabalho de anotar Chambers me mostrou alguma coisa, foi que uma obra de literatura, se lida com atenção, dificilmente caberá no escaninho mental que preparamos para ela. "Sou enorme, contenho multidões", disse Walt Whitman. E dizem os bons livros, se tivermos a disposição e a disciplina de ouvir.
Então, alguém poderia perguntar, por que escolhi esta edição específica para destacar? Por um motivo simples: O Rei de Amarelo da Intrínseca conta com introdução, comentários e notas deste que vos escreve. De uma madrugada correndo atrás da etimologia de "Carcosa" a consultas enciclopédicas sobre o Yellow Book londrino dos anos 1890, passando por uma análise comparativa das cinco edições do Rubaiyat publicadas na Era Vitoriana, o trabalho em si foi uma viagem e tanto -- cujo resultado os curiosos podem encontrar no próprio livro, já anunciado no website da editora e em pré-venda em algumas livrarias online.
O mais interessante de tudo, ao menos para mim, foi ver como, ao longo da pesquisa, emergia um emaranhado de influências e de diálogos entre obras literárias, onde entrelaçavam-se Poe, Baudelaire, a vanguarda decadente francesa, Ambrose Bierce e Oscar Wilde, tudo concentrando-se em Robert W. Chambers -- o autor de O Rei de Amarelo -- e, a partir daí, abrindo-se novas vertentes, onde aparecem Lovecraft, Derleth, Raymond Chandler, os pós-modernos lisérgicos da década de 70, Stephen King e, claro, True Detective.
Para quem vive, como eu, imerso no que se convencionou chamar de "literatura de gênero" -- pulp, ficção científica, terror, etc. -- foi muito interessante constatar os movimentos de fluxo e refluxo que os ditos gêneros mantêm entre si e, também, com a chamada "literatura séria".
O próprio Chambers transitava livremente entre esses campos: a maior parte de sua obra, para além de O Rei de Amarelo, é composta de romances do tipo moça-pobre-e-pura-encontra-marido-sexy-rico, mas também traz incursões por gêneros tão díspares quanto espionagem (seu romance The Slayer of Souls é uma aventura em que o Serviço Secreto americano salva a Civilização Ocidental de uma perigosa sociedade secreta do Oriente) e a ficção científica, incluindo uma série de histórias sobre a descoberta de animais fantásticos, In Search of the Unknown.
Se o trabalho de anotar Chambers me mostrou alguma coisa, foi que uma obra de literatura, se lida com atenção, dificilmente caberá no escaninho mental que preparamos para ela. "Sou enorme, contenho multidões", disse Walt Whitman. E dizem os bons livros, se tivermos a disposição e a disciplina de ouvir.
Já li o primeiro conto!
ResponderExcluirOlá Carlos, através de uma edição da resvista Galileu conheci essa semana toda sua obra literária bem como o lançamento deste livro do post, acabei de comprá-lo bem como seu livro Guerra Justa, quando acabá-los voltarei a este recinto para tecer meus comentários ;)
ResponderExcluirOlá, Celso, que legal! Depois de terminar, diga aqui o que achou -- detone, se for o caso, mas também não se acanhe em elogiar! :)
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