Estarei em "Espadas contra Cthulhu"!

Robert E. Howard, criador de heróis como o bárbaro Conan e o espadachim puritano Solomon Kane, foi um dos primeiros colaboradores de H.P. Lovecraft na construção da grande mitologia compartilhada que, depois, viria a ser conhecida como os "mitos de Cthulhu" (sobre os quais já falei em dois podcasts, aqui e aqui). Juntar o horror cósmico de Lovecraft aos cenários de intensa aventura de Howard não é, portanto, nenhum tipo de heresia.

Na verdade, é quase um retorno às origens, já que Clark Ashton Smith, outro dos "pais", ao lado de Howard, da chamada sword & sorcery -- um subgênero da fantasia que está para a chamada Alta Fantasia de Tolkien mais ou menos como o noir está para o chamado "mistério aconchegante" de Agatha Christie -- também foi uma figura importante na gênese dos mitos de Cthulhu.

Com isso em mente, a editora britânica Stone Skin Press resolveu organizar uma antologia intitulada Swords vs Cthulhu (literalmente, "Espadas contra Cthulhu"). Hoje, foi anunciada oficialmente a lista de autores selecionados. E, ora bolas, eu estou nela! Meu conto, The Argonaut, se passa no mesmo universo da novela As Dez Torres de Sangue, mas tem outro protagonista, e um clima mais puxado para o estilo das Mil e Uma Noites; ele também explora algumas das implicações deste ensaio que escrevi há alguns anos, sobre os mitos de Cthulhu.

O livro deve sair no início do ano que vem, e representa minha quarta venda de obra solo ao mercado anglófono, depois dos contos que apareceram na Ellery Queen Mystery Magazine e nas antologias Rehearsals for Oblivion e War Stories. Além dessas histórias, também tive publicado profissionalmente o conto Last of the Guaranys, escrito em parceria com Octavio Aragão.

Ênfase em venda: faz uns dois anos, mais ou menos, que parei de escrever ficção em português, basicamente frustrado com a recepção de meu trabalho no país. Escrever, para mim, é algo que custa caro, tanto em tempo quanto em dinheiro, mesmo (sou um consumidor compulsivo de material de pesquisa: livros, periódicos, etc.), e embora as recompensas da literatura não precisem ser, necessariamente, financeiras, eu havia chegado a um ponto em que me via sem leitores e sem grana -- sentia-me, para ser sincero, falando sozinho e jogando dinheiro fora.

A decisão de priorizar o mercado externo tem sido recompensadora: é um mundo competitivo e difícil, ainda mais para quem não se familiarizou com o inglês desde o berço. Mas se a dificuldade de publicar e as dezenas de rejeições inevitáveis machucam o ego, os poucos sucessos mais do que compensam -- na alma e no bolso.

Ainda há alguns escritos meus, produzidos antes deste "sabático lusófono", para sair. Devem aparecer, ao longo deste ano, pela Editora Draco. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre meu trabalho com os mitos de Cthulhu pode tentar este conto aqui, ou este. Ou esperar, além de Swords vs Cthulhu, a coletânea Mistérios do Mal, a sair pela Draco, que deve reunir quase todas as minhas histórias de terror.

Comentários

  1. Carlos, parabéns!
    É uma pena que o mercado de contos no Brasil não tenha uma revista de periodicidade regular e com perfil de remunerar seus autores. Necessitamos deste mecanismo para produzir e, no processo, melhorar a qualidade dos textos.
    Nenhum autor nasce pronto e falta a figura do editor, personagem relegado a segundo plano em um mercado cheio de concursos - que via de regra, não remuneram.

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  2. Parabéns! Li um conto seu no livro Ascensão de Cthulhu e achei bem bom. Legal saber que tem brasileiros enriquecendo o Mythos com estórias de qualidade.

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  3. Espero que o blog não fique de lado também.

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