Astrologia!


O título desta postagem ia ser "precisamos falar sobre astrologia", mas aí me lembrei de que esse "precisamos falar", além de ser um tremendo dum clichê, soa arrogante e pomposo, então desisti. Mas, enfim: falar sobre astrologia, neste momento, se não chega a ser necessário, pode ser bastante pertinente.E por uma série de motivos.

O primeiro é que ela representa, com alto grau de probabilidade, a mais antiga superstição criada pela raça humana e que ainda se mantém viva e ativa, tendo deixado para trás, nas areias do tempo, colegas e concorrentes como a leitura das entranhas de pombos, a interpretação da urina dos cães e os vaticínios de pitonisas viajandonas. As mais antigas previsões astrológicas conhecidas estão gravadas em tábuas de argila da Babilônia. Compreender a longevidade desse fenômeno traz pistas importantes para o entendimento da psique humana e das relações sociais.

A segunda razão, intimamente relacionada à primeira, é que, em seu duelo milenar com a racionalidade (a prática foi classificada como "tolice" e "loucura" por figuras tão distantes entre si no tempo quanto o orador romano Cícero e o filósofo francês Descartes), a astrologia acabou suscitando questões importantes sobre as fontes e os limites do conhecimento humano -- o que torna uma crença justificada? por quê? -- em que muitos de seus críticos se viram defendendo um ponto de vista correto (o de que astrologia é uma bobagem) com base em argumentos apressados e bem menos que brilhantes. Há uma lição aí.

Por outro lado, também há muita distorção no campo pró-astrologia: não é difícil encontrar sites de apologia astrológica citando o nome de Albert Einstien e/ou os trabalhos estatísticos de Carl Jung e Michel Gauquelin como favoráveis à astrologia, quando a verdade é exatamente o contrário.

Outra lição, também largamente ignorada, vem da inacreditável massa de estudos sobre o assunto, realizados ao longo dos últimos 60 anos. Há dados estatísticos abundantes sobre a -- ausência de -- influências dos astros na vida, na saúde, na psicologia e no destino humano. Existem números apurados sobre profissão, sucesso, amor; sobre signos solares, mas também lunares, aspectos planetários, ascendentes; há provas abundantes da (ausência de) capacidade de astrólogos de distinguir ente os mapas astrais de assassinos, suicidas, santos, políticos, gente comum.

De resto, o próprio status da astrologia como uma superstição não só socialmente tolerada, mas até mesmo aceita e estimulada em certos círculos que se pretendem sofisticados e esclarecidos, é algo que faz dela uma influência a não ser desprezada. O vídeo da Porta dos Fundos que abre esta postagem é, por incrível que pareça, baseado em fatos reais.

Enfim, são tantas as abordagens que o assunto mereceria um livro. Que, aliás, passei os últimos meses escrevendo: "O LIVRO DA ASTROLOGIA - Um guia para céticos, curiosos e indecisos", que está disponível para pré-venda na Amazon.com.br pela bagatela de R$ 10,50 (para quem tem conta na loja Kindle americana, o livro está em pré-venda neste link). O lançamento oficial é 5 de dezembro, data escolhida por coincidir com o aniversário de 30 anos do artigo sobre astrologia publicado por Shawn Carlson na Nature.


Diferentemente de minhas obras anteriores de ceticismo e divulgação científica, "O Livro dos Milagres" e "Pura Picaretagem", ambas publicadas originalmente em papel e por editoras de boa reputação (Vieira&Lent e LeYa, respectivamente), "Astrologia" está asindo exclusivamente em e-book, e no que se costuma chamar "edição do autor".

Os motivos são vários: o primeiro, mais óbvio, é que nestes tempos de colapso político-econômico nacional está difícil interessar uma editora estabelecida a apostar num livro assim, e a idade está me deixando cada vez menos paciente. O segundo é que eu queria mesmo que o livro saísse no aniversário da publicação de Carlson. O terceiro é que estou bem curioso para saber como esse negócio de autopublicação virtual de não-ficção vai funcionar. Se é que vai.

Assim como "Milagres" não acabou com a indústria da fé e "Picaretagem" não impediu que o misticismo quântico continuasse a vicejar, não espero que "Astrologia" faça com que as atrizes da Globo e os políticos do Congresso parem e tomar decisões com base no signo das pessoas, ou que os jornais criem vergonha na cara e aumentem o espaço dos quadrinhos cortando o horóscopo. O objetivo é tentar equilibrar -- num nível mínimo, mas ainda assim -- o dilúvio de literatura acrítica pró-astrológica disponível.

Sempre que escrevo uma obra de ceticismo, imagino uma pessoa genuinamente curiosa fazendo uma busca no Google e encontrando apenas obras favoráveis a qualquer que seja o assunto que lhe despertou o interesse, sejam alienígenas do passado ou signos compatíveis para o amor. Minha esperança é que meus livros funcionem como uma espécie de voz dissonante, fraca, talvez, mas de qualquer modo, presente.

Ah, sim: se alguém quiser comprar os direitos para fazer uma edição em papel, estamos aí, sem dúvida. Para ler a edição virtual não é preciso ter um aparelho Kindle: basta baixar o aplicativo gratuito seu celular ou tablet. Como se trata de uma edição toda feita por mim sozinho, é possível que haja mais erros de revisão do que o normal (as pessoas em geral, e eu em particular, somos péssimos revisores de nossos próprios textos). Mas, em se tratando de uma edição virtual, dá para ir ajustando as coisas ao longo do tempo.

Comentários

  1. "O lançamento oficial é 5 de dezembro, data escolhida por coincidir com o aniversário de 30 anos do artigo sobre astrologia publicado por Shawn Carlson na Nature."

    Confessa, Orsi. Você fez um mapa astral, consultou a borra de café e te indicaram que essa era a melhor data.

    Brincadeiras a parte, ótima notícia, melhor ainda por ser em e-book. Demorei mais de um ano para comprar o Livro dos milagres por pura preguiça de precisar encomendar um livro físico, e acabei comprando quando me deparei com ele em uma livraria.

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  2. Só uma dica adicional:
    Além do aparelho Kindle e dos aplicativos pra tablet e celular, há outra opção que é o cloud reader da amazon. Pelo próprio navegador dá pra ter acesso aos livros comprados em e-book.
    ler.amazon.com

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  3. Tenho interesse no seu livro sobre Astronomia. É possível compra-lo de uma forma que não seja pela Amazon?

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    1. Oi, obrigado pelo interesse! Por enquanto, só tenho essa versão, do e-book da Amazon. Estou pesquisando alternativas para fazer uma edição em papel, mas por enquanto não tenho nada em vista...

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    2. Ah, outra coisa: o assunto do livro é AstroLOGIA, não AstroNOMIA. Pode parecer um pequeno detalhe, mas são coisas radicalmente diferentes...

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    3. Obrigado. Sim, astrologia, e não astronomia. Fiz a pergunta, pois não tenho cartão de crédito. É possível comprar por boleto?

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    4. Infelizmente, a Amazon não trabalha com boleto. A política de pagamentos deles está aqui: http://www.amazon.com.br/gp/help/customer/display.html?nodeId=201365920

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    5. Que pena! A divulgação científica emperrada por "política de pagamentos". Só quem tem cartão de crédito pode comprar seu livro. Desejo sucesso na venda do seu livro. Fico triste que não poderei aprecia-lo.

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    6. Tenho esperança de que ele saia em papel, com modos de venda mais diversificados... ainda que venha a demorar um pouco!

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  4. Vou comprar!

    Estou lendo o Pura Picaretagem e adorando.

    Comecei Psicologia este ano e não aguento a conversa de signos em todo lugar.

    Se signo explica tudo, pra que estudar psicologia?

    Que inclusive tá cheia de ~física quântica~ também, né rs

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