Múltiplos mundos habitáveis: história e ficção
Com massa que é apenas 8% da do Sol, a estrela, chamada TRAPPIST-1, é uma “anã vermelha gelada”, pequena e de temperatura relativamente baixa. A descoberta é descrita na revista Nature. Para os fãs de quadrinhos, é curioso lembrar que a estrela do planeta Krypton costumava ser descrita como uma anã vermelha.
A descoberta do complexo sistema de TRAPPIST-1 pode voltar a pôr na moda uma ideia que a ficção científica vinha deixando mais ou menos de lado, a de sistemas estelares com múltiplos mundos habitáveis. Eles já haviam sido bem comuns no passado. Por exemplo, em sua série dos Príncipes Demônios, o grande Jack Vance dava à estrela Rigel nada menos que 26 planetas, muitos deles adequados para a vida humana. A série Jornada nas Estrelas também tem episódios envolvendo conflitos entre planetas de um mesmo sistema (Um Gosto de Armageddon e Padrões de Força logo vêm à mente).
Historicamente, até metade do século passado não era irrazoável supor que pudesse haver vida avançada em Marte: há registros históricos de que, em 1924, houve um esforço para se tentar captar transmissões de rádio vindas do Planeta Vermelho. Na época, Edgar Rice Burroughs povoava todo o Sistema Solar com espécies autóctones: seus livros estavam cheios de marcianos, venusianos e selenitas, seguindo uma tradição que remontava a Luciano de Samósata, passando por Cyrano de Bergerac.
Mas a ideia vinha de diversos planetas habitáveis em órbita de uma mesma estrela andou ficando de lado nos últimos tempos, substituída por tropos como a terraformação (conversão de mundos inabitáveis em habitáveis por meios tecnológicos) e a colonização transumana (a adaptação artificial do corpo humano para a sobrevivência em ambientes hostis). Ambas as abordagens nascem do pressuposto de que mundos adequados para a vida são extremamente raros. E se cesse pressuposto estiver errado?
Três dos mundos do novo sistema já haviam sido encontrados em órbita de TRAPPIST-1 no ano passado, por meio da técnica de trânsito, em que a presença do planeta é inferida pela queda no brilho da estrela, quando um obstáculo passa pela linha de visão entre o astro e a Terra. Essas descobertas originais levaram pesquisadores a lançar uma campanha contínua de observação da estrela, cujos resultados são publicados agora.
Os autores no artigo mais recente são baseados nos EUA, Europa e Oriente Médio, e chamam atenção para o fato de que deve ser possível caracterizar a atmosfera desses novos mundos, “com instalações astronômicas atuais ou futuras”.
O fato de os planetas transitarem diante da estrela torna, em princípio, possível o uso da “iluminação de fundo” fornecida por ela em análises espectroscópicas. A eventual presença de oxigênio na atmosfera de algum dos mundos de TRAPPIST-1 poderia ser um indicador da existência de vida.
“Os seis planetas internos formam uma cadeia quase-ressonante, tal que seus períodos orbitais (...) são razões aproximadas de pequenos números inteiros”, diz o artigo. “Essa arquitetura sugere que os planetas se formaram longe da estrela e migraram para dentro. Além disso, os sete planetas têm temperaturas de equilíbrio são baixas o bastante para possibilitar a presença de água em estado líquido em suas superfícies”.
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