E agora, Nasa?
Nesta sexta-feira pela manhã, salvo algum impedimento de última hora (com os ônibus espaciais, nunca se sabe), o Atlantis partirá na última missão a ser realizada por um tipo muito específico de nave tripulada, o ônibus espacial.
Em uso há 30 anos, os ônibus espaciais representaram duas mudanças drásticas -- e, pelo que o julgamento da história indica até agora, erradas -- no conceito de nave espacial existente no mundo real, aproximando os veículos de verdade de seus correspondentes no mundo da ficção científica.
Assim como as naves criadas pelo Professor Zarkov para Flash Gordon (ou como a Millenium Falcon de Guerra nas Estrelas), os ônibus unem carga e tripulação num mesmo veículo, e são reutilizáveis. A ideia básica era reduzir custos, mas o efeito final foi o de multiplicar riscos, pondo vidas humanas na linha de fogo a cada lançamento de satélite. Isso não seria um problema se as naves fossem realmente seguras -- o que provou não ser o caso.
Além disso, os ônibus espaciais são extremamente limitados, já que conseguem atingir, apenas, a órbita baixa da Terra. São, a bem da verdade, naves para parte alguma: se não fosse a Estação Espacial Internacional, não teriam outro destino além do de dar voltas em torno da Terra. Ou, como diz a anedota: os ônibus espaciais existem para ligar a Terra à ISS. Já a ISS existe para os ônibus espaciais terem para onde ir.
Quando o presidente George W. Bush ordenou a aposentadoria dos ônibus espaciais, a primeira coisa que a Nasa fez, ao propor uma nova arquitetura de voo espacial, foi separar a carga das pessoas: o Projeto Constellation previa uma cápsula tripulada, a Orion, que transportaria apenas astronautas; e um foguete pesado, o Ares V, capaz de lançar carga ao espaço, ou de propelir a Orion para destinos além da órbita da Terra.
O plano era bom, mas Bush -- e o Congresso -- não o apoiaram com as verbas necessárias, o que levou o governo seguinte, de Barack Obama, a cancelar o Constellation. A ideia de Obama era entregar o acesso à órbita terrestre à iniciativa privada, e ordenar à Nasa a criação de um novo sistema capaz de levar astronautas para destinos distantes -- asteroides, ou mesmo Marte -- dentro de duas décadas.
Pressões no Congresso americano, no entanto, acabaram produzindo uma espécie de "plano Frankenstein", no qual o Constellation ganhava uma espécie de versão reduzida: a cápsula Orion foi reconvertida no MPCV, mais uma vez um veículo capaz de levar astronautas para além da órbita terrestre; e o design do sucedâneo do Ares V, denominado pela sigla SLS ficou para ser anunciado "em breve".
O Congresso dos EUA determinou que o novo foguete e o MPCV devem fazer um voo inaugural em 2016, mas a Nasa diz que, com a verba disponível, isso é "improvável".
O MPCV terá capacidade de manter quatro astronautas vivos no espaço por 21 dias. Isso não é suficiente para chegar a nenhum lugar realmente interessante (descontando-se a Lua ou talvez um ponto lagrangiano, mas qual a graça de voar até um pedaço de espaço vazio?), mas em entrevista à BBC, funcionários da agência espacial disseram que, em missões prolongadas, o módulo seria apenas parte de uma configuração maior.
De qualquer forma, a divisão de trabalho proposta por Obama se mantém: o acesso à órbita terrestre passa a ser problema da iniciativa privada (e, até que as empresas tenham suas cápsulas prontas e operando, do governo russo) enquanto a Nasa se concentra em destinações mais "visionárias".
Vai dar certo? A questão é, como sempre, dinheiro. Como disse um dos primeiros astronautas americanos, "No bucks, no Buck Rogers". Quando teve um cheque em branco, a Nasa pôs homens na Lua em menos de dez anos.
De lá para cá, só viu seus planos sofrerem downsizings radicais no caminho entre o discurso presidencial e a planilha de gastos: nos últimos 20 anos, nada menos que dois presidentes americanos ordenaram a realização de viagens tripuladas a Marte, diante das câmeras, somente para puxar o tapete orçamentário de debaixo dos pés da agência, em seguida.
O risco de o MPCV acabar sendo outro beco sem-saída, mais uma nave para parte alguma, não deve ser subestimado. Mas o jeito é esperar para ver.
Em uso há 30 anos, os ônibus espaciais representaram duas mudanças drásticas -- e, pelo que o julgamento da história indica até agora, erradas -- no conceito de nave espacial existente no mundo real, aproximando os veículos de verdade de seus correspondentes no mundo da ficção científica.
Assim como as naves criadas pelo Professor Zarkov para Flash Gordon (ou como a Millenium Falcon de Guerra nas Estrelas), os ônibus unem carga e tripulação num mesmo veículo, e são reutilizáveis. A ideia básica era reduzir custos, mas o efeito final foi o de multiplicar riscos, pondo vidas humanas na linha de fogo a cada lançamento de satélite. Isso não seria um problema se as naves fossem realmente seguras -- o que provou não ser o caso.
Além disso, os ônibus espaciais são extremamente limitados, já que conseguem atingir, apenas, a órbita baixa da Terra. São, a bem da verdade, naves para parte alguma: se não fosse a Estação Espacial Internacional, não teriam outro destino além do de dar voltas em torno da Terra. Ou, como diz a anedota: os ônibus espaciais existem para ligar a Terra à ISS. Já a ISS existe para os ônibus espaciais terem para onde ir.
Quando o presidente George W. Bush ordenou a aposentadoria dos ônibus espaciais, a primeira coisa que a Nasa fez, ao propor uma nova arquitetura de voo espacial, foi separar a carga das pessoas: o Projeto Constellation previa uma cápsula tripulada, a Orion, que transportaria apenas astronautas; e um foguete pesado, o Ares V, capaz de lançar carga ao espaço, ou de propelir a Orion para destinos além da órbita da Terra.
O plano era bom, mas Bush -- e o Congresso -- não o apoiaram com as verbas necessárias, o que levou o governo seguinte, de Barack Obama, a cancelar o Constellation. A ideia de Obama era entregar o acesso à órbita terrestre à iniciativa privada, e ordenar à Nasa a criação de um novo sistema capaz de levar astronautas para destinos distantes -- asteroides, ou mesmo Marte -- dentro de duas décadas.
Pressões no Congresso americano, no entanto, acabaram produzindo uma espécie de "plano Frankenstein", no qual o Constellation ganhava uma espécie de versão reduzida: a cápsula Orion foi reconvertida no MPCV, mais uma vez um veículo capaz de levar astronautas para além da órbita terrestre; e o design do sucedâneo do Ares V, denominado pela sigla SLS ficou para ser anunciado "em breve".
O Congresso dos EUA determinou que o novo foguete e o MPCV devem fazer um voo inaugural em 2016, mas a Nasa diz que, com a verba disponível, isso é "improvável".
O MPCV terá capacidade de manter quatro astronautas vivos no espaço por 21 dias. Isso não é suficiente para chegar a nenhum lugar realmente interessante (descontando-se a Lua ou talvez um ponto lagrangiano, mas qual a graça de voar até um pedaço de espaço vazio?), mas em entrevista à BBC, funcionários da agência espacial disseram que, em missões prolongadas, o módulo seria apenas parte de uma configuração maior.
De qualquer forma, a divisão de trabalho proposta por Obama se mantém: o acesso à órbita terrestre passa a ser problema da iniciativa privada (e, até que as empresas tenham suas cápsulas prontas e operando, do governo russo) enquanto a Nasa se concentra em destinações mais "visionárias".
Vai dar certo? A questão é, como sempre, dinheiro. Como disse um dos primeiros astronautas americanos, "No bucks, no Buck Rogers". Quando teve um cheque em branco, a Nasa pôs homens na Lua em menos de dez anos.
De lá para cá, só viu seus planos sofrerem downsizings radicais no caminho entre o discurso presidencial e a planilha de gastos: nos últimos 20 anos, nada menos que dois presidentes americanos ordenaram a realização de viagens tripuladas a Marte, diante das câmeras, somente para puxar o tapete orçamentário de debaixo dos pés da agência, em seguida.
O risco de o MPCV acabar sendo outro beco sem-saída, mais uma nave para parte alguma, não deve ser subestimado. Mas o jeito é esperar para ver.
E o telescópio James Webb também corre sério risco de virar outro beco sem-saída... http://www.spacedaily.com/reports/US_lawmakers_vote_to_kill_Hubble_successor_999.html
ResponderExcluirMas será que com cheque em branco, dá pra se por, por exemplo, outro homem na Lua?
ResponderExcluirAinda acho que estamos sob a 'contratocracia', quem manda são os fornecedores...
A divisão de custos e partilha de benefícios com nações aliadas me parece uma saída viável. Mas como passado e futuro parecem apenas servir às bravatas do presente, paciência...
Basta largar o medo da ameaça nuclear e fazer umas 3 naves com o Project Orion para ter uma base funcional em Marte. Brasília sería um ótimo local para a decolagem.
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