Tudo é divulgação científica!

O título acima, em toda a sua glória bombástica, foi a linha-mestra que norteou minha apresentação no Simpósio de Biodiversidade (SIMBIO) do campus de Rio Paranaíba da Universidade Federal de Viçosa. Participei de uma mesa sobre Divulgação Científica ao lado de Átila Iamarino e  Luiz Bento. Eu era o cara mais velho da mesa e o único sem PhD, duas constatações que  me puseram a pensar no que, exatamente, andei fazendo com a minha vida nos últimos 20 anos.

Átila, com sua experiência no Scienceblogs Brasil e no Nerdologia, e Luiz, também do Scienceblogs Brasil e do Museu Ciência e Vida, falaram mais sob a perspectiva do cientista que se propõe a estabelecer um canal de comunicação com o público, que público é esse, como fazer isso, quais as armadilhas que se encontram pelo caminho e por que isso é legal.

Já a minha apresentação, temo, foi um pouco mais evangelizadora -- ou diria eu, estridente? -- no seguinte sentido: tentei incutir, na plateia de estudantes e futuros pesquisadores, a ideia de que, se você é cientista e cidadão, você tem que se envolver com o público. Tipo, assim, dever sagrado. E isso por uma série de motivos (no fim e ao cabo, nas democracias é o público quem decide para onde o dinheiro vai, e se o público não sabe o que você faz, vai acabar preferindo pagar pelo show do Luan Santana na inauguração do coreto a sustentar o seu estudo sobre o sexo das mariposas), mas o principal: tudo é divulgação científica.

E que cazzo esse slogan maluco quer dizer, afinal? Meu ponto era o seguinte: na democracia moderna, não há uma única questão relevante no debate público que não possa ser iluminada por uma perspectiva científica. Isso vai desde não-debates (isto é, questões que, em nome da mais comezinha honestidade intelectual nem deveriam mais estar sendo discutidas, como a realidade do aquecimento global ou a conveniência da adoção por casais homossexuais) a debates reais (sistema de votação, maioridade penal, papel do Estado na economia).

Veja bem, não se trata de preconizar uma ditadura tecnocrática: é apenas contribuir para o debate, seja com o conhecimento produzido, seja com a perspectiva científica -- de pedir evidências, de duvidar de conclusões convenientes demais que surgem muito depressa, de detectar vieses, criticar consensos.

Bom, tudo isso aí em cima foi para dizer que a mesa de Divulgação Científica do SIMBIO foi gravada e virou mais um episódio do podcast Rock com Ciência. Que você pode ouvir aqui!

(Numa nota mais pessoal, foi emocionante ver tanta gente com pilhas de livros para eu autografar, entre meus trabalhos de ficção e de divulgação. Encontrar leitores é sempre ótimo!)

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