O ufólogo da Casa Branca
Enquanto no Brasil um deputado busca regulamentar a "profissão" de ufólogo, a fim de abrir caminho para o financiamento público de pesquisas sobre o tema, nos Estado Unidos a candidata à Presidência Hillary Clinton não só promete liberar "todos os documentos" sobre óvnis, caso eleita, como tem, como chefe de campanha, John Podesta, um ufólogo "obsessivo", segundo este perfil publicado pelo Washington Post. Podesta, que ocupou posições importantes no gabinete do presidente Bill Clinton nos anos 90 e foi conselheiro de Barack Obama, era conhecido por "pegar o telefone e ligar para a Força Aérea perguntando o que acontece na Área 51".
Escrevendo para a revista Skeptical Inquirer, Robert Sheaffer nota que Podesta tem uim interesse especial no chamado "caso Kekcsburg", um evento ocorrido em 1965 e que alguns documentários de TV de má reputação tentaram transformar num "segundo Roswell". Sheaffer explica que o "evento" coincide exatamente com a data, hora, local e trajetória da queda de um conhecido meteorito, mas há quem não ache essa congruência convincente ou sugestiva o bastante.
Ele lembra ainda que, perguntada por um repórter do jornal Conway Daily Sun sobre seus pensamentos a respeito de óvnis, Hillary Clinton respondeu: "Talvez já tenhamos sido visitados. Não sabemos com certeza". O que é uma respostam bem política.
Aparentemente, o impacto das crenças exóticas de Podesta sobre as políticas do governo americano não vai muito além de testar a paciência dos chefes militares ou de criar oportunidades para a CIA fazer um pouco de marketing, o que é bem inofensivo, se comparado ao casos em que as crenças exóticas do campo republicando -- que vão do criacionismo à negação do aquecimento global -- podem causar.
Falando na relação entre crenças (pseudo)científicas e políticas públicas, a edição mais recente da mesma Skeptical Inquirer traz um artigo do professor de Comunicação Matthew Nisbet sobre o que ele chama de "Paradoxo da Alfabetização Científica": basicamente, o fato de que pesquisas mostram que o nível de "alfabetização científica" de uma pessoa -- o quanto ela sabe sobre o conteúdo das ciências, como Biologia, Astronomia, etc. -- tem uma correlação baixa com as crenças sobre ciência que essa pessoa vai defender num debate sobre políticas públicas.
Em outras palavras, não é que os criacionistas (por exemplo) necessariamente ignoram a teoria da evolução: muitos deles não acreditam nela, mesmo conhecendo-a; e os que são cientificamente sofisticados usam sua sofisticação para criar argumentos em favor de suas crenças. O mesmo se aplica a outras questões contenciosas do ponto de vista político, como o aquecimento global ou o papel dos genes na formação da personalidade, ou as diferenças inatas (não culturais) entre os sexos.
Nisbet sugere que uma forma de contornar esse problema seria separar, ao menos para efeito de debate, a ciência da política. Se a psicologia sugere que há pessoas tão identificadas com determinado quadro ideológico que, diante de uma proposição do tipo "Se X é verdade, então a política Y, que contraria minha ideologia, deve ser implementada", preferem inventar razões para negar X, a despeito de toda a evidência, a aceitar Y, talvez o melhor seja, num primeiro momento, separar X de Y.
É uma proposta simpática, ainda mais quando nos damos conta de que muitos dos saltos de X para Y que vemos no dia-a-dia são um tanto quanto arbitrários, mas também limitada: afinal, há vezes em que Y decorre, sim, necessariamente, de X. E aí?
Escrevendo para a revista Skeptical Inquirer, Robert Sheaffer nota que Podesta tem uim interesse especial no chamado "caso Kekcsburg", um evento ocorrido em 1965 e que alguns documentários de TV de má reputação tentaram transformar num "segundo Roswell". Sheaffer explica que o "evento" coincide exatamente com a data, hora, local e trajetória da queda de um conhecido meteorito, mas há quem não ache essa congruência convincente ou sugestiva o bastante.
Ele lembra ainda que, perguntada por um repórter do jornal Conway Daily Sun sobre seus pensamentos a respeito de óvnis, Hillary Clinton respondeu: "Talvez já tenhamos sido visitados. Não sabemos com certeza". O que é uma respostam bem política.
Aparentemente, o impacto das crenças exóticas de Podesta sobre as políticas do governo americano não vai muito além de testar a paciência dos chefes militares ou de criar oportunidades para a CIA fazer um pouco de marketing, o que é bem inofensivo, se comparado ao casos em que as crenças exóticas do campo republicando -- que vão do criacionismo à negação do aquecimento global -- podem causar.
Falando na relação entre crenças (pseudo)científicas e políticas públicas, a edição mais recente da mesma Skeptical Inquirer traz um artigo do professor de Comunicação Matthew Nisbet sobre o que ele chama de "Paradoxo da Alfabetização Científica": basicamente, o fato de que pesquisas mostram que o nível de "alfabetização científica" de uma pessoa -- o quanto ela sabe sobre o conteúdo das ciências, como Biologia, Astronomia, etc. -- tem uma correlação baixa com as crenças sobre ciência que essa pessoa vai defender num debate sobre políticas públicas.
Em outras palavras, não é que os criacionistas (por exemplo) necessariamente ignoram a teoria da evolução: muitos deles não acreditam nela, mesmo conhecendo-a; e os que são cientificamente sofisticados usam sua sofisticação para criar argumentos em favor de suas crenças. O mesmo se aplica a outras questões contenciosas do ponto de vista político, como o aquecimento global ou o papel dos genes na formação da personalidade, ou as diferenças inatas (não culturais) entre os sexos.
Nisbet sugere que uma forma de contornar esse problema seria separar, ao menos para efeito de debate, a ciência da política. Se a psicologia sugere que há pessoas tão identificadas com determinado quadro ideológico que, diante de uma proposição do tipo "Se X é verdade, então a política Y, que contraria minha ideologia, deve ser implementada", preferem inventar razões para negar X, a despeito de toda a evidência, a aceitar Y, talvez o melhor seja, num primeiro momento, separar X de Y.
É uma proposta simpática, ainda mais quando nos damos conta de que muitos dos saltos de X para Y que vemos no dia-a-dia são um tanto quanto arbitrários, mas também limitada: afinal, há vezes em que Y decorre, sim, necessariamente, de X. E aí?
Comentários
Postar um comentário