Astrologia financeira, ó céus!
Um amigo me envia, pelo Facebook, o link para uma matéria da Folha de S. Paulo sobre "astrologia financeira". Não trato diretamente desse assunto no meu "Livro da Astrologia", mas foi só esticar o braço aqui na estante de casa e pegar o volumoso "Tests of Astrology", um compêndio publicado em Amsterdã no ano passado, que reúne e analisa centenas de experimentos envolvendo astrologia realizados nas últimas décadas. Uma olhada no índice e vi que ele contém duas páginas e meia dedicadas à aplicação da astrologia nas finanças.
A principal ilustração é essa que você vê aí em cima, comparando os preços do ouro em Londres durante os primeiros meses de 1984 e a previsão de um "consultor astrológico" para o mesmo período. Esse consultor, Daniel Pallant, não era um astrólogo qualquer, mas o diretor de uma firma (Commodity Consultants, Ltd.) que vendia suas dicas astrológicas a clientes investidores.
O verbete em "Tests of Astrology" comenta ainda que um levantamento feito em 1977, com estudos astrológicos de mais de 15 diferentes autores, mostrou que as correlações apontadas entre eventos astrológicos e eventos significativos no mercado só parecem impressionantes por causa de uma alta seletividade por parte dos autores -- por exemplo, é possível fazer uma lista enorme de momentos em que a lua cheia coincidiu com uma alta da Bolsa, mas para isso é preciso ignorar todas as outras vezes em que a lua estava cheia e a Bolsa caiu.
A despeito disso, há algo interessante na astrologia financeira, do ponto de vista psicológico, já que o comportamento dos mercados é, de qualquer modo, largamente imprevisível: em 2008, o psicólogo Richard Wiseman publicou, em seu livro "Quirkology", o resultado de um experimento em que três pessoas -- um analista de investimentos, um astrólogo e uma criança de seis anos -- escolheram carteiras de ações para investir 5.000 libras, por um ano. Ao final do período, o analista havia perdido 46% do capital, o astrólogo 16% e a criança, que escolhera as ações no uni-duni-tê, lucrara 6%.
Como o mapa astral é, fundamentalmente, projetivo -- dado o número exorbitante de aspectos e possíveis interpretações mutuamente excludentes, cada um vê nele o que quer, ou o que o astrólogo sugere -- algumas pessoas talvez encontrem nele uma ferramenta para dar forma a suas intuições ou, o que é mais perigoso, confirmar suas expectativas, por mais irracionais que sejam. Em seu comentário sobre o assunto, o livro holandês inclui a seguinte afirmação, extraída da obra "A Random Walk Down Wall Street", de Burton Malkiel: "Previsão financeira parece ser uma ciência que faz a astrologia parecer respeitável".
Uma nota final, agora sobre o texto, com o perdão da palavra, "jornalístico" da Folha: é curioso o jornal, que acaba de lançar uma nova política editorial que pede um combate sem tréguas à pós-verdade e que promete trazer mais textos "conclusivos", "indo além do meramente factual e incorporando uma dimensão interpretativa", publicar uma matéria sobre astrologia escrita naquele "tom etnográfico" maroto que já critiquei seguidas vezes, em que o leitor fica sem saber, afinal, se é para levar horóscopo financeiro a sério ou não.
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