Dieselpunk'd!
Foi anunciada nesta manhã a lista de histórias selecionadas para a antologia Dieselpunk, organizada por Gerson Lodi-Ribeiro para a Editora Draco e, yep!, estou nela.
Confesso que estava apreensivo: ano que vem faz 20 anos que uma obra de ficção minha foi aceita, pela primeira vez, para uma publicação profissional, e é de se imaginar que, de lá para cá, eu tivesse ficado um pouco mais blasé no tocante a aceitações e rejeições.
Mas A Fúria do Escorpião Azul, minha submissão para a DP, é um caso especial: talvez seja meu trabalho completo mais ambicioso -- sob certos aspectos, como na manipulação do tempo narrativo, mais até do que o romance Guerra Justa (publicado pela mesma editora e, <plim-plim> à venda no link do canto superior direito desta página</plim-plim>).
Imagino que os leitores que frequentam este blog pelo conteúdo polêmico/político/científico e que tiveram a gentileza de continuar lendo até aqui estejam um pouco intrigados com o título da antologia, "Dieselpunk". Que diabo é isso?
Bom, uma aposta seria imaginar que a palavra se forma da mesma derivação que "steampunk", que por sua vez deriva de "cyberpunk", que por sua vez se refere a um subgênero da ficção científica que floresceu nos anos 80 do século passado e que explorava os possíveis efeitos da penetração profunda da tecnologia da informação e da mídia eletrônica na sociedade e, principalmente, nos ambientes urbanos.
Em termos de tom, o cyberpunk estava para a ficção científica tradicional como o "hard-boiled" -- as histórias de detetives durões e cínicos investigando o crime nas sarjetas -- estava para o romance clássico de mistério, com seu detetive amador resolvendo casos em mansões vitorianas.
(É importante evitar deduzir juízos de valor desse tipo de justaposição, aliás: muita gente identifica o "hard-boiled" com os pontos altos das carreiras de Chandler e Hammett e o mistério clássico com os menos inspirados dentre os esforços de Agatha Christie e SS Van Dine, mas o fato é que há obras de grande valor e porcarias abissais dos dois lados dessa fronteira estilística.)
Sob esse aspecto, o steampunk e o dieselpunk buscam captar o pathos cyberpunk e lançá-lo em direção ao passado. Isso pode ser feito de várias formas -- por exemplo, imaginando uma radicalização das tecnologias disponíveis na época em que a narrativa se passa (como postular a existência de supercomputadores a vapor no século XIX) ou especulando sobre as transformações sociais e econômicas causadas por algum tipo de elaboração fantasiosa (há um conto, acho que de Neil Gaiman ou Kim Newman, onde a Inglaterra conquista Lilliput e escraviza seus diminutos moradores, criando toda uma tecnologia literalmente feita de "homenzinhos dentro da máquina").
O dieselpunk é especialmente atraente -- para mim, ao menos -- porque a época que o subgênero busca trabalhar, geralmente entendida como o período entre as décadas de 30 e 50, coincide com a Era de Ouro dos pulps e dos quadrinhos. Doc Savage e Batman, para ficar em apenas dois casos, eram dieselpunk "em tempo real", por assim dizer.
O que nos traz, enfim, à minha noveleta Fúria do Escorpião Azul. Sem entregar muita coisa, digo que ela é inspirada na obra de Norvell Page, principal autor dos romances pulp do Aranha, uma versão mais visceral e psicótica do Sombra. E que, de certa forma, dialoga com meu conto Questão de Sobrevivência, presente na antologia Assembleia Estelar, lançada há pouco mais de um mês.
A antologia Dieselpunk deve ser lançada no segundo semestre, e conta ainda com trabalhos de Octavio Aragão, Gerson Lodi-Ribeiro e do português Jorge Candeias, entre outros nomes de talento. Aguardo ansiosamente para ter o livro nas mãos.
Confesso que estava apreensivo: ano que vem faz 20 anos que uma obra de ficção minha foi aceita, pela primeira vez, para uma publicação profissional, e é de se imaginar que, de lá para cá, eu tivesse ficado um pouco mais blasé no tocante a aceitações e rejeições.
Mas A Fúria do Escorpião Azul, minha submissão para a DP, é um caso especial: talvez seja meu trabalho completo mais ambicioso -- sob certos aspectos, como na manipulação do tempo narrativo, mais até do que o romance Guerra Justa (publicado pela mesma editora e, <plim-plim> à venda no link do canto superior direito desta página</plim-plim>).
Imagino que os leitores que frequentam este blog pelo conteúdo polêmico/político/científico e que tiveram a gentileza de continuar lendo até aqui estejam um pouco intrigados com o título da antologia, "Dieselpunk". Que diabo é isso?
Bom, uma aposta seria imaginar que a palavra se forma da mesma derivação que "steampunk", que por sua vez deriva de "cyberpunk", que por sua vez se refere a um subgênero da ficção científica que floresceu nos anos 80 do século passado e que explorava os possíveis efeitos da penetração profunda da tecnologia da informação e da mídia eletrônica na sociedade e, principalmente, nos ambientes urbanos.
Em termos de tom, o cyberpunk estava para a ficção científica tradicional como o "hard-boiled" -- as histórias de detetives durões e cínicos investigando o crime nas sarjetas -- estava para o romance clássico de mistério, com seu detetive amador resolvendo casos em mansões vitorianas.
(É importante evitar deduzir juízos de valor desse tipo de justaposição, aliás: muita gente identifica o "hard-boiled" com os pontos altos das carreiras de Chandler e Hammett e o mistério clássico com os menos inspirados dentre os esforços de Agatha Christie e SS Van Dine, mas o fato é que há obras de grande valor e porcarias abissais dos dois lados dessa fronteira estilística.)
Sob esse aspecto, o steampunk e o dieselpunk buscam captar o pathos cyberpunk e lançá-lo em direção ao passado. Isso pode ser feito de várias formas -- por exemplo, imaginando uma radicalização das tecnologias disponíveis na época em que a narrativa se passa (como postular a existência de supercomputadores a vapor no século XIX) ou especulando sobre as transformações sociais e econômicas causadas por algum tipo de elaboração fantasiosa (há um conto, acho que de Neil Gaiman ou Kim Newman, onde a Inglaterra conquista Lilliput e escraviza seus diminutos moradores, criando toda uma tecnologia literalmente feita de "homenzinhos dentro da máquina").
O dieselpunk é especialmente atraente -- para mim, ao menos -- porque a época que o subgênero busca trabalhar, geralmente entendida como o período entre as décadas de 30 e 50, coincide com a Era de Ouro dos pulps e dos quadrinhos. Doc Savage e Batman, para ficar em apenas dois casos, eram dieselpunk "em tempo real", por assim dizer.
O que nos traz, enfim, à minha noveleta Fúria do Escorpião Azul. Sem entregar muita coisa, digo que ela é inspirada na obra de Norvell Page, principal autor dos romances pulp do Aranha, uma versão mais visceral e psicótica do Sombra. E que, de certa forma, dialoga com meu conto Questão de Sobrevivência, presente na antologia Assembleia Estelar, lançada há pouco mais de um mês.
A antologia Dieselpunk deve ser lançada no segundo semestre, e conta ainda com trabalhos de Octavio Aragão, Gerson Lodi-Ribeiro e do português Jorge Candeias, entre outros nomes de talento. Aguardo ansiosamente para ter o livro nas mãos.
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