E agora, para uma previsão científica do fim do mundo...

Todo mundo deve estar, suponho, cansado de ouvir a respeito da previsão de que o mundo acabará em 21 de maio, daqui a umas duas semanas (minha mulher até me trouxe um panfleto a respeito, que recebeu de alguém na Praça da Sé). Para variar um pouco, resolvi ressuscitar aqui uma previsão de Juízo Final publicada, nada mais e nada menos, na revista Science, lá se vão 50 anos: 13de novembro de 2026:


O PDF original pode ser encontrado aqui.

O trabalho, uma bela peça de raciocínio lógico empreendida pelo trio de autores, começa distinguindo entre dois tipos de população -- um, o mais natural, que é limitado pela natureza; nesse caso, o aumento da população acaba gerando escassez de recursos, aumento da competição por alimento e parceiros sexuais e, no fim, acaba sendo auto-limitante.

O segundo tipo é formado por indivíduos capazes de cooperar ou, nas palavras dos autores, de, em vez de lutar entre si pelo acesso à natureza, desenvolver estratégias comuns para lutar contra a natureza, extraindo cada vez mais recursos dela, e usando esses recursos de modos cada vez mais eficientes.

A raça humana, prossegue o argumento, tem, a despeito de todos seus defeitos, se comportado mais como o segundo tipo. Isso tem evitado o colapso malthusiano, mas aí os autores se perguntam: tá, até onde essa estratégia pode nos levar?

Depois de derivar algumas equações -- crucialmente, uma equação de crescimento populacional que reflete o caráter cooperativo da empreitada humana -- os autores determinam que, se a capacidade humana de extrair cada vez mais do ambiente puder ser extrapolada ao infinito, e a população continuar a crescer como vinha crescendo até 1958, então haverá um número infinito de pessoas sobre a terra em 2026.

É evidente que o raciocínio é apenas isso, um exercício de lógica, não uma previsão concreta (a projeção da população mundial para 2050 é de 9 bilhões, um número sem dúvida grande, mas não infinito), mas o ponto feito por Foerster e colegas é outro: eles mostram que, mesmo em condições absolutamente perfeitas, de onde a sombra da ameaça malthusiana -- fome, guerra, peste -- tenha sido varrida, o crescimento populacional da humanidade, nas taxas praticadas até meados do século passado, é insustentável.

A taxa de crescimento, no entanto, tem caído desde que o trabalho foi publicado na Science:


O valor mais duradouro da análise de Foerster é expor a falácia de uma certa linha argumentativa -- muito cara a certas ideologias políticas e também religiosas -- de que a população não é um problema, que o problema é a injustiça social, a falta de solidariedade, o consumismo desenfreado: a ideia de que se todos fôssemos, digamos, caridosos como (supostamente) eram os cristãos do século I, ou se os porcos capitalistas fossem todos ao paredón, ou se todos topássemos vestir roupas de algodão cru e só comer soja orgânica, então a partir daí haveria o suficiente para todos, não importa quantos fossem, e para os séculos dos séculos amém.

O fato, porém, é que sem pílula e camisinha, até o paraíso teria data para acabar.

Comentários

  1. Partir de pressupostos sustentáveis apenas em um exercício abstrato para, com seus resultados, tentar desqualificar ideologias políticas ou princípios religiosos não é o melhor exemplo de fidelidade à razão.

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  2. Desqualificar ideologias políticas e princípios religiosos sempre é válido. Na pior das hipóteses, têm-se algo sobre o que pensar, coisa que a política e a religião desestimulam.

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