Vampiros e lobisomens, de verdade
Mitologia é uma coisa engraçada. Mitologia acelerada pela indústria pop, então, nem se fala. O pensamento me ocorreu outro dia enquanto, zapeando a TV por assinatura, assisti aos primeiros minutos de Anjos da Noite, um filme sobre guerra entre vampiros e lobisomens. O que, se você é muito mais novo do que eu, provavelmente remete à saga Crepúsculo. Ou, se você é só um pouco mais novo que eu, remete ao World of Darkness do RPG Vampire e derivados.
(Aliás: meninos, eu vi. A primeira entrevista jornalística em inglês que fiz foi com Mark Hein-Hagen, o criador do Vampire, no Parque do Ibirapuera, imagino que lá se vão uns 20 anos. O texto existe em alguma edição histórica do fanzine Panacea: revire os sebos, se quiser -- não creio que esteja online).
Agora, se você tem a minha idade, vampiros versus lobisomens remete à capa do gibi que ilustra esta postagem; e se você é um maníaco comparável a mim, talvez se lembre dos estertores da saga de horror da Universal, nos anos 40, quando o estúdio começou a misturar todos os seus monstros, em filmes como House of Dracula (e, não, não vou mencionar Abbott e Costelo).
A velocidade com que o mito é reciclado é espantosa: enquanto a ficção científica pulp precisou esperar cerca de três décadas -- entre o fim dos seriados cinematográficos e a estreia de Guerra nas Estrelas -- vampiros e lobisomens são reembalados e regurgitados a cada biênio, mais ou menos.
É interessante, no entanto, investigar os supostos "fatos reais" por trás dos monstros que os adolescentes tanto adoram. E é isso que Joe Nickell faz em seu volume de ensaios Tracking the Man-beasts: Sasquatch, Vampires, Zombies, and More, lançado neste ano.
Nickell, autointitulado "o único investigador de mistérios sobrenaturais em tempo integral do mundo", tem uma longa carreira fazendo exatamente isso -- visitando locais de eventos misteriosos, entrevistando testemunhas, levantando documentos históricos para, depois, produzir ensaios e livros a respeito. Ex-detetive particular, ex-mágico de palco e perito em análise e autenticação de documentos, ele tem um currículo impressionante.
O livro sobre "man-beasts" tem uma ênfase -- negativa, para nós leitores do hemisfério sul -- na questão do Sasquatch, ou Pé-Grande, mas os capítulos sobre vampiros e lobisomens são bem interessantes. Os lobisomens, especialmente, aparecem associados à mania de perseguição a bruxas da Europa nos séculos XVI e XVII. Registros austríacos dão conta de pelo menos quatro "lobisomens" aprisionados em um castelo no século XVIII, todos mendigos que confessaram pactos com o diabo sob tortura.
No capítulo sobre vampiros, Nickell inclui uma curiosa seção sobre "kits de caça aos vampiros" -- valises contendo estacas, objetos de prata, etc. -- que seriam antiguidades legítimas do século XIX. Um deles chegou a ser leiloado pela Sotheby's em 2003.
No entanto, o investigador afirma ter encontrado provas de que o primeiro desses "kits vintage" foi produzido em 1972 por um antiquário que buscava um modo de desovar alguns itens que, embora genuinamente antigos, eram de baixa qualidade e de pequeno valor individual.
Como no caso dos filmes e livros de vampiros e lobisomens que (re)aparecem de tempos em tempos, nada como uma embalagem criativa para reacender o interesse na tralha antiga.
(Aliás: meninos, eu vi. A primeira entrevista jornalística em inglês que fiz foi com Mark Hein-Hagen, o criador do Vampire, no Parque do Ibirapuera, imagino que lá se vão uns 20 anos. O texto existe em alguma edição histórica do fanzine Panacea: revire os sebos, se quiser -- não creio que esteja online).
Agora, se você tem a minha idade, vampiros versus lobisomens remete à capa do gibi que ilustra esta postagem; e se você é um maníaco comparável a mim, talvez se lembre dos estertores da saga de horror da Universal, nos anos 40, quando o estúdio começou a misturar todos os seus monstros, em filmes como House of Dracula (e, não, não vou mencionar Abbott e Costelo).
A velocidade com que o mito é reciclado é espantosa: enquanto a ficção científica pulp precisou esperar cerca de três décadas -- entre o fim dos seriados cinematográficos e a estreia de Guerra nas Estrelas -- vampiros e lobisomens são reembalados e regurgitados a cada biênio, mais ou menos.
É interessante, no entanto, investigar os supostos "fatos reais" por trás dos monstros que os adolescentes tanto adoram. E é isso que Joe Nickell faz em seu volume de ensaios Tracking the Man-beasts: Sasquatch, Vampires, Zombies, and More, lançado neste ano.
Nickell, autointitulado "o único investigador de mistérios sobrenaturais em tempo integral do mundo", tem uma longa carreira fazendo exatamente isso -- visitando locais de eventos misteriosos, entrevistando testemunhas, levantando documentos históricos para, depois, produzir ensaios e livros a respeito. Ex-detetive particular, ex-mágico de palco e perito em análise e autenticação de documentos, ele tem um currículo impressionante.
O livro sobre "man-beasts" tem uma ênfase -- negativa, para nós leitores do hemisfério sul -- na questão do Sasquatch, ou Pé-Grande, mas os capítulos sobre vampiros e lobisomens são bem interessantes. Os lobisomens, especialmente, aparecem associados à mania de perseguição a bruxas da Europa nos séculos XVI e XVII. Registros austríacos dão conta de pelo menos quatro "lobisomens" aprisionados em um castelo no século XVIII, todos mendigos que confessaram pactos com o diabo sob tortura.
No capítulo sobre vampiros, Nickell inclui uma curiosa seção sobre "kits de caça aos vampiros" -- valises contendo estacas, objetos de prata, etc. -- que seriam antiguidades legítimas do século XIX. Um deles chegou a ser leiloado pela Sotheby's em 2003.
No entanto, o investigador afirma ter encontrado provas de que o primeiro desses "kits vintage" foi produzido em 1972 por um antiquário que buscava um modo de desovar alguns itens que, embora genuinamente antigos, eram de baixa qualidade e de pequeno valor individual.
Como no caso dos filmes e livros de vampiros e lobisomens que (re)aparecem de tempos em tempos, nada como uma embalagem criativa para reacender o interesse na tralha antiga.
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