Zona habitável... da galáxia?
Acho que todo mundo já está meio careca de ouvir falar no conceito de "zona habitável" de um sistema solar: a região, em torno da estrela central, onde a temperatura na superfície de um planeta permite a existência de água (ou algum outro solvente viável) em estado líquido.
Menos conhecidas, porém, são as críticas à ideia de zona habitável, que chamam a atenção para a estreiteza do conceito baseado exclusivamente na distância estrela-planeta, já que uma série de outros fatores (densidade atmosférica, por exemplo) podem afetar a capacidade de um planeta conter líquidos viáveis para a vida.
Outra tipo de crítica, de caráter mais filosófico, lembra que "vida" pode ser um fenômeno muito mais sutil e/ou complexo do que imaginamos, existindo em formas e condições que, hoje, nos parecem impossíveis.
(Para ser justo, é preciso dizer que a maioria dos cientistas que trabalham buscando vida extraterrestre está perfeitamente consciente das limitações do conceito: o que dizem é que a busca tem de começar em algum lugar, e o melhor lugar para começar é onde as as coisas são parecidas com o que já conhecemos.)
Críticas à parte, no entanto, a ideia de uma "zona habitável" delimitada não se aplica apenas a sistema solares, mas também a galáxias.
A noção é a de que, no interior de uma galáxia, deve existir uma faixa -- normalmente imaginada como um anel cilíndrico, ou toroide -- onde o ambiente espacial é rico o suficiente em materiais "pesados" necessários para a vida como a conhecemos (ferro, carbono, oxigênio, etc.) e, ao mesmo tempo, distante o suficiente do núcleo galáctico para evitar incômodos como supernovas e a radiação do buraco negro central.
Supernovas são o fator-chave: sem elas, o ambiente espacial não é enriquecido o suficiente com o equivalente cósmico de vitaminas e sais minerais para que planetas capazes de gerar vida venham a se formar; mas um excesso delas gera energia suficiente para esterilizar mundos inteiros. A ignição de uma supernova na nossa vizinhança poderia destruir a camada de ozônio da Terra, desencadeando uma reação que acabaria tornando o planeta inabitável.
(Caso você esteja se perguntando, um artigo científico publicado em 2003 indica que o risco de um evento do tipo é de aproximadamente 1 a cada bilhão de anos.)
Trabalho recente sobre o conceito de zona habitável galáctica, aceito para publicação no periódico Astrobiology, conclui que o efeito fertilizante das supernovas supera, em muito, seu potencial destruidor, e argumenta que cerca de 1,2% de todas as estrelas da Via-Láctea, incluindo algumas relativamente próximas do núcleo, são ou foram capazes de suportar vida em seus sistemas. Isso dá algo como 2,5 bilhões de astros, se estimarmos a população da galáxia em 200 bilhões de estrelas (algumas estimativas chegam a 400 bilhões).
A conclusão de que é plausível que a galáxia comporte bilhões de planetas habitáveis já havia sido enunciada por um grupo de pesquisadores especializados em planetas extrassolares, ainda que a descoberta que levou a essa alegação específica tenha sido questionada depois.
Menos conhecidas, porém, são as críticas à ideia de zona habitável, que chamam a atenção para a estreiteza do conceito baseado exclusivamente na distância estrela-planeta, já que uma série de outros fatores (densidade atmosférica, por exemplo) podem afetar a capacidade de um planeta conter líquidos viáveis para a vida.
Outra tipo de crítica, de caráter mais filosófico, lembra que "vida" pode ser um fenômeno muito mais sutil e/ou complexo do que imaginamos, existindo em formas e condições que, hoje, nos parecem impossíveis.
(Para ser justo, é preciso dizer que a maioria dos cientistas que trabalham buscando vida extraterrestre está perfeitamente consciente das limitações do conceito: o que dizem é que a busca tem de começar em algum lugar, e o melhor lugar para começar é onde as as coisas são parecidas com o que já conhecemos.)
Críticas à parte, no entanto, a ideia de uma "zona habitável" delimitada não se aplica apenas a sistema solares, mas também a galáxias.
A noção é a de que, no interior de uma galáxia, deve existir uma faixa -- normalmente imaginada como um anel cilíndrico, ou toroide -- onde o ambiente espacial é rico o suficiente em materiais "pesados" necessários para a vida como a conhecemos (ferro, carbono, oxigênio, etc.) e, ao mesmo tempo, distante o suficiente do núcleo galáctico para evitar incômodos como supernovas e a radiação do buraco negro central.
Supernovas são o fator-chave: sem elas, o ambiente espacial não é enriquecido o suficiente com o equivalente cósmico de vitaminas e sais minerais para que planetas capazes de gerar vida venham a se formar; mas um excesso delas gera energia suficiente para esterilizar mundos inteiros. A ignição de uma supernova na nossa vizinhança poderia destruir a camada de ozônio da Terra, desencadeando uma reação que acabaria tornando o planeta inabitável.
(Caso você esteja se perguntando, um artigo científico publicado em 2003 indica que o risco de um evento do tipo é de aproximadamente 1 a cada bilhão de anos.)
Trabalho recente sobre o conceito de zona habitável galáctica, aceito para publicação no periódico Astrobiology, conclui que o efeito fertilizante das supernovas supera, em muito, seu potencial destruidor, e argumenta que cerca de 1,2% de todas as estrelas da Via-Láctea, incluindo algumas relativamente próximas do núcleo, são ou foram capazes de suportar vida em seus sistemas. Isso dá algo como 2,5 bilhões de astros, se estimarmos a população da galáxia em 200 bilhões de estrelas (algumas estimativas chegam a 400 bilhões).
A conclusão de que é plausível que a galáxia comporte bilhões de planetas habitáveis já havia sido enunciada por um grupo de pesquisadores especializados em planetas extrassolares, ainda que a descoberta que levou a essa alegação específica tenha sido questionada depois.
Como isso pode explicar o paradoxo de Fermi?
ResponderExcluirOi Andy! Então... não pode. O paradoxo continua a assombrar.
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