O(s) problema(s) do mal

Para dar continuidade à série (informal e indefinida) sobre os argumentos clássicos do debate entre teísmo e ateísmo, depois de tratar da favelização do inefável, nada melhor que trazer à baila o Problema do Mal.

A palavra "problema" pressupõe que a existência de mal e de sofrimento no mundo é, de certa forma, embaraçosa para quem defende uma concepção mais ou menos clássica de Deus.

Nessa concepção clássica, a suposta entidade divina é entendida como um agente (isto é, um ser dotado de propósitos, intenções e que atua no mundo de forma coerente com esses propósitos e intenções) onipotente, criador e sustentáculo do Universo, infinitamente bom ("onibenevolente"), que ama e se interessa profundamente por suas criaturas.

A formulação mais comum do problema é o chamado Paradoxo de Epicuro: Ou Deus quer acabar com o mal e não pode, e portanto não é onipotente; ou pode e não quer, e portanto não é bom.

A resposta-padrão a esse desafio é o que gosto de chamar de Saída à Romana (porque aparece, elaborada de forma poética, na Carta de Paulo aos Romanos) ou, de modo mais comezinho, de estratégia do "sabe-com-quem-está-falando": reduz-se, basicamente, à admoestação de que a pretensão de emitir juízos morais sobre Deus é de uma arrogância insuportável, um sinal de falta de sofisticação filosófica, uma grosseria. "Homenzinho insignificante! Dobre o joelho e cale a boca. Como ousa...?!"

Essa resposta, no entanto, deixa em aberto o enigma de como o teísta pode afirmar que Deus é bom sem também se mostrar arrogante e grosseiro, já que proclamar a bondade de um agente é, também, o resultado de um julgamento. Ou, ao menos, deveria ser. Do contrário, trata-se apenas de um encômio vazio, o equivalente de se chamar todo e qualquer deputado de "excelência" ou tratar todo reitor de "magnífico". A Saída à Romana aproxima-se bastante, portanto, da falácia da favelização do inefável.

Outra saída às vezes utilizada é argumentar que, como Deus é o padrão final do bem e do mal, ele é bom por definição. Mas isso não só esvazia os conceitos de "bom" e "mau" de todo conteúdo, reduzindo-os à mera arbitrariedade de um poder despótico -- na frase em inglês, might makes right, "a força faz o direito" -- como também nos leva a outro paradoxo clássico, o de Eutifro.

Então, supondo que o "problema do mal" é mesmo um problema para a posição teísta, como o ateu o articula? Existem, historicamente, dois argumentos a respeito: o argumento lógico do mal e o argumento da evidência do mal.

O argumento lógico busca ser uma prova: uma demonstração de que Deus, entendido como um ser bondoso e onipotente, é um conceito tão incoerente quanto um quadrado redondo ou um bípede de quatro patas. Já o argumento da evidência do mal apenas chama atenção para o fato de que a existência de dor e sofrimento no mundo torna altamente improvável a existência de um Deus que seja, ao mesmo tempo, bondoso e onipotente.

Há várias formas de articular o argumento lógico, mas acho que dá para expressar suas premissas e conclusões de forma bem clara assim:

(1) Um ser infinitamente bom desejaria evitar que todos os demais seres sofressem;
(2) Um ser infinitamente poderoso poderia obter tudo o que deseja;
(3) Logo, não deveria haver sofrimento num mundo criado e regido por um ser  infinitamente bom e infinitamente poderoso;
(4) Mas existem seres sofrendo no mundo;
(5) Portanto, o mundo não foi criado, e nem é regido, por um ser infinitamente bom e infinitamente poderoso.

O argumento é válido, mas nenhuma cadeia dedutiva, mesmo válida, é mais forte do que suas premissas mais fracas. Talvez a mais problemática da sequência acima seja (2), já que normalmente se aceita que a onipotência divina tem, na verdade, alguns  limites práticos, como os ditados pelas necessidades lógicas (Deus não pode criar um número ímpar divisível por dois, digamos).

A linha de defesa teísta, aqui, costuma ser a de argumentar que alguns males são logicamente necessários para a produção de bens -- por exemplo, sem pobreza, não haveria espaço para caridade; sem pecado, não poderia haver perdão; sem a possibilidade de roubo, homicídio ou adultério, não haveria liberdade moral; e assim por diante.

Alguém poderia questionar a sanidade de um Deus que deixa crianças passarem fome para que alguns milionários possam exercitar suas virtudes caridosas, ou por que a liberdade dos nazistas em praticar seu sadismo foi mais valiosa, aos olhos divinos, do que a vida de 6 milhões de judeus. Mas a plausibilidade aparente do conceito de mal necessário enfraquece a segunda premissa do argumento lógico o suficiente para que ele não funcione como uma prova cabal, geométrica, da inexistência de Deus. Ele é, no entanto, sugestivo o bastante para nos permitir lançar, em seguida, o argumento da evidência do mal.

Esse argumento nasce da questão de se todo os males que observamos no mundo realmente são absorvidos, ou neutralizados, por bens e virtudes que surgem a partir deles. Aqui, o teísta pode se sentir tentado a levantar, mais uma vez, a acusação de arrogância e maus-modos: "Para julgar se o  bem que existe no mundo compensa o mal", vai o argumento, "você precisaria ter uma sabedoria infinita, e enxergar a eternidade pelos olhos de Deus, o que é impossível!"


Certo. É, talvez. Mas o que a admoestação teísta faz é apenas chutar a bola no mato: se a falta de uma sabedoria infinita proíbe o ateu de especular que o balanço entre bem e mal no mundo é neutro ou negativo, ela também impede o teísta de argumentar o contrário. Dizer que Deus é bom, portanto, torna-se também, e pelo mesmo critério invocado pelo teísta, impossível (o filósofo britânico Stephen Law ilustra este ponto com graça e elegância em sua fábula sobre O Deus do Planeta Eth).

Eis, portanto, que o dragão do inefável e incognoscível ergue, novamente, sua cabeça hedionda. Se quisermos tirar alguma conclusão, ainda que tentativa, é necessário olhar para o mundo com nossos olhos limitados e sopesar a evidência. E o que a evidência mostra?

Há várias manobras engenhosas que tentam justificar o mal que os seres humanos infligem uns aos outros (como os apelos livre arbítrio) ou que sofrem por causa da natureza, como em tsunamis, pragas ou terremotos (males assim "fortalecem o caráter" dos que sofrem e dos que se propõem a ajudá-los).

(Estou desprezando propositalmente o argumento da "justiça na outra vida/na eternidade" porque ele apenas  tornaria a discussão circular, estabelecendo que é preciso acreditar em outra vida para aceitar que Deus é bom; o que é vicioso, já que é necessário acreditar em Deus para aceitar que há outra vida, para começo de conversa!)





Essas manobras são engenhosas, como escrevi, mas no fundo me parecem injustificadas e, também, cruéis. Muito do mal que as pessoas provocam umas às outras nasce, por exemplo, de fraqueza e ignorância, e não é fácil entender como sermos fracos e ignorantes a ponto de cometer certas atrocidades nos torna "mais livres".

Já a questão da formação de caráter, embora possa ser defendida em alguns casos, quando generalizada também assume ares de piada de mau gosto. Dizer que a morte de centenas ou de milhares de pessoas num desastre representa um preço justo para que um ou dois atos de desprendimento e heroísmo possam acontecer é perverso.

Mas o que talvez seja mais difícil de justificar é o sofrimento no mundo natural. Ou, como anotou Charles Darwin, "que livro um capelão do Diabo poderia escrever sobre as obras desajeitadas, dispendiosas, idiotas e horrivelmente cruéis da natureza!"

Supondo que o Universo tenha sido criado com o objetivo fundamental de produzir a vida humana, é difícil enxergar a necessidade lógica, não só de 13,5 bilhões de anos de evolução do espaço-tempo mas, mais ainda, dos mais de 3 bilhões de anos em que a vida na Terra existiu sem nós, e principalmente dos 600 milhões de anos de existência de vida animal, "rubra em garra e presa",  na expressão poética de Lorde Tennyson.

Se o sofrimento humano existe por um sentido de fortalecimento moral (e, suponhamos, por caridade, que o balé fatal de leões e búfalos, tal como na imagem acima, seja uma fonte de alegorias e deleite estético para a edificação humana) por que, durante meio milhão de anos, antes que o primeiro ser humano pisasse a Terra para ser fortalecido, deleitado ou edificado, animais desprovidos de um caráter a ser construído passaram fome e frio, medo e tristeza, contraíram doenças parasitárias terríveis, foram sufocados, afogados,quebrados, estripados, mortos, devorados, soterrados?

Uma saída seria argumentar que, por algum motivo obscuro, a dor dos animais não importa. Talvez porque Deus realmente não ligue para eles (o que põe em questão o motivo de tê-los criado, e também como alguém capaz de criar seres para os quais não liga poderia ser "bom"). Ou talvez porque eles sejam como autômatos ou zumbis, incapazes de sofrer "de verdade".

Mas mesmo reconhecendo que a consciência humana dá uma dimensão extra às dores de nossa espécie, descartar a dor dos animais como irrelevante para uma (suposta) ordem moral do Universo bate de frente não só com a experiência comum -- afinal, sacrificamos bichos doentes para que parem de sofrer, e temos leis proibindo crueldade contra os animais, certo? --, como também contradiz o que sabemos sobre o papel das emoções e dos sentimentos, como dor e prazer, na evolução da própria consciência humana. E mesmo que o sofrimento de um único animal seja irrelevante se comparado ao de um ser humano, o que dizer de bilhões, trilhões ou quatrilhões de vidas "inferiores" esmagadas?

Enfim, o argumento da evidência do mal não prova que não existe um Deus. Mas torna muito, muito difícil justificar racionalmente a decisão de chamá-lo de "bom".

Comentários

  1. A "evidencia do mal" parte do pressuposto que "mal" é uma definição objetiva e concreta do conhecimento do seu interlocutor. Infelizmente eu aparentemente não me enquadro neste papel ideal e não consegui acompanhar sua "evidencia" porque primeiramente não disponho de uma DEFINIÇÃO do "mal".

    Poderia me ajudar? Sob minha interpretação corrida vc atribui mal àquilo que causa dor é isso? dor=mal portanto prazer=bem? Estou enganado? Sofrimento é o termo que utilizou.

    Não acredito que o sofrimento ensine nenhuma qualidade elevada ou nobre, às quais defino aqui como as qualidades altruístas, desprendidas ou caridosas.

    Ao que me parece, o sofrimento passa lições de ordem simplória do tipo: algo causa sofrimento, portanto evita-se este "algo" para evitar o sofrimento, que nada mais é do q a percepção dos danos. Mas o sofrimento é caracterizado por ser a reação à algo. Deve este algo ser o mal então à que se refere.

    GERALMENTE coisas que levam ao sofrimento são coisas que levam à aniquilação, à não permanência - queimaduras causam sofrimento! E também causam a morte! Portanto neste exemplo o fogo é o mal? Ou a morte é o mal? A evidência do mal é, portanto a evidencia da aniquilação generalizada e difundida?

    Mas não seria o sofrimento o alerta e a comunicação de que algo é MAL? Pois é! Sempre culpam os mensageiros! Olhando o todo, percebe-se que o sofrimento em si, não é mal! O sofrimento é o aviso do mal! Estou errado? A fome gera sofrimento! Mas o problema não é o sofrimento causado - é a falta de comida! Que é em si o Mal! pq é mal? Pq leva a morte! O sofrimento então é BOM! e a morte é ruim! Certo? Porque a morte é ruim? Por que gera sofrimento? Hahahaha!

    Então se a morte é a medida de "maldade" quanto menos seres-vivos mais cruel é o nosso mundo! Risadas novamente: nosso mundo então é pura bondade crescente por esse meu pensamento ridículo! Devo ser realmente muito tolo em não conseguir enxergar essa "maldade" da qual existe ATÉ evidencias...
    Por favor, peço humildemente que me auxilie!

    Grato

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  2. Pode-se argumentar (considerando os limites práticos da onipotência que você apontou) que este é o melhor cenário possível e que qualquer outra escolha implicaria em mais sofrimento (a limitação prática seria o balanço entre o sofrimento do grupo vs o sofrimento do indivíduo).

    Suponhamos que para deus a justiça tenha prioridade sobre o bem e que uma das propriedades da justiça seja a propriedade da completude. Poderia deus criar um mundo sem o mal? De acordo com as suposições acima (conjunto justiça contém propriedade completude) não pois estaria criando um cenário incompleto.

    Claro que se eu fosse deus faria tudo diferente: criaria um mundo onde as pessoas tem total liberdade de escolha (livre arbítrio) mas todas as escolhas possíveis conduziriam ao bem, um mundo sem o mal portanto. Talvez injusto por limitar a capacidade do homem de praticar o mal é claro (pelo menos teríamos pessoas decentes no congresso nacional).

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  3. Oi, Felipe! Fico feliz (mas um pouco preocupado) que você não consiga ver mal no mundo. Suponho que se um dia você passar por um lago e houver uma criança se afogando, você não fará nada a respeito, porque não haverá nada de "mal" acontecendo, afinal...

    Manobras retóricas à parte, uma boa definição operacional de "mal" é "aquilo que causa sofrimento" -- como a fome ou a queimadura, nos seus exemplos.

    Já a relação que você faz entre sofrimento e aniquilação não me parece muito relevante à questão. Encher a cara de batata frota e sorvete traz a aniquilação para perto, mas muita gente não consideraria o feito desagradável.

    Tendo definido mal como "aquilo que causa sofrimento", podemos analisar se esse mal é "absorvido" por um bem maior (por exemplo, a fome funcionando como alerta de que é hora de comer, havendo comida à mão) ou não (a pessoa definha sem encontrar alimento).

    Vida e morte, a despeito de seu raciocínio, não me parecem "bons" ou "maus" em si. Poderíamos argumentar que a morte é um "mal" absorvido (controla população, permite que a cultura se renove, etc.) mas que a morte lenta e dolorosa, ou a morte violenta, são, sim, males, e males não absorvidos.

    Ao contrário do que você supõe, um mundo supervpovoado em com parcos recursos seria um mundo bem hediondo, afinal.

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  4. Oi, Reverton! Mas aí caímos, de novo, na questão do inefável: que razões teríamos para supor que um mundo "melhor" acabaria sendo "pior", além da vontade de salvar a crença num Deus bom?

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  5. A relação entre sofrimento e aniquilação é EXTREMAMENTE relevante! E é justamente o meu ponto de conflito com o seu texto! Perdoe meu estilo retórico extremamente confuso entremeado de ironia e sarcasmo.

    A batata frita e o sorvete trazem a aniquilação para perto sem o sofrimento como alerta devido a um "delay" na nossa adaptação evolutiva, sorvete e gordura eram extremamente valorizados num mundo recente menos abundante de alimentos do que o nosso. No nosso contexto atual o sofrimento ainda não foi devidamente calibrado para o que nos faz "mal". E aqui já falo pressupondo q vc está de acordo comigo quando digo que certas coisas fazem "mal", embora ainda não temos um consenso sobre o q é esse mal. Uma vez que na sua reposta lhe parece pior mal a morte lenta que vem aos poucos do que a morte rápida e fulminante. Medida essa que para mim é estranha, pois parece-me variar de pessoa para pessoa... e é nesse ponto que quero chegar!

    Segundo sua medida, a fome é um mal maior do que uma arma de fogo, uma vez q a primeira causa mais tempo de sofrimento na vitima do que a segunda. Entretanto, eu, se me dada a opção escolheria ser privado de comida do que levar um tiro na cabeça. Embora a primeira opção seja consensualmente mais cruel, e gere mais sofrimento por mais tempo, eu a escolheria mesmo assim por ser mais reversível e por adiar o que considero o ponto culminante e definidor do sofrimento: a morte.

    Muitas coisas causam sofrimento instantâneo mas são ao final boas... uma injeção ou vacina causa dor, e reações adversas... mas são intrinsecamente boas! Pois visam prolongar a vida!

    No exemplo do lago que a afoga a criança: o lago então é mal? Na verdade o afogamento é RUIM para a criança, irrelevante para o lago, bom para eventuais seres vivos que se alimentem do cadáver da criança.

    O sofrimento é apenas a pulsão por vida! não é bom ou mal! é um reflexo, uma resposta dos sentidos, e algumas vezes da razão. É falta de endorfina no cérebro... pela sua definição de Mal=Sofrimento, Morfina=Bem... portanto se vc espera um Deus bom nesses parâmetros, eu lhe apresento os analgésicos e anti-depressivos! (brincadeira viu! não me leve a sério, ouviu Deus!rs )

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  6. Olá, Felipe!

    Primeiro, eu queria chamar a atenção para o fato de que, ao relativizar a questão do mal, você meio que se insere na estratégia da "bola no mato" que menciono na postagem -- os mesmos argumentos que você usa para pôr o mal em perspectiva relativa também podem ser usados para pôr o "bem", e aí a conclusão é a de que o Universo é eticamente neutro e Deus ou não existe, ou não é "bom" no sentido em que "ser bom" se aplica a outros tipos de agente.

    E aí entraríamos na questão da honestidade intelectual de usar um adjetivo familiar ("bom") num contexto radicalmente diferente do de sua aplicação usual, e caímos no que chamo de "falácia da favelização do inefável".

    Mas voltando às definições: eu poderia dizer quer os "males" a que o argumento evidencial se refere (que podem nem ser a totalidade dos males existentes) são "coisas que a intuição ética e a razão humana sugerem que deveriam ser evitadas sempre que possível ou, se inevitáveis, remediadas o quanto antes".

    Há um amplo espectro cultural aí, eu sei, mas também há um resíduo universal: nenhuma sociedade humana aceita, por exemplo, o assassinato e a tortura indiscriminados, todos os povos buscam tratar de seus doentes, todas as sociedades cuidam de suas crianças, etc.

    Numa definição mais operacional, mal é o que causa sofrimento. MAS o mal pode ser "absorvido" ou "gratuito".

    A picada da seringa no braço da criança, no seu exemplo, a dor é um mal "absorvido", pela vantagem da imunização. A questão que o argumento evidencial coloca é: há dores "não absorvidas" no mundo? E se há, como podemos afirmar a existência de um ser onipotente, bom a amoroso sem redefinir "amor" e "bondade" de um modo tão radical que o significado dessas palavras se torne irreconhecível?

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  7. Aliás, o problema não é o mal... o problema são as definições e as palavras: http://blog.ricbit.com/2009/11/lei-de-ricbit.html

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