Atenção, Kassab: o malufo-socialismo foi inventado em Jundiaí

A súbita conversão do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, ao ideário político de centro-esquerda não me causou espanto -- como parece ter sido o caso de muita gente -- mas déjà-vu. Meu pensamentos retornaram a março (acho que era março) de 1996, quando eu trabalhava no Jornal de Jundiaí e chegou a notícia de que um certo vereador estava entrando para o PSB.

Agora, esse vereador era uma verdadeira fortaleza do malufismo local. Era sempre um dos primeiros a receber Paulo Maluf em suas visitas à cidade, e fazia questão de ver seu nome associado ao do amado líder. Sua conversão ao PSB devia-se à radicalização da postura oposicionista do partido de Maluf na época (era o PPR?), que havia se integrado a um bloco de resistência à administração municipal tucana, o que provavelmente havia excluído seus filiados (e suas respectivas bases eleitorais) das benesses do poder.

(Esse bloco não durou muito, aliás: logo alguns vereadores o abandonaram, em nome de uma "postura independente", porque não queriam mais ser "sempre do contra".)

Como o PSB estava coligado ao PSDB na administração da cidade, para lá foi o nosso heroi.

Eu era editor de política, na época, e então lá fui ligar para o vereador e me informar sobre sua mudança de cores partidárias. O diálogo (que reconstituo de memória) foi mais ou menos assim:

"Vereador, ouvi dizer que o senhor está indo para o PSB".

"É verdade. Eu sempre fui um socialista".

(Pausa)

"Mas o senhor sempre esteve ligado a Maluf..."

"É verdade. Eu sempre fui, e continuo a ser, um malufista".

"Mas..."

"Eu sou um malufista socialista".

"Malufista... socialista?"

"É! Qual o problema?"

É, então. Qual o problema? Depois das cortesias de praxe, desliguei o telefone. Juro que tinha gente rindo ao meu redor.

Isso foi em 1996, quando eu ainda era jovem o bastante para me constranger com certas coisas, e alianças do tipo lulo-sarneysismo, lulo-collorismo, comunismo-ruralismo, entre outras, ainda não haviam desmoralizado de vez a questão dos princípios na política. Mas, vendo pelo retrovisor, talvez já fosse um prenúncio.

Comentários

  1. Bem, a esquerda não vive falando mal do liberalismo ? E não há um Partido Liberal que é aliado do governo ?

    (Eles gostam de se queixar do neoliberalismo, mas nunca explicam a diferença para o antigo)

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