Brasil, uma sociedade 'solta'... mas nem tanto
Semana passada, a revista Science publicou um artigo em que pesquisadores comparam 33 países em termos de "soltura" ou "aperto" de suas sociedades. Em resumo, uma sociedade é "solta" quando seus cidadãos têm alta tolerância a violações das regras de convivência social, regras essas que tendem a ser meio vagas e mal definidas; já uma sociedade "apertada" tem regras claras e bem definidas, e baixa tolerância para com violações.
O Brasil, como qualquer brasileiro certamente esperaria, ficou entre as sociedades mais "soltas" -- 3.5 pontos na escala de "aperto"; em termos de comparação, o Japão marcou 8.6, o Paquistão, 12.3 e a Alemanha, na média entre a antiga Alemanha Oriental e a Antiga Alemanha Ocidental, 7.0.
Países mais "soltos" que o Brasil incluem Hungria (2.9), Ucrânia (1.6) e Holanda (3.3). Seria interessante buscar alguma correlação entre o índice de "aperto" e a percepção de corrupção nacional mas, se existir, ela não é imediatamente evidente: o Paquistão, que é o país mais "apertado", tem uma taxa de corrupção maior que a brasileira, de acordo com a transparência internacional.
Uma coisa em que os autores do trabalho publicado na Science insistem é que não há juízo de valor embutido nessa distinção entre "soltos" e "apertados"; de fato, a tese por trás do estudo é de que cada sociedade tende a encontrar o nível de "aperto" necessário para si, dadas as circunstâncias históricas e ambientais que moldaram seus povos.
Um paralelo traçado pelos autores é entre sociedades tradicionais agrícolas, onde as crianças costumam ser tratadas com disciplina e dentro de uma ética rígida de trabalho, e sociedades de caçadores e coletores, onde as crianças têm uma educação muito mais solta e flexível. A razão estaria no fato de que a agricultura requer trabalho duro e disciplinado, enquanto que a caça depende mais de um outro conjunto de perícias.
Traduzindo isso para o mundo dos Estados-nação, faria sentido o Japão ter uma sociedade "apertada", já que é preciso uma disciplina rígida para viver com os recursos naturais limitados do arquipélago e, claro, enfrentar desastres naturais como terremotos e tsunamis. Já o Brasil...
Existem, porém, outras pressões em jogo: a relação entre tradição cultural, nível de ameaça e grau de "aperto" não é exatamente linear. Israel, no meio do deserto e cercado por inimigos, é uma sociedade supreendentemente "solta", dadas as circunstâncias (índice de "aperto" inferior ao brasileiro: 3.1).
Abaixo, a tabela do nível de "aperto" dos países estudados (clique para ampliar):
O Brasil, como qualquer brasileiro certamente esperaria, ficou entre as sociedades mais "soltas" -- 3.5 pontos na escala de "aperto"; em termos de comparação, o Japão marcou 8.6, o Paquistão, 12.3 e a Alemanha, na média entre a antiga Alemanha Oriental e a Antiga Alemanha Ocidental, 7.0.
Países mais "soltos" que o Brasil incluem Hungria (2.9), Ucrânia (1.6) e Holanda (3.3). Seria interessante buscar alguma correlação entre o índice de "aperto" e a percepção de corrupção nacional mas, se existir, ela não é imediatamente evidente: o Paquistão, que é o país mais "apertado", tem uma taxa de corrupção maior que a brasileira, de acordo com a transparência internacional.
Uma coisa em que os autores do trabalho publicado na Science insistem é que não há juízo de valor embutido nessa distinção entre "soltos" e "apertados"; de fato, a tese por trás do estudo é de que cada sociedade tende a encontrar o nível de "aperto" necessário para si, dadas as circunstâncias históricas e ambientais que moldaram seus povos.
Um paralelo traçado pelos autores é entre sociedades tradicionais agrícolas, onde as crianças costumam ser tratadas com disciplina e dentro de uma ética rígida de trabalho, e sociedades de caçadores e coletores, onde as crianças têm uma educação muito mais solta e flexível. A razão estaria no fato de que a agricultura requer trabalho duro e disciplinado, enquanto que a caça depende mais de um outro conjunto de perícias.
Traduzindo isso para o mundo dos Estados-nação, faria sentido o Japão ter uma sociedade "apertada", já que é preciso uma disciplina rígida para viver com os recursos naturais limitados do arquipélago e, claro, enfrentar desastres naturais como terremotos e tsunamis. Já o Brasil...
Existem, porém, outras pressões em jogo: a relação entre tradição cultural, nível de ameaça e grau de "aperto" não é exatamente linear. Israel, no meio do deserto e cercado por inimigos, é uma sociedade supreendentemente "solta", dadas as circunstâncias (índice de "aperto" inferior ao brasileiro: 3.1).
Abaixo, a tabela do nível de "aperto" dos países estudados (clique para ampliar):
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