Deu no New York Times: morre o pai da criônica
"Criônica" é o termo usado para fazer referência à técnica de congelar um cadáver para tentar ressuscitá-lo no futuro. O principal divulgador da ideia, Robert Ettinger, morreu nesta semana e foi congelado. Há um belo obituário no New York Times.
Um dado interessante é o de que Ettinger era escritor e fã de ficção científica. A obra de sua vida, a "evangelização" em nome da criônica, veio da leitura da revista de ficção científica Amazing Stories. Some-se isso ao fato de que pelo menos dois ou três dos ganhadores recentes do Nobel de Economia declararam-se inspirados a ingressar nas ciências sociais pela leitura de Fundação, de Asimov, e teremos uma pequena ideia do impacto da ficção científica no mundo real.
Ao longo de minha carreira, escrevi vários artigos sobre criônica. A maioria deles apontava para o dilema envolvido na preservação de um corpo congelado -- por um lado, a solidificação da água nos tecidos causa danos às células; esse dano pode ser evitado por anticongelantes, mas essas substâncias são tóxicas. O congelamento, portanto, destrói o corpo de uma de duas maneiras: pelo processo em si ou por envenenamento.
A ideia, é claro, é a de que a ciência do futuro será capaz de reverter todos esses efeitos deletérios. Lembro-me de que, enquanto pesquisava um de meus primeiros artigos sobre o tema, cheguei à referência de que um cientista japonês teria conseguido ressuscitar a cabeça congelada de um gato em 1966.
A ideia da cabeça amputada miando, ligada a eletrodos, enquanto um Dr. Frankenstein de olhos puxados gargalhava loucamente, me assombrou por algum tempo, mas finalmente consegui pôr as mãos no artigo completo, aqui. A verdade, enfim, é bem menos aterrorizante: o que a equipe japonesa fez foi detectar atividade elétrica num cérebro felino, pós-congelamento -- ainda que a descrição do experimento, incluindo a imersão do cérebro numa solução de sangue, lembre muito o romance de terror Donovan's Brain.
Eu imagino se os cadáveres congelados sob os auspícios de Ettinger -- mais de 100 -- não serão úteis para os cientistas do futuro, da mesma forma que os mamutes congelados de hoje são úteis para os nossos cientistas. Talvez nenhum deles venha a ser ressuscitado, mas não é de todo improvável que alguns acabem clonados.
A questão mais profunda, se o esforço todo vale a pena, dados os riscos e as enormes incertezas, possivelmente só tem resposta na consciência de cada um.
Pessoalmente, não sou um dos que acham que a é a morte que "dá sentido" à vida -- a morte é apenas algo com que temos de lidar por força das circunstâncias, como a imortalidade, talvez, venha a ser um dia -- então não faço restrições filosóficas ao processo. Mas, se eu tiver de voltar à vida por meio de alguma tecnologia arbitrariamente avançada do futuro, prefiro ser reconstruído a partir de meus escritos. Que são o que tenho de mais interessante a oferecer, afinal.
Um dado interessante é o de que Ettinger era escritor e fã de ficção científica. A obra de sua vida, a "evangelização" em nome da criônica, veio da leitura da revista de ficção científica Amazing Stories. Some-se isso ao fato de que pelo menos dois ou três dos ganhadores recentes do Nobel de Economia declararam-se inspirados a ingressar nas ciências sociais pela leitura de Fundação, de Asimov, e teremos uma pequena ideia do impacto da ficção científica no mundo real.
Ao longo de minha carreira, escrevi vários artigos sobre criônica. A maioria deles apontava para o dilema envolvido na preservação de um corpo congelado -- por um lado, a solidificação da água nos tecidos causa danos às células; esse dano pode ser evitado por anticongelantes, mas essas substâncias são tóxicas. O congelamento, portanto, destrói o corpo de uma de duas maneiras: pelo processo em si ou por envenenamento.
A ideia, é claro, é a de que a ciência do futuro será capaz de reverter todos esses efeitos deletérios. Lembro-me de que, enquanto pesquisava um de meus primeiros artigos sobre o tema, cheguei à referência de que um cientista japonês teria conseguido ressuscitar a cabeça congelada de um gato em 1966.
A ideia da cabeça amputada miando, ligada a eletrodos, enquanto um Dr. Frankenstein de olhos puxados gargalhava loucamente, me assombrou por algum tempo, mas finalmente consegui pôr as mãos no artigo completo, aqui. A verdade, enfim, é bem menos aterrorizante: o que a equipe japonesa fez foi detectar atividade elétrica num cérebro felino, pós-congelamento -- ainda que a descrição do experimento, incluindo a imersão do cérebro numa solução de sangue, lembre muito o romance de terror Donovan's Brain.
Eu imagino se os cadáveres congelados sob os auspícios de Ettinger -- mais de 100 -- não serão úteis para os cientistas do futuro, da mesma forma que os mamutes congelados de hoje são úteis para os nossos cientistas. Talvez nenhum deles venha a ser ressuscitado, mas não é de todo improvável que alguns acabem clonados.
A questão mais profunda, se o esforço todo vale a pena, dados os riscos e as enormes incertezas, possivelmente só tem resposta na consciência de cada um.
Pessoalmente, não sou um dos que acham que a é a morte que "dá sentido" à vida -- a morte é apenas algo com que temos de lidar por força das circunstâncias, como a imortalidade, talvez, venha a ser um dia -- então não faço restrições filosóficas ao processo. Mas, se eu tiver de voltar à vida por meio de alguma tecnologia arbitrariamente avançada do futuro, prefiro ser reconstruído a partir de meus escritos. Que são o que tenho de mais interessante a oferecer, afinal.
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