Einstein e Deus: entre cegos e aleijados
“A ciência sem religião é aleijada, a religião, sem ciência, é cega”. Outra: "não pode, verdadeiramente, haver conflito legítimo entre ciência e religião". As duas são máximas de Albert Einstein, retiradas de um artigo que escreveu em 1941, e recolhido no volume Escritos da Maturidade. Não raro aparecem -- principalmente a primeira -- em discussões sobre, exatamente, os conflitos entre ciência e religião.
Geralmente, são invocadas em um tom de finalidade, para definir a conversa, o subtexto sendo: "Einstein, que era um cientista fodão, dizia isso; e você, palhaço, quem pensa que é?"
Não nego, claro, que o argumento tem algum poder heurístico -- a opinião de grandes cientistas sobre o que entra (ou não) em conflito com a ciência tem lá seu valor. Mas mesmo grandes cientistas podem errar, nesse aspecto: Newton e astrologia logo vêm à lembrança.
No entanto, citações são de muito pouca valia quando retiradas do contexto adequado. A frase de Einstein sobre não haver conflito vem logo seguida de uma qualificação:
"...devo fazer uma ressalva a esta afirmação (...) essa ressalva tem a ver com o conceito de Deus". E, mais adiante, ele prossegue: “a principal fonte dos conflitos atuais entre as esferas da religião e da ciência reside no conceito de um Deus pessoal". E continua:
"Os professores da religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar à fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes".
Isto é: para Eisntein, ciência e religião não entram em conflito se a religião abrir mão da divindade que ouve preces, que castiga os pecadores e recompensa os obedientes.
Claro, ele pode estar errado. Há amplo escopo para discussão. Mas, da próxima vez que alguém invocar a autoridade do grande professor para sentenciar que "a ciência sem religião é aleijada, a religião, sem ciência, é cega", lembre-se de que, se formos manter alguma fidelidade ao sentido original de Einstein, no mundo de hoje o número de cegos supera, em muito, o de aleijados.
Geralmente, são invocadas em um tom de finalidade, para definir a conversa, o subtexto sendo: "Einstein, que era um cientista fodão, dizia isso; e você, palhaço, quem pensa que é?"
Não nego, claro, que o argumento tem algum poder heurístico -- a opinião de grandes cientistas sobre o que entra (ou não) em conflito com a ciência tem lá seu valor. Mas mesmo grandes cientistas podem errar, nesse aspecto: Newton e astrologia logo vêm à lembrança.
No entanto, citações são de muito pouca valia quando retiradas do contexto adequado. A frase de Einstein sobre não haver conflito vem logo seguida de uma qualificação:
"...devo fazer uma ressalva a esta afirmação (...) essa ressalva tem a ver com o conceito de Deus". E, mais adiante, ele prossegue: “a principal fonte dos conflitos atuais entre as esferas da religião e da ciência reside no conceito de um Deus pessoal". E continua:
"Os professores da religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar à fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes".
Isto é: para Eisntein, ciência e religião não entram em conflito se a religião abrir mão da divindade que ouve preces, que castiga os pecadores e recompensa os obedientes.
Claro, ele pode estar errado. Há amplo escopo para discussão. Mas, da próxima vez que alguém invocar a autoridade do grande professor para sentenciar que "a ciência sem religião é aleijada, a religião, sem ciência, é cega", lembre-se de que, se formos manter alguma fidelidade ao sentido original de Einstein, no mundo de hoje o número de cegos supera, em muito, o de aleijados.
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