Faça você mesmo o seu creme facial
Em seu livro Bad Science (que já comentei rapidamente aqui em outra postagem), jornalista e médico inglês Ben Goldacre oferece ao leitor uma espécie de cartilha das formas como o linguajar científico é usado por publicitários, jornalistas, políticos, etc., para empurrar bobagens goela abaixo do público.
Imagino que o livro dificilmente sairá no Brasil -- se não por outro motivo, muitos dos exemplos que Goldacre usa estão intimamente ligados à vida do Reino Unido -- mas o trecho sobre cosméticos é interessante demais para deixar passar (e, além disso, ele dá uma receita de creme facial que você pode fazer na cozinha.)
Para começar: o que um creme facial faz? Ele hidrata. Só. (Óquei, talvez ele perfume um pouco, também). Não importa se você usa hidratante genérico ou a gosma cor de madrepérola em pote dourado, importada de Paris. O único efeito concreto do creme é hidratação.
Goldacre diz que, durante algum tempo anos anos 90, a indústria dos cosméticos imaginou ter realmente encontrado a fórmula do rejuvenescimento: altas concentrações de vitaminas ou ácidos que realmente ajudavam a pele a parecer mais fresca e conservada. "Mas só funcionam em concentrações tão altas, ou em níveis de acidez tão elevados, que os cremes causavam irritação, dor, queimaduras e vermelhidão", escreve ele, acrescentando que, hoje em dia, "esses produtos geralmente só entram no seu creme como talismãs, em concentrações simbólicas".
Outro ingrediente que soa high-tech na propaganda são os peptídeos -- pedaços de proteína; no caso, proteína vegetal. Eles "meio que funcionam", explica Goldacre: formados por cadeias de moléculas menores, os peptídeos se contraem quando o creme seca, em contato com a pele. O efeito disso é repuxar a pele, alisando as rugas, ainda que só por algum tempo. "Trata-se de uma recompensa passageira, mas imediata", reconhece o autor.
E quanto ao efeito principal, a hidratação? Goldacre diz que é possível obter exatamente o mesmo resultado com a seguinte receita caseira:
1. Pegue partes iguais de azeite de oliva, óleo de coco, mel (ou cera de abelha) e água (pode ser água perfumada, se você quiser).
2. Aqueça os ingredientes separadamente, e apenas um pouco.
3. Misture os óleos com o mel (ou cera), mexendo e batendo sem parar; depois, misture a água.
4. Ponha tudo numa jarra e mantenha por três meses na geladeira.
Confesso que não testei a fórmula (com meu nível de talento culinário, há o risco de uma nova forma de vida acabar rastejando para fora da panela), mas ela parece fazer sentido.
"Vaselina faz o trabalho (de hidratar a pele) muito bem", escreve Goldacre. "De fato, muito da pesquisa inicial em cosméticos girava em torno de preservar as propriedades hidratantes da Vaselina e ao mesmo tempo evitar sua oleosidade. Esse desafio técnico foi vencido décadas atrás".
Imagino que o livro dificilmente sairá no Brasil -- se não por outro motivo, muitos dos exemplos que Goldacre usa estão intimamente ligados à vida do Reino Unido -- mas o trecho sobre cosméticos é interessante demais para deixar passar (e, além disso, ele dá uma receita de creme facial que você pode fazer na cozinha.)
Para começar: o que um creme facial faz? Ele hidrata. Só. (Óquei, talvez ele perfume um pouco, também). Não importa se você usa hidratante genérico ou a gosma cor de madrepérola em pote dourado, importada de Paris. O único efeito concreto do creme é hidratação.
Goldacre diz que, durante algum tempo anos anos 90, a indústria dos cosméticos imaginou ter realmente encontrado a fórmula do rejuvenescimento: altas concentrações de vitaminas ou ácidos que realmente ajudavam a pele a parecer mais fresca e conservada. "Mas só funcionam em concentrações tão altas, ou em níveis de acidez tão elevados, que os cremes causavam irritação, dor, queimaduras e vermelhidão", escreve ele, acrescentando que, hoje em dia, "esses produtos geralmente só entram no seu creme como talismãs, em concentrações simbólicas".
Outro ingrediente que soa high-tech na propaganda são os peptídeos -- pedaços de proteína; no caso, proteína vegetal. Eles "meio que funcionam", explica Goldacre: formados por cadeias de moléculas menores, os peptídeos se contraem quando o creme seca, em contato com a pele. O efeito disso é repuxar a pele, alisando as rugas, ainda que só por algum tempo. "Trata-se de uma recompensa passageira, mas imediata", reconhece o autor.
E quanto ao efeito principal, a hidratação? Goldacre diz que é possível obter exatamente o mesmo resultado com a seguinte receita caseira:
1. Pegue partes iguais de azeite de oliva, óleo de coco, mel (ou cera de abelha) e água (pode ser água perfumada, se você quiser).
2. Aqueça os ingredientes separadamente, e apenas um pouco.
3. Misture os óleos com o mel (ou cera), mexendo e batendo sem parar; depois, misture a água.
4. Ponha tudo numa jarra e mantenha por três meses na geladeira.
Confesso que não testei a fórmula (com meu nível de talento culinário, há o risco de uma nova forma de vida acabar rastejando para fora da panela), mas ela parece fazer sentido.
"Vaselina faz o trabalho (de hidratar a pele) muito bem", escreve Goldacre. "De fato, muito da pesquisa inicial em cosméticos girava em torno de preservar as propriedades hidratantes da Vaselina e ao mesmo tempo evitar sua oleosidade. Esse desafio técnico foi vencido décadas atrás".
Muitas receitas de beleza de roça são simples assim. Minhas avós certamente faziam esse tipo de creme de beleza, o segredo da juventude de uma das minhas bisavós era besuntar-se de azeite (ou de abacate batido passado no rosto). Os cremes de cabelo eram feitos de babosa batida (que a indústria cosmética usa o nome científico, aloe vera, pra vender xampu).
ResponderExcluirCremes de beleza tem muito do fator milagre e do fator status, mas nem o mais caro extrato de pérolas mediterrâneas de Paris vai fazer efeito sem habitos de vida saudáveis, cuidados com a pele desde a infância e genética favorável. Mas é claro que a indústria cosmética jamais vai dizer isso...