Química, física e reducionismos
Estamos no Ano Internacional da Química, uma celebração da ciência da matéria e de suas transformações. Embora, do ponto de vista teórico, a química tenha sido "reduzida" à física com as descobertas sobre o elétron e a estrutura do átomo feitas no início do século passado, experimente pedir a um físico para inventar um novo processo de fermentação de cerveja -- se ele topar, tente beber o resultado por sua própria conta e risco.
A relação entre física e química (e depois, entre química e biologia, biologia e medicina, medicina e psicologia, psicologia e sociologia) é um bom exemplo da necessidade de ser bem específico quando se fala em "reduzir" uma coisa à outra. O fato é que existem vários tipos de reducionismo, e tratar todos como se fossem uma coisa só é, bem, reducionista demais.
Comecemos pelo mais filosófico de todos, o reducionismo ontológico. Esta é a ideia de que algumas coisas, em essência, no fundo, como coisas-em-si, de fato se reduzem -- realmente são, se resumem -- a outras. Eu sou um reducionista ontológico: do meu ponto de vista, tudo se reduz a matéria, e a matéria se reduz a partículas e energia. Para o reducionista ontológico materialista, tudo se reduz à física.
Essa perspectiva muitas vezes é atacada em dois terrenos, o do conhecimento (ou "epistemológico") e o moral. O epistemológico é dizer que, se tudo é matéria e toda matéria é feita de partículas, se eu conhecer o estado de todas as partículas no corpo de uma pessoa eu saberei tudo o que há para saber sobre ela. O moral é dizer que se tudo é matéria, eu sou matéria e aquela mesa é matéria, então quebrar o meu braço não é mais errado do que quebrar a perna da mesa.
Mas o reducionismo ontológico não implica reducionismo epistemológico. Não basta saber das partículas, é preciso saber da relação entre elas, e da relação entre as relações, e assim por diante. Num dado momento, a linguagem usada para falar de partículas torna-se inadequada para tratar dos fenômenos que surgem quando se atingem níveis mais complexos de interação.
Das relações emergem conceitos e fenômenos que não estavam presentes nas partículas individuais -- como umidade emerge da interação entre moléculas de água -- e novas ciências e formas de expressão tornam-se necessárias para dar conta desses fenômenos.
Quando as relações nessa nova camada de fenômenos chega a um grau de complexidade suficientemente grande, uma nova camada conceitual e de linguagem é necessária para dar conta disso, e assim por diante.
Do mesmo modo, reducionismo ontológico não implica reducionismo moral. Da mesma forma que propriedades imprevistas -- como umidade ou cor -- emergem das relações entre as partículas, assim também emergem mentes capazes de sentir e de elaborar conceitos como direito e dever.
Eu tenho mente e sinto dor, a mesa, não. Logo, quebrar meu braço é mais errado do que quebrar a perna da mesa.
A relação entre física e química (e depois, entre química e biologia, biologia e medicina, medicina e psicologia, psicologia e sociologia) é um bom exemplo da necessidade de ser bem específico quando se fala em "reduzir" uma coisa à outra. O fato é que existem vários tipos de reducionismo, e tratar todos como se fossem uma coisa só é, bem, reducionista demais.
Comecemos pelo mais filosófico de todos, o reducionismo ontológico. Esta é a ideia de que algumas coisas, em essência, no fundo, como coisas-em-si, de fato se reduzem -- realmente são, se resumem -- a outras. Eu sou um reducionista ontológico: do meu ponto de vista, tudo se reduz a matéria, e a matéria se reduz a partículas e energia. Para o reducionista ontológico materialista, tudo se reduz à física.
Essa perspectiva muitas vezes é atacada em dois terrenos, o do conhecimento (ou "epistemológico") e o moral. O epistemológico é dizer que, se tudo é matéria e toda matéria é feita de partículas, se eu conhecer o estado de todas as partículas no corpo de uma pessoa eu saberei tudo o que há para saber sobre ela. O moral é dizer que se tudo é matéria, eu sou matéria e aquela mesa é matéria, então quebrar o meu braço não é mais errado do que quebrar a perna da mesa.
Mas o reducionismo ontológico não implica reducionismo epistemológico. Não basta saber das partículas, é preciso saber da relação entre elas, e da relação entre as relações, e assim por diante. Num dado momento, a linguagem usada para falar de partículas torna-se inadequada para tratar dos fenômenos que surgem quando se atingem níveis mais complexos de interação.
Das relações emergem conceitos e fenômenos que não estavam presentes nas partículas individuais -- como umidade emerge da interação entre moléculas de água -- e novas ciências e formas de expressão tornam-se necessárias para dar conta desses fenômenos.
Quando as relações nessa nova camada de fenômenos chega a um grau de complexidade suficientemente grande, uma nova camada conceitual e de linguagem é necessária para dar conta disso, e assim por diante.
Do mesmo modo, reducionismo ontológico não implica reducionismo moral. Da mesma forma que propriedades imprevistas -- como umidade ou cor -- emergem das relações entre as partículas, assim também emergem mentes capazes de sentir e de elaborar conceitos como direito e dever.
Eu tenho mente e sinto dor, a mesa, não. Logo, quebrar meu braço é mais errado do que quebrar a perna da mesa.
Oi, Helder! Realmente, não sei como ajudá-lo. Suas questões, embora toquem temas muito amplos, na verdade devem ter respostas específicas dentro da cultura acadêmica da UFRJ.
ResponderExcluirHelder
ResponderExcluira unica solucao e' que voce e seus colegas estudem epistemologia por conta propria, ou busquem disciplinas optativas com esse carater. Porem, o mais importante e' que, quando voces estivrerem trabalhando, demonstrem a importancia desses conhecimentos e insistam para que eles venham a fazer parte dos cursos.
Em geral, nos cursos de Licenciatura nao se perdeu essa perspectiva. Tente por la tambem.
Boa sorte!